UM FILHO REGISTRADO

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“Respondeu-lhes: Tomai-me e lançai-me ao mar, e o mar se aquietará, porque eu sei que, por minha causa, vos sobreveio esta grande tempestade.” (Jonas 1.12)

Uau.

É preciso coragem para assumir as responsabilidades dos próprios erros e ainda se dispor a arriscar a própria vida para que outras pessoas não paguem por ele.

E é aqui que eu quero começar a falar do nosso querido profeta.

Jonas foi chamado por Deus na época de Jeroboão II (2 Reis 14.23). Ele não foi um rei muito correto e, certamente, isso não resultou em um bom período para o povo de Israel.

Por certo, Jonas queria fazer algo pela sua nação, mas o profeta não foi enviado ao seu próprio povo e sim a um povo estrangeiro.

Eu posso imaginar Jonas ouvindo Deus dizer que ele iria até Nínive — uma das principais cidades da Assíria, o povo inimigo, os vilões da história, — e os pensamentos do profeta acelerando cada vez mais.

Israel e Assíria estavam constantemente em conflito. Se você foi checar o versículo citado ali em cima, vire a página e você vai ver a Assíria alfinetando Israel.

Era como passar o filme inteiro desejando que o vilão tenha o fim que merece para ver o herói dando mais uma chance a ele no final.

Jonas mal conseguia acreditar. Nínive finalmente teria o devido castigo e Deus escolhe ele, um profeta da nação que eles odiavam, para pregar arrependimento e redenção?

“Beleza, deixa comigo”, disse Jonas, levantando os polegares. “Here we go”.

Então, ele se dispôs, mas para fugir.

Agora, vamos ser sinceros, leitor.

Você acha que Jonas acreditava que estava mesmo se escondendo da Presença de Deus?

Mais adiante vamos ver que ele parecia bastante fã de Salmos. Então, será que ele não havia lido o 139, que diz que não há como se ausentar de Deus? (verso 7).

É exatamente nesse ponto que eu mais me identifico com o profeta.

Sabemos que não podemos fugir de Deus, mas isso não nos impede de resistir a sua Voz.

Há algum tempo atrás, eu subia no ônibus de todos os dias e o meu rosto irradiava por ter um lugar vago bem perto da janela.

Eu me sento, desato os nós do fone de ouvido e coloco minha música favorita bem alta. A trilha sonora do meu trajeto de uma hora entre a minha casa e a universidade.

Fecho os olhos, me preparando para entrar na linha tênue entre dormindo e acordada e então sinto alguém sentar ao meu lado, mas nada pode tirar meu momento de sossego.

Exceto aquele para quem eu entreguei a minha vida.

“Fala com ela”, ele diz, “Eu tenho algo para dizer a essa pessoa.”

Minha alma resiste. Eu estava em perfeita paz no meu lugarzinho, minha música e pretendo continuar quieta.

“Fala com ela.”, ele continua.

“Não, Deus. Me deixa.”

Ensaio uma oração simples para que Ele abençoe quem quer que seja o indivíduo que esteja ao meu lado, mas me deixe fora dessa porque eu não vou falar com alguém que mal conheço.

Mas então eu lembro das orações. Daquelas em que digo a Deus que Ele pode contar comigo. Que Ele pode me usar.

“Eu estarei disponível.”, ou a versão crente-criado-na-igreja, “Eis-me aqui.”

Eu suspiro.

“Tudo bem, Deus... Eu faço isso. Só por Você, ok?”

Eu, você e Jonas podemos resistir por um tempo, mas ainda pertencemos a Ele.

As promessas que fazemos na oração ainda estão de pé. Deus ouve cada uma delas.

É por isso que o incômodo bate. Não é uma cobrança. É um lembrete.

No caso de Jonas, o incômodo foi uma tempestade.

Ele só queria ficar quieto, sem se envolver com o fato de receber uma missão indesejada. Ele dormia. Tentava não pensar no assunto que apertava seu peito cada vez que imaginava o que tinha que fazer.

Ele não queria pregar em Nínive. Ele não queria ver o “vilão” sendo perdoado. E conhecia seu Deus o bastante para saber que era assim que terminaria.

A tempestade continuava. Jonas dormia.

Mas logo que os tripulantes perceberam que algo estava errado, decidiram investigar quem era que estava enfurecendo o dono do mar.

E a sorte caiu sobre Jonas.

“Ah, então é você… Quem é você? De onde você vem? Qual a sua ocupação?”

A casa caiu. Não dá para ficar na caverna, quieto, sem mexer com ninguém e ninguém mexer com você.

Não dá para resistir a voz que faz seu coração arder por almas. Não dá para ignorar seu chamado para exercer o ministério. Não dá para negar a corda de Jesus te puxando para se reconciliar e entregar sua vida a Ele.

É forte. Intenso. É fora do comum.

“Eu sou hebreu e temo ao SENHOR, o Deus do céu, que fez o mar e a terra.”

Você pode fugir. Pode estar tão desanimado a ponto de só querer dormir. Pode resistir. Pode arranjar distrações para não assumir.

Mas o nome dEle está na sua identidade, como um legítimo filho registrado.

Você pertence a Ele.

Mais que um fujão: um devocional sobre JonasOnde histórias criam vida. Descubra agora