18 - Merry Christmas, Theodore!

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"Se eu fosse um pássaro azul, voaria até você."


Theodore Decker

A semana do Natal havia chegado. Vancouver estava linda com todos os adornos e luzes da época. Me levantei da cama, e pesquei o meu celular, ainda sonolento para ver às horas – por que a primeira coisa que pensamos ao acordar, é olhar o celular? – Pensei e ri.

Não quis acordar Boris, ele estava cansado por conta dos exames de inverno, então decidi sair sozinho. Eu caminhava pelo parque ao lado da sexta avenida, numa manhã parcialmente nublada e fria, enquanto pensava sobre mim, sobre Boris, sobre minha mãe. Há um ano atrás, ainda que me dissessem, eu não acreditaria que minha vida poderia ter, enfim, se acertado.

Nada é perfeito. Talvez eu sempre vá carregar algumas velhas dores e traumas do passado, e talvez nunca consiga superar a morte da minha mãe, mas, apesar disso, me sinto um novo homem – ou um novo menino – um adolescente de 16 anos. Seja como for.

Sobre Boris, ele estava muito feliz, qualquer um podia ver isso. Eu amava acordar todos os dias e vê-lo com os cachos bagunçados, sorrindo pra mim e, em seguida, vinha mais perto e cheirava meu cabelo, dizendo "eu poderia ficar aqui o dia inteiro". Amava poder compartilhar os momentos mais fúteis e simples de cada dia ao seu lado. Desde decidir entre o sabor de refrigerante que compraríamos no almoço de sábado, ou qual de nós dois ganharia a corrida até em casa, após a academia.

Sobre minha tia Caroline, ela nos matriculou na mesma escola, que ficava uns 15 minutos de distância da nossa nova casa. Dormíamos em quarto separados – infelizmente – por mais que não parecesse, Caroline Decker tinha uma ótima condição financeira. Ela lecionava o curso de Letras na faculdade de Vancouver e seu marido era analista de sistemas. Eu não sei dizer, com certeza, se ela realmente me amava, até porque não tivemos muito contato durante quase toda a minha vida, mas ela parecia gostar de mim e do meu namorado. Talvez só fosse um pouco fria. Seu marido era muito legal, e foi muito acolhedor conosco.

Tive minha atenção tomada por uma voz familiar: Theo! Theo! Me espera! Antes que ele pudesse tocar em meu ombro com sua mão direita, tive certeza de que era o meu namorado. Acho que reconheceria sua voz de qualquer distância.

"Bom dia, senhorzinho!" – Ele disse quando ficamos de frente e me agarrou pela cintura – "Posso saber o que está fazendo sozinho no parque essa hora da manhã?" – Me encarou bem nos olhos. Isso não é justo, Boris. Vou ter que te beijar aqui? – Pensei.

"Você sabe muito bem aonde vou, seu otario." – Ele riu com o que eu disse, (e eu também) então o abracei por cima e observei seus lábios – "Não quis te acordar. Sei que essas últimas semanas foram cansativas."

"Foram s" – Antes que Boris pudesse terminar de dizer, o beijei na boca. Acho que ele ficou um pouco surpreso, mas parecia estar se entregando bem mais do que eu – "Você tem sido muito safado ultimamente, Sr. Decker" – Eu ri com isso e desviei meu olhar.

"Vamos comprar o café da manhã logo, minha tia já deve ter acordado." – Virei de costas pro meu namorado.

"Jura? Você é um gênio mesmo." – Disse e bagunçou meu cabelo.

...

Minha tia estava preparando o que iríamos comer na ceia de natal. O cheiro chegou até meu quarto. A semana passou num piscar de olhos e eu estava ansioso pra saber qual era o presente de Boris pra mim. Ele havia começado a trabalhar em um restaurante na terceira avenida às tardes, me disse que não queria ser bancado por mim e por minha tia pra sempre. Eu falei que não achava necessário, mas não podia impedi-lo. Eu não me importava com o dinheiro se estivéssemos juntos. Isso é o que realmente importa. E isso ficou ainda mais claro com o passar dos anos.

Me espreguicei ainda sentado na cama e nem me preocupei em olhar as horas. Queria aproveitar o máximo que pudesse com meu namorado, ele amava o natal.

Tomei um banho pra despertar e fiz um breve alongamento depois disso. Encarei a roupa que usaria a noite, Boris que a escolheu: um suéter vermelho característico da data (havia algumas renas bordadas, algumas folhas de pinheiro, tudo em branco. Era muito bonito), uma calça jeans reta e um tênis adidas branco de cano baixo.

Por enquanto, vesti uma camiseta branca, um short da Nike (o primeiro que encontrei), abri a janela do meu quarto e fiquei encarando alguns milímetros de neve que caíam por toda a cidade, enquanto o vento bagunçava um pouco meu cabelo ainda úmido.

Comecei a pensar na minha mãe. Não pude evitar. Principalmente em datas comemorativas era difícil não me lembrar dela. Será que gostaria de Boris? Do que ele fez por mim? Se pudesse ver o que tem no meu coração, ficaria feliz? Porque eu amava tanto esse garoto, e não era capaz de explicar isso.

Imaginei nós três na mesa da minha antiga casa em Nova Iorque. Eu arrumando a mesa enquanto Boris e minha mãe conversavam sobre como eu sou teimoso e impaciente, e eu os observava com um olhar repressivo – os dois começam a rir, e em seguida, eu também. Não consegui segurar. Droga!

Ah, Boris. Obrigado. Obrigado por me fazer feliz depois de tanto tempo. Por me fazer sentir amado, acolhido, respeitado (e às vezes bem gay por você). Obrigado por ser meu motivo pra seguir em frente. Quero passar o resto dos meus dias ao seu lado. Quero aprender mais sobre você. Quero aprender a ser um namorado cada vez melhor. Quero te fazer feliz. Não sei se vou conseguir te dizer isso em voz alta algum dia – é provável que não – mas vou tentar te mostrar com todos os gestos possíveis, isso sim. Eu te amo.

Voltei dos meus pensamentos quando ouvi a porta do meu quarto ranger. É ele! – Pensei. E antes que eu pudesse dizer ou fazer qualquer coisa, Boris me envolveu com seus braços. Estava quentinho por ter acabado de sair da cama. Ele colocou sua cabeça no vão entre meu pescoço e ombro. Inspirou o meu cabelo que agora devia estar quase seco. Depositou alguns beijos no meu pescoço e, no fim, chegou ao meu ouvido e disse:

– "Feliz natal, Theodore!".



Fim.

Made For Each Other (boreo)Onde histórias criam vida. Descubra agora