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Haviam se passado dois dias desde o ocorrido na cozinha, desde então eu e Maraisa não conversávamos nada além do necessário e Luísa estava dormindo em casa todos esses dias. Eu queria evitar Maraisa ao máximo, não era certo isso com meu pai e eu não me perdoaria se isso acontecesse de novo, mas Luísa dizia todos os dias que eu deveria conversar com Maraisa para entender o que aconteceu naquele dia, pois ela ainda achava muito estranho.

Porém, eu preferia evitar de todas as formas essa conversa, porque eu tinha medo do rumo que ela poderia tomar, mas eu sabia que uma hora ou outra teríamos que conversar, meu pai logo chegaria e seria perceptível que o clima entre nós estava diferente.

Luísa estava indo embora hoje, ela voltaria no dia seguinte, talvez, porque a mãe dela precisava dela lá, perece que alguns parentes dela iriam chegar.

Decemos as escadas abraçadas e rindo de uma besteira que Luísa havia acabado de falar, Maraisa estava deitada no sofá assistindo série ou filme que eu não me dei ao trabalho de descobrir qual era.

--Juízo, hein, senhorita Mendonça.- Ela beijou minha bochecha-- Tchau, Maraisa!

--Tchau, Luísa!- Maraisa disse sorrindo e nos olhando, mas logo voltou a atenção para a televisão.

--Se cuida- Eu disse e Luísa saiu. Fechei a porta e quase corri em direção a escada, mas mais uma vez, Maraisa Pereira me fez parar.

--Marília, precisamos conversar.

Virei-me para ela e minha voz saiu desanimada.

--Precisamos?

--Sim, Marília. Nós precisamos.- Ela disse extremamente séria, sentando no sofá.

Respirei fundo contando até dez e fui até o sofá, sentando-me de frente para ela, que estava com as pernas tipo indiozinho.

--Oque você quer falar?- Eu disse assim que sentei.

--O que nós fizemos, Marília?

--Traímos meu pai. Quase transamos. Eu te chupei, você me chupou.- Eu disse, suspirando.

--Por que fizemos isso?

--Porque você pediu. Você pediu para que eu te beijasse.

Ela arregalou os olhos. Não era exatamente essa a pergunta dela e nem exatamente a resposta que ela queria ouvir, mas não deixava de ser verdade.

--Não sei oque estava passando na minha cabeça. Realmente não sei- Ela suspirou com os olhos marejados-- É só que... Depois que você tentou me beijar, eu fiquei meio intrigada.

--E então pediu para que eu te beijasse?- perguntei, confusa.

--Não sei porque fiz isso. Talvez fosse só curiosidade. Até mesmo pelo modo como você me olhou aquele dia no provador.

Arregalei os olhos. Merda, ela havia percebido.

--Como assim o modo que eu te olhei?- Perguntei, fazendo-me de desentendida.

--Marília, você quase me comeu com os olhos. Ficou encarando meus peitos e minha bunda descaradamente, mordia os lábios o tempo todo e estava completamente aérea.

--Então você fez de propósito?- perguntei, indignada.

--Claro que não, Marília!- Ela me olhou assustada.  --Você é a filha do meu namorado, eu jamais imaginei que você me veria com outros olhos, eu só queria ter uma relação amigável com você. Por isso pedi sua ajuda. Eu não tinha nenhuma segunda intenção com você e ainda não tenho, eu só não sei o que deu em mim.

--Isso não pode se repetir.

--Não pode e não vai!- Ela deu ênfase nos "não".

--Meu pai logo chega e não podemos deixar transparecer esse clima tenso.

--Se depender de mim, ele não perceberá.

--Eu também.

--Então estamos de acordo que nada aconteceu, certo?

--Certo.- Ela estendeu a mão e eu apertei.

Isso. Que nem deveria ter começado. Acaba aqui.

***

Eu estava assistindo OITNB enquanto comia uma barra de chocolate, mas não conseguia me concentrar em absolutamente nada, a única coisa que conseguia pensar era na merda que eu havia feito.

Se um dia meu pai descobrisse a merda que aconteceu naquela cozinha, ele com certeza não me perdoaria nunca. Com razão. Eu realmente esperava que esse terrível erro ficasse no passado, bem escondido e esquecido.

A campainha tocou, e eu me levantei indo em direção a porta. Eu não esperava ninguém e sabia que não tinha como ser Luísa, pois os parentes dela iriam chegar no dia seguinte, então ela não viria para cá e já era quase nove da noite.

Quando finalmente abri a porta, minhas pernas perderam a força e eu quase cai, piscando várias vezes para ter certeza que aquilo não era uma miragem.

--Não acredito que você está aqui!- Eu disse com os olhos marejados.

--Eu voltei, meu amor- Aquela voz que eu tanto amava, me fez perceber que aquilo realmente não era um sonho e minha Lauana estava ali, incrivelmente linda em minha frente.

Eu a puxei para um abraço apertado. Apesar dos anos sem a ver, seu perfume continuava o mesmo, cheiro que eu amava, aliás.

--Que saudade eu estava de você, meu amor.- Eu disse, completamente sorridente.

Lauana Prado era a única garota que eu realmente havia gostado, nós não chegamos a namorar, mas tínhamos um relacionamento sério, só não queríamos colocar um rótulo nele. Mas nos gostávamos muito, meu pai  também adorava ela. Todos adoravam, na verdade, ela era a pessoa mais amorosa e meiga do mundo.

Na época, estávamos a mais de um ano juntas, eu tinha 15 e ela 14 quando seus pais se mudaram. Mas uma vez. por causa do trabalho do seu pai. Ela nunca parava numa cidade só, de tempos em tempos eles eram obrigados a se mudar e esse também foi um dos motivos que fez com que nós não colocássemos um rótulo em nosso relacionamento.

Nós nos amávamos e isso bastava.

Desde então, nunca mais tivemos contato. Nós achamos melhor assim, estávamos machucadas demais e talvez se tivéssemos mantido contato, hoje ela não estaria na minha frente.

Eu não a esqueci nesses quase quatro anos, mas também não parei minha vida por isso, e sei que ela também não.

E, agora ela estava parada em minha porta e se ela estivesse realmente de volta, eu não a deixaria ir novamente depois. Lauana seria minha, como sempre foi.

--Eu não vou mais embora, Mali- Ela disse chorando.--Eu voltei, e não vou desgruda mais de você.

--Não deixarei você ir outra vez, minha linda.- Eu disse sorridente.

Minha Querida Madrasta Onde histórias criam vida. Descubra agora