Situações desesperadas pedem medidas desesperadas, e esse argumento era um que Carol estava mais do que disposta a usar. Quando o senhor da casa ao lado do sobrado havia lhe passado um novo endereço, que aparentemente pertencia à antiga moradora do local, cujo sobrenome era o mesmo do homem que estava procurando, Carol teve que pensar por poucos segundos antes de jogar a nova rua no GPS do celular. Depois de passar quase uma semana batendo palmas na frente do sobrado de aparência velha e desgastada sem obter nenhum tipo de resposta, ela estava mais do que disposta a se deslocar para o outro lado da cidade, se agarrando no último fio de esperança que lhe restava.
Em sua defesa, ela havia tentado ligar para o novo número que o tal vizinho havia dito, mas obteve o mesmo resultado que no número antigo. Já sem esperança, e ouvindo um relógio imaginário dentro da sua cabeça contando os segundos, Carol entrou no carro e seguiu o caminho indicado pelo seu celular. A cada curva, a cada solavanco da rua, a cada semáforo que ela encontrava no caminho, seu coração parecia acelerar mais e mais. Seu estômago estava embrulhado, e havia um sabor amargo insistente em sua boca, que ela associou com seu nervosismo e seu completo desespero de encontrar quem ela estava procurando.
O novo endereço a levou para um prédio alto com sacadas pequenas e portas duplas de vidro que ocupavam boa parte da fachada cinza. Um portão de ferro impedia que os transeuntes entrassem no prédio, e um pequeno interfone preto preso à parede lateral era o único caminho que Carol tinha para tentar acessar o local. O homem havia lhe dado o nome da rua e o número da residência, mas havia falhado em lhe informar que se tratava de um prédio. Sem o número do apartamento, Carol se viu encarando o interfone por longos minutos enquanto tentava decidir o que fazer.
Atravessar a cidade de novo estava fora de cogitação. Ela tinha que buscar suas filhas na casa da sua irmã em breve, afinal elas tinham uma rotina que envolvia jantar no horário certo e estarem prontas para a cama logo em seguida. Por mais angustiada que ela estivesse atrás de uma esperança para Júlia, Carol também sabia que não podia deixar as duas filhas de lado.
Com a certeza que aquela era sua última esperança, e que situações desesperadas pedem medidas desesperadas, Carol subiu um dedo meio trêmulo para apertar o primeiro botão do interfone.
O barulho alto, agudo e longo, pareceu ecoar dentro da sua cabeça, e seu dedo se recolheu enquanto seus olhos liam o número '101' e depois desciam pelos outros botões. Haviam cerca de 20 apartamentos, e Carol começou a questionar sua decisão assim que ela não obteve resposta alguma do outro lado do aparelho. Ela tentou de novo, e o resultado não foi diferente. Por via das dúvidas, ela tentou mais uma vez, aguardou um momento, então decidiu apertar o próximo.
Dessa vez, uma voz esganiçada pela tecnologia de baixa qualidade respondeu com um breve "oi, quem é?" que fez o coração de Carol disparar e subir pela garganta. O timbre feminino, no entanto, a tranquilizou ao mesmo tempo que a frustrou. Ela estava atrás de alguém chamado Giácomo, afinal de contas.
"Oi," ela respondeu, e teve que limpar a garganta duas vezes para conseguir falar mais. "Estou procurando o Giácomo."
Houve uma pausa longa, antes que a voz respondesse, muito mais seca e impaciente que antes, que não conhecia ninguém com aquele nome. Carol agradeceu a atenção, esperou a pessoa encerrar o contato por aquela linha, respirou fundo, e apertou o próximo botão. Um a um, ela tentou a sorte. Ninguém conhecia nenhum Giácomo no apartamento 303, nem no 404. Não havia ninguém no 505, e o 606 respondeu de cara que não tinha interesse em comprar nada. Quando Carol finalmente apertou o botão do 707, ela já havia escorado a testa na superfície áspera da parede chapiscada com a certeza que aquela era uma tarefa inútil.
"Alô."
Mais uma vez, quem havia respondido ao interfone foi uma mulher. A voz parecia mais suave, mas já não trazia mais a mesma tranquilidade que as outras haviam trazido. Carol estava frustrada demais para se tranquilizar com qualquer coisa. Ela queria ir para casa, queria abraçar suas filhas, mas não sabia como poderia fazer aquilo sem antes ter a certeza que ela havia tentado tudo que podia para ajudar Júlia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Red Thread
FanfictionCaroline Gattaz sempre acreditou no destino e em suas obras imperfeitas, mas ela nunca imaginou se ver vivendo uma dessas histórias. Criando duas filhas sozinhas enquanto fazia malabarismos para dar conta de tudo, ela viu o fio vermelho do destino j...