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Eu não mereço uma terra que jamais irá me devolver ao menos um pouco daquilo que eu dou a ela.


Já faz semanas que eu repito isso pra mim mesma, Little Blue é tão falso quanto o sonho de que Bluch Green nunca me fez mal. Ambos fazem. Acho que é por isso que não consigo e não acho certo me aproximar de nenhum novamente.

Desde aquele dia jurei não passar por isso, mas é incrível como fechamos o olho quando gostamos de algo.

Estar naquele lugar era bom, me fazia bem, então eu sempre queria voltar, e por mais que eu ainda tivesse dúvidas, algo me atraia.

O consultor me levou para mais um tour, disse que eu teria um mês. Caso gostasse, uma parte de Little Blue poderia pertencer a mim. Mas algo me dizia que a venda não era certa. Aquele espaço pertencia a antiga dona, aquela que foi expulsa, mas ainda visitava. Aquela que incendiou a antiga casa - que mais tarde foi destruída por outra visitante.

Mesmo sentindo que aquele terreno nunca seria meu, eu voltava todos os dias para o local vazio e cantava para a terra seca na intenção de, um dia, me deparar com pequenas flores - quase sempre cantava canções de amor, já que um dia elas iriam crescer e precisavam saber sobre a existência dele.

Eu me dedicava ao terreno, mesmo que não fosse meu ainda, mesmo que eu jamais fosse tê-lo.

O que eu não sabia é que o solo agora era infértil, jamais iria florecer algo, a menos que eu reformasse o local todo.

Eu não tinha dinheiro pra isso, a antiga dona sim.

Passei a deixar pedaços de mim a cada vez que eu voltava, pedaços minúculos, mas que garantiriam que pelo menos um pouco daquela terra que um dia pensei que seria minha, se lembrassem de quem eu fui.


Enquanto eu me esforçava tanto, moradores do centro zombavam de mim, eles sabiam a verdade. Como eu era a única forma de entretenimento deles, os mesmos preferiaram guardar esse segredo, deixando apenas vestígios através de suas atitudes.

Agora iniciaria a busca pelo tesouro: a verdade.

Iria deixar aquele lugar em breve, não sabia quando, mas sabia que aconteceria.


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