I don't believe in true love, but I believe in you - Emisue

Capítulo 2

    Fazem horas que eu estou aqui, largada nesse sótão, escrevendo, compondo e ouvindo músicas que eu só escuto quando estou depressiva. Não que eu esteja no momento, mas estou aproveitando essa vibe...ou pelo menos aproveitando o pouco tempo que ainda tenho sozinha. Mas infelizmente sou interrompida bem no meio de um verso importante e crucial para a jogada de palavras. Obviamente não fico feliz com isso, mas finjo não escutar o chamado de uma voz desconhecida até certo momento, apenas para terminar meu trabalho.

    Acabando de escrever, me levanto e, contra a minha vontade, desço as escadas imaginando que fosse alguém conhecido. E estava certa, era meu tio. 

— Emily, está tarde, acho melhor você voltar para sua casa... — Diz com uma feição preocupada. Ele tinha razão, como sempre, mas dessa vez tinha algo diferente.

— Claro, tio! Desculpa por ocupar seu espaço e tempo de novo. 

— Sem problemas, Emi! —  Diz sorridente. —  Mas antes de você ir, pode me ajudar a carregar as cadeiras lá pra cima?

— Claro! Sem problemas.

Ele aponta o caminho, que eu já conheço bem, e nós subimos, mas como eu já havia previsto, tinha algo diferente.

— Emily, quer que eu te leve em casa? — Meu tio diz deixando a última cadeira e olhando fixamente para mim.

— Tio, você está me preocupando, aconteceu alguma coisa?

— Na verdade, aconteceu sim...Sabe o Sam? Ele passou aqui de novo e disse que dessa vez, ele só saia daqui se ele pudesse conversar com você...Mas você sabe que eu não confio nele.

— Muito menos eu, tio. Mas obrigada por avisar, vou tomar cuidado. Vou pegar um táxi.

— Emi, melhor não. Tem uma atendente aqui que pode te levar de carro e eu não sei se ele ainda está aqui nas redondezas...

    Ok, meu tio tinha razão, mas sair com uma estranha não parece muito seguro mesmo assim.

— Ela é de confiança, Emi. Eu te prometo. — Se meu tio prometeu algo é porque é muito sério. Esse homem jamais usa sua palavra sem cumpri-la.

    Então, sem opção, eu decido aceitar a ajuda de meu tio. Ele desce e eu desço logo em seguida. Sua voz em tom elevado chama o nome da atendente, Susan, um bonito nome. A garota se aproxima e posso dizer que é tão bonita quanto o nome. 

— Olá! —  Diz confiante.

Gosto de pessoas confiantes.

— Oi, me chamo Emily. —  Me apresentei com um sorriso de canto.

— Ah, sim, todos nós sabemos quem é, senhorita Dickinson. — Diz obviamente me agradar mas percebe que não consegue e seu sorriso some.

— Emily não gosta muito de ser chamada pelo sobrenome de seu pai.

    Agora parece que eu sou extremamente mimada.

— Credo, eu não sou assim também, tio. Prefiro que me chamem de Emily ou Emi mesmo... Digamos que minha relação com meu pai é um pouco perturbada.

— Mil desculpas... —  O silêncio prevalece e percebo que meu tio saiu do local e foi para a cozinha.

— Bom...vamos? —  Pergunta.

— Claro — Sorrio. — Ah e obrigada pela carona.

— De nada — Retribui o sorriso. E que sorriso...Sinto minha pele arrepiar por completo.

    Vamos até a garagem, que fica após a saída dos fundos do bar e dali grito um tchau para meu tio, que retribui o ato e manda eu ter juízo...Velhos costumes nunca morrem. Entramos no carro, me sento no banco da frente após Susan insistir um pouco e assim, ela dá partida em rumo ao endereço que eu passei. Que, consequentemente, não é minha casa e eu tenho consciência disso.

    A música que ressoava pelo carro não era a mais propícia para o momento. Parecia que estávamos em uma boate mas Susan parecia não se importar. Os trechos ressoavam em volume médio, o que é interrompido por Susan, que logo aumenta o volume.

"Cause girl, you're perfect (girl, you're perfect)"

"You're always worth it (you're always worth it)"

"And you deserve it (and you deserve it)"

"The way you work it (the way you work it)"

"Porque garota, você é perfeita (garota, você é perfeita)""Você sempre vale a pena (você sempre vale a pena)""E você merece (e você merece)""A maneira como você trabalha (a maneira como você trabalha)"