Um ser humano vive em média 79 anos. Mas a verdade é que, segundo minha professora de geografia que no dia estava muito ocupada em ler as linhas das mãos dos alunos e dizer quanto tempo de vida eles ainda tinham. Mas depois que um garoto ficou assustado em saber que só teria a próxima semana, ela explicou que não era para levarmos a sério, disse que "Vocês ainda tem provavelmente mais 60 anos pela frente".
"Provávelmente"
Naquela hora eu sabia que não tinha muito a aproveitar. Me pergunto se passo dos trinta com o sono totalmente desregulado. E como se a professora lê-se meus pensamentos, ela completou dizendo que passamos vinte quatro anos dormindo e outros sete tentando dormir, além de treze anos trabalhando. Depois disso, teríamos oito anos pra fazer o que quisermos.
Afinal eu não consegui fazer muita coisa em dezessete anos, imagine em oito.
Fala sério, você nasce sem saber de nada e te ensinam como falar, comer e andar. O que pode ou não pode fazer. E na escola você precisa ter uma determinada nota pra ser bom o suficiente, e te ensinam a competir com os outros pra ser bem sucedido. É louco pensar que derrepente você junta tudo que nem se lembra de ter aprendido pra conseguir tudo isso. O que minha professora falou é que você perde 71 anos da sua vida, simplesmente perdendo tempo. Não foi exatamente isso, mas foi o que ela quis dizer.
E quando você completa 21 anos você tem que escolher o que quer fazer pro resto da vida. Será que de alguma forma alguém por aí decidiu realmente que queria estar aonde estar agora? De verdade, ele traçou todas as rotas sozinho?
É impossível porque não aprendemos nada sozinhos. Desde o momento que você nasce, todos te ensinam o que fazer. Eu não sei se estou seguindo meu roteiro, não sei se escraveram um roteiro pra mim.
Desde que beijei a Sana, eu acho que ultrapassei os limites da folha.
Eu torço muito pra o que aconteceu com Ian Curtis e Paul Butterfield não foi porque eles tentaram não seguir o roteiro. Não quero me afogar em mágoas, drogada e em uma banheira só porque eu tive a brilhante ideia de não ir conforme a vida preparou pra mim.
E sinceramente, eu espero que seja algo muito bom. Tipo, MUITO bom. Realmente MUITO bom. Algo que compense a maneira que eu tô tentando andar nas linhas, quero justificar o motivo de eu tentar ser suficiente.
- "E aqueles que duvidam de mim vão se ferrar. Porque provavelmente não vou nem tentar"
- É o meu diário? - Perguntei logo depois que a putinha me fez levantar as costas da cama.
E eu estava sonolenta demais pra impedir que Nayeon terminasse de ler a folha rasgada daquilo que eu chamava de "caderno de anotações insignificantes que escrevo entediada e não devem ser levadas a sério meia hora depois porque sou alguém totalmente diferente." Não era bem um diário, e sim a parte do caderno que eu não usava porque não tinham mais matérias pra colocar alí. Folhas brancas me davam uma sensação de algo inacabado. Então...mesmo que eu parecesse meio espantada e com nítido ódio daquele sorriso cínico da minha irmã, jurando que era hoje que estaria contado os dias pra ser presa conforme minhas ações assim que eu levantasse. Eu respirei fundo, e dei o tapa mais carinhoso que pude no meio daquela testa dela, fez um estalo. A cabeça da Nayeon faz eco por dentro.
- Você pegou uma foto do cara daquela banda que você gosta e colou aí? Isso é o cúmulo da esquisitisse. - Disse a putinha.
- Não é dele. - Respondi revirando as páginas, e nenhuma rasgada pra ela usar contra mim. Ponto meu - É um caderno de coisas feias.
- Então de quem é?
- É sua.
Nayeon jogou meu caderno pela janela.
VOCÊ ESTÁ LENDO
what happened that summer of 88? - satzu
RomanceA amizade de Chou Tzuyu, e Minatozaki Sana, a recém chegada dos Estados Unidos com os pais hippies, é a base de coisas não legalmente "permitidas", tudo no quarto dos fundos da loja de discos. Em uma Coréia conservadora, de 1988. ©® Caso queiram com...