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Não precisei visitar outros bairros mais uma vez, não precisei perguntar pra eles se seus primeiros moradores ainda estavam lá, eu sabia a resposta e por mais que eu quisesse que fosse diferente, não era assim que funcionava e eu sabia disso.

Pela primeira vez em semanas eu me vi sozinha, pela primeira vez em semanas eu senti a dor de sua partida ainda que não tivesse acontecido ainda, mas em breve aconteceria, e preciso ser sincera ao dizer que aguardava ansiosa pelo alívio que me percorreria.

Quando você tranca uma casa com alguém preso você a prende, quando você tranca todas as casa do bairro em que mora você prende o vazio e a solidão. Você impede que outras pessoas dividam a vizinhança com você e não é justo que ninguém possa compartilhar da beleza de um lugar com você por nada mais que ego.

Mas o brilho de um primeiro morador pode ser tão intenso que não percebemos que as portas estão trancadas e que todos que vão embora, fazem isso, na verdade porque tudo está trancado. Você não percebe isso até que seja tarde demais e alguém te conte a verdade e ainda assim você é fraco o suficiente para pedir que a pessoa pare de fazer isso e que vá embora, você apenas observa esperando que esse momento chegue.

Soleil Jaune tinha seu próprio jardim, seu próprio bairro, mas estava cansada do que via a seu redor e se mudou temporariamente para Nice Pink, trancou todas as casas e me ajudou no que achei que era replantar e cuidar de tudo de uma forma diferente, mas na verde, Soleil Jaune estava replicando o que viu em outros bairros e trancava tudo para que ninguém pudesse ver que nada do que fazia era criação sua. Uma rosa de Little Blue, um móvel de Purple Rain, e até muitos brotos de Blunch Green, mas a maioria das coisas que trazia era de seu próprio bairro na intenção de transformar tudo no mais familiar possível.

Quando Soleil Jaune foi embora eu já estava acostumada com a ideia e por mais que eu quisesse dizer que não fiquei triste, eu fiquei. Fiquei arrasada, mas aquilo passaria e me deixaria ainda mais forte. A diferença é que tive dias para cair, dias esses que me levantei com o decepção, a raiva e a frustração. Dias esses que precisei sorrir e pedir ajuda a quem mais me causava mal. Dias esses que me questionei de todas as formas e me culpei por mais uma vez ter sido tão ingênua, mas então notei que nada daquilo era culpa minha.

Enquanto me livrava de tudo que Soleil Jaune trouxe percebi que tudo só aconteceu porque ela conheceu Heart Tree e encantou não só a mim como a ela. Aprendi que Heart Tree não deve ficar somente escondida, precisa ficar trancada a ponto que nem mesmo borboletas conhecerem ou poderem alcançar o lugar. Aprendi que ninguém jamais poderia pisar novamente ali se não eu mesma e que alguns lugares realmente não servem para serem habitados e talvez o melhor a se fazer fosse fechar Nice Pink para lares temporário (ou habituais), na verdade, aprendi com Soleil Jaune que as portas não devem ser abertas novamente a ninguém e que neste caso, a solidão deve ser a única a me acompanhar visto que só ela pode me oferecer aquilo que tanto peço.

Alguns segredos devem permanecer como estão; tão bem escondidos que nem mesmo o vento é capaz de descobrir. Uma pena que nos esquecemos que alguns vendavais podem mudar tudo.

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