"𝕴𝖋 𝖘𝖔𝖒𝖊𝖙𝖎𝖒𝖊𝖘 𝖉𝖗𝖊𝖆𝖒𝖘 𝖈𝖔𝖒𝖊 𝖙𝖗𝖚𝖊, 𝖜𝖍𝖆𝖙 𝖔𝖋 𝖔𝖚𝖗 𝖓𝖎𝖌𝖍𝖙𝖒𝖆𝖗𝖊𝖘?"

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Elle.

Encarava a minha frente minha irmã. Não mais a garotinha que era quando eu morri, mas uma mulher crescida. Seus olhos eram da cor de ébano, seus cabelos alisados desciam até a altura de seus quadris e embora eu almejava tocá-la algo me impedia. Algo não estava certo.

Elle me encarava com olhos inchados e lágrimas rolando enquanto ela me encarava da borda de um precipício. Qualquer movimento que eu fazia à aproximava cada vez mais de uma queda longa que lhe causaria a morte.

- Elle. - Minha voz soava distante, como se estivesse falando dentro de um quarto oco. O vento frio balançava meus cabelos. Uma tempestade se aproximava e o mundo parecia se tornar cinza conforme as ondas rebeldes se chocavam com o morro onde estávamos. - Elle, por favor não se mova.

Havia medo genuíno em minhas palavras. Eu não sabia mais distinguir o que era verdade ou fruto da minha imaginação.

- Se afaste, demônio! - Ela gritou se aproximando mais do que seria sua morte certa. O som de pedrinhas caindo pelo movimento de seu sapato fez minha respiração falhar.

Eu já havia chamada de demônio antes e de nomes muito piores, mas ouvir a palavra da boca de minha irmã doeu mais do eu que gostaria de admitir.

- Acalme-se. - Peço fazendo movimentos leves. Talvez eu pudesse correr ao seu alcance e nos levar a um lugar seguro. - Elle, sou eu, sua irmã, Lilian, lembra? - Conforme falava me aproximava com cautela. Um passo de cada vez.

- Minha irmã morreu quando era pequena, você é apenas um demônio usando sua pele. - Ela praticamente cuspiu as palavras, teria sido menos indolor se tivesse cravado uma adaga em meu peito. - Revelare te.

Assim que as palavras saíram de sua boca eu senti meus caninos se alongarem e minha visão arder. Tudo parecia ter adquirido tons de vermelho e meus sentidos foram invadidos pelo cheiro do sangue pulsante nas veias de minha irmã. Eu queria e me odiava em fantasiar morder seu pescoço.

- Vampire... - Sua voz soou distante, trêmula.

Não! Ela não deveria me ver desse jeito. O medo em seus olhos era a última coisa que eu queria ver e partiu meu coração.

- Elle, por favor. - Eu supliquei enquanto lágrimas de sangue escorriam de meus olhos. - Sou eu, por favor.

Eu me aproximava de seu alcance, imaginando envolvê-la em meus braços e dizer que aquilo não era eu, que era apenas um pesadelo.

- Se afaste, daemonium. - Sua mãos estavam em frente ao seu corpo enquanto minha irmã tentava se afastar de mim.

- Por favor, eu só quero poder te abraçar. - Digo entre as lágrimas. - Você não faz ideia do quando eu senti sua falta, quantas vezes me amaldiçoei pelo que me tornei. - Agora era hora de minha voz rachar. Eu tremia, Elle estava tão longe, mas tão perto.

- Eu já disse. SE AFASTE!

Meus piores medo haviam se realizado. Minha culpa, minha culpa. Elle deu um passo maior do que deveria. Seus gritos ecoaram conforme seu corpo ia de encontro ao mar violento. Eu corri para alcança-la e pela primeira vez de nada adiantou ter uma velocidade aprimorada quando eu não consegui salvar a única pessoa que me mantinha ao que sobrou de minha humanidade.

Eu não conseguia pensar. Devo ter gritado. Com certeza gritei. Eu encarei as ondas baterem contra as rochas tentando achar o corpo de Elle, mas o mar era impiedoso. Não haviam traços de minha irmã na encosta rochosa. Não havia nada além do cheiro de rosas que sempre lhe acompanhavam se dissolvendo no vento enquanto seus restos agora se tornavam comida de peixe.

BłȺȼꝁ Sħɇɇᵽ - CrepúsculoOnde histórias criam vida. Descubra agora