15 - Monster

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Narrador – Onisciente


Larry encontrava-se na sala de estar. O homem andava de um lado para o outro enquanto passava uma das mãos no cabelo, estressado.

Dentre as várias possibilidades pensadas por ele, a que pareceu mais efetiva era denunciar o pai de Boris para o FBI, certamente ele seria deportado outra vez para a Rússia, já que estava nos Estados Unidos ilegalmente.

E, dessa forma, se livraria de Boris, e Theo não teria conhecimento de que ele e Paxton planejavam roubar seu dinheiro.

As mãos de Larry tremiam um pouco, a ansiedade estava o tomando, parcialmente. O homem pegou seu celular e discou com um pouco de dificuldade o número da polícia.

"Polícia. Boa tarde." – Uma voz feminina que soava cansada e indisposta atendeu a ligação após dois toques.

"Alô, boa tarde. Eu... eu gostaria de fazer uma denúncia, por favor." – Larry disse, sua voz demonstrava parte do nervosismo que ele sentia.

"Ok. Bem, tente contar de forma clara e resumida, senhor."

"Meu filho tem um amigo, e o pai do garoto trabalha como minerador. Ele é um drogado, irresponsável, e que não tem as mínimas condições de continuar possuindo a guarda de um menor. Além disso, ele está ilegalmente no país." – Larry disse e afastou um pouco o aparelho do ouvido, sua respiração estava pesada.

"Senhor, essas acusações são extremamente sérias. O senhor possuí provas das mesmas? Caso sim, peço que conte de forma clara e resumida. Em seguida, me diga seu nome, registro geral, e, endereço."

"Sim, eu tenho prov-"

"Pai? O que você tá fazendo"  – Theo ficou na frente de Larry. Sua expressão era de surpresa, não conseguia acreditar que seu pai estava fazendo isso com o melhor amigo. Havia escutado tudo enquanto descia as escadas.

"T-Theo, não sabia que você estava em casa, filho." – Disse pensando em como fazer Theo não acreditar que estava realmente fazendo aquilo.

"Senhor? Está na linha, eu preciso que passe as informações." – Disse a policial já esgotada por esperar.

"Sim, só um momento, senhorita" – Larry disse, encarando seu filho que estava sem reação.

"Pai... Eu, eu não estou conseguindo acreditar nisso. Por quê? Por que está fazendo isso com o Boris?" – Theo tentava segurar as lágrimas, sua garganta estava apertada e sentia que estava prestes a chorar.

Como seu pai poderia fazer uma coisa dessas a Boris? Eles se davam tão bem. Theo até tinha ciúmes do amigo. Sempre que Boris passava o dia na casa do menor, Larry praticamente roubava Boris dele. Mas, agora, não conseguia entender o que estava acontecendo.

Por instinto, o corpo do garoto se movimentou em direção ao celular que Larry segurava próximo ao ouvido. As mãos de Theo foram de forma certeira e atingiram o aparelho que cambaleou nas mãos de Larry e caiu na mesa de centro.

Quando Theo se deu conta do que havia feito só lhe restou tempo de erguer as mãos, em defesa.

Larry desferiu um tapa no rosto do filho. O som do atrito entre as mãos robustas e fortes do homem contra o rosto de Theo, reverberaram pela sala de estar.

O garoto ficou atordoado e, por pouco, conseguiu se equilibrar antes de cair. O local onde levou o tapa, adquiriu, imediatamente, uma coloração avermelhada.

Larry percebeu que aplicou muito mais força no golpe do que pretendia.

"Você nunca foi um pai de verdade. Nunca me amou. Nunca amou minha mãe. Nunca se importou com ela. Eu te odeio!" – As palavras saíram da boca de Theo como uma lâmina afiada. Estavam entaladas dentro de si há muito tempo.

O menino se virou sem dar tempo de resposta ao pai, e correu em direção a porta, montou em sua bicicleta e pedalou, sem olhar pra trás, enquanto as lágrimas rolavam pelo seu rosto.

Ele precisava da única pessoa nesse mundo, no qual podia entende-lo e conforta-lo por completo. Precisava de seu melhor amigo. Precisava de Boris. Ali e agora.

Larry apressou-se procurando as chaves de seu carro. Caso não alcançasse Theo seu plano iria por água abaixo. O garoto ainda não sabia de toda a história do roubo. Entretanto, certamente Boris o contaria agora. Precisava evitar que os dois se encontrassem a todo o custo. A denúncia poderia ficar pra outra hora. Parar Theo era o mais urgente.

Depois de finalmente encontrar as chaves o homem entrou no veículo com pressa, deu partida, pisando fundo no acelerador.

O trânsito na avenida principal não estava tão ruim, no fim daquela tarde.

Larry estava muito acima da velocidade permitida pela via. O homem passou direto por um sinal vermelho e não percebeu um caminhão que vinha pela pista ao lado. Os dois veículos colidiram. Foi fatal.

Larry perdeu a vida no mesmo instante. Enquanto o motorista do caminhão ficou gravemente ferido e o carona teve uma fratura no braço esquerdo, além de outros ferimentos (leves) na região posterior da coxa.

No mesmo instante, Theo chegava em frente a casa de Boris. Tocou a campainha ainda tremendo e chorando um pouco.

Sem demora, Boris atendeu a porta.

"T-Theo, cacete, o que aconteceu com o seu rosto?" – Boris disse com os olhos arregalados.

O menor cortou a fala de Boris com o abraço mais emotivo que o mesmo já havia recebido. Ele não sabia nada até então, mas seu coração estava tão aflito pra descobrir o que havia acontecido com o amigo que só conseguiu retribuir o abraço alguns segundos depois.

"Theo, meu deus, quem fez isso com você? O que aconteceu?"

"F-foi meu pai. Eu estava descendo as escadas lá em casa, quando ouvi ele falando com a polícia. Ele, ele tava" – Theo parou, sua respiração estava desregulada, e não conseguia parar de chorar – "Ele tava denunciando seu pai. Contou que ele está no país ilegalmente. Não consigo entender o motivo. Não estou mais reconhecendo meu pai." – Theo terminou de dizer, tentando controlar sua respiração, que ainda estava ofegante.

"M-mas, e isso no seu rosto, ele te bateu?"

"É. Eu derrubei o celular da mão dele e ele me deu um tapa."

Ouvir aquilo fez Boris ficar nervoso. Se Larry estivesse em sua frente não sabia o que seria capaz de fazer.

Ele olhava para Theo e seu coração ficava despedaçado. Não conseguiu proteger quem mais amava no mundo. Sentia-se impotente. Havia falhado como amigo. Havia fracassado. Não podia perdoar Larry e não podia se perdoar.

"Caralho, Theo. Eu nem sei o que fazer. Quer ficar aqui hoje? Não é uma boa ideia você voltar pra casa agora. Dorme aqui, ou, então na casa do Paxton." – Boris disse.

"O celular dele tá desligado, acho que tá no basquete" – Theo disse, enxugando uma última lágrima que ainda escorria.

"Tá. Então fica aqui. Amanhã eu te levo pra casa. Vem, entra."

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Prometo que agora vou voltar a postar com frequência. Espero que vocês gostem dessa e das outras atualizações.

Até mais ❤️

Made For Each Other (boreo)Onde histórias criam vida. Descubra agora