Sohee

3 0 0
                                    

Me tornar confidente de Kim Seokwoo não esteve nem por um momento em meus planos, porém, desde o dia em que começamos a conversar sobre nossas paixões ficou clara a conexão que tinha surgido entre nós. Ele me compreendia e vice versa. Ficamos tão próximos que até mesmo as pessoas da escola perceberam. Disso surgiram diversas histórias que tentavam explicar a nossa aproximação repentina. Afinal, Seokwoo era a pessoa mais popular da nossa turma e eu, o seu completo oposto. Mas nenhuma história maluca que inventavam me chateava.

Na quinta-feira chamei-o para vir em casa, já que no dia seguinte teríamos de apresentar o trabalho sobre Atos Humanos diante de toda a turma. Voltamos da escola juntos e quando chegamos em casa fiquei grata por Seokwoo não ter feito nenhum comentário se referindo aos meus pais. Dessa parte da minha vida ele não precisava saber.

- Podemos começar com o seguinte trecho: - abri o livro na página marcada - "Após perdermos vocês, nossos tempos tornaram-se noite. Nossas casas e ruas tornaram-se noite. Dentro da noite que não escurece mais, nem clareia novamente nós comemos, andamos, dormimos.” - terminei de ler e olhei para ele que estava sentado em minha cama. - Depois começamos a explicar sobre a referência que o livro faz sobre a revolta de Gwangju.

- Acho uma boa ideia. Fiz umas anotações em relação as datas corretas também, podemos incluir isso durante a apresentação.

- Sim. Espera, que irei anotar isso.

Busquei uma caneta em minha mochila e escrevi rapidamente sobre como seria a estrutura do seminário em meu caderno. Ao voltar minha atenção para Seokwoo, percebi que ele estava com o rosto voltado para a janela, fixando os olhos na casa vizinha.

Ele imergiu mais uma vez em seus pensamentos sobre a senhorita Chae  Seokwoo havia trocado a parte de cima do uniforme por uma camisa de algodão azul clara e sua expressão era vaga.

Estava sentada em minha escrivaninha, peguei meu celular para olhar as redes sociais do professor Namjoon. Ele adorava compartilhar fotos de exposições dos museus que visitava. Me atentei para a publicação mais recente. Uma foto em preto e branco do senhor Kim e da namorada. Na legenda dizia: "Serei a flor do inverno, a estrela dançante. Estarei do seu lado."

Tinha esperanças de que um dia o professor Namjoon fosse me notar, mas aquilo seria impossível. Engoli em seco. Para mim o senhor Kim era meu tudo, mas eu não passava de uma mera aluna dentre suas turmas.

Larguei o celular na mesa, esfregando o rosto. Levantei-me da cadeira seguindo para o banheiro antes que alguma lágrima rolasse. Lavei o rosto e quando retornei ao quarto, percebi que Seokwoo tinha levantado de minha cama e estava de costas para janela, seus olhos estavam fechados com força, como se quisesse apagar algo de sua memória. Eu sabia bem o que era. A senhorita Chae e o namorado estavam no  quarto, que coincidentemente era de frente com a janela do meu. Esqueciam-se constantemente de fechar as cortinas.

Sem pensar muito avancei três passos e abracei Seokwoo envolvendo meus braços ao redor de sua cintura. Comecei a chorar por mim e por ele. Aquilo tudo era tão cruel conosco que às vezes sufocava.

- Sinto muito que tenhamos de nos sentir assim - murmurei molhando sua camisa.

Seokwoo envolveu-me em um abraço também e encostou o queixo no topo de minha cabeça. Ficamos assim por mais alguns segundos até que ele se afastou somente o suficiente para olhar meu rosto. Percebi que encarava meus lábios então encarei a boca dele também. Estávamos tão próximos que nossas respirações misturavam-se.

- Você já pensou em desistir?

- Não, não quero desistir do que sinto por ele - respondi fechando os olhos ainda com a foto da postagem em mente.

- Então, por que não finge que sou o professor Namjoon?!

Estranhei no início mas fiz o que ele me sugeriu. İmaginei que os braços ao meu redor eram do senhor Kim e quando os lábios de Seokwoo encostaram levemente nos meus eu me senti eufórica por um momento, achando que realmente estava sendo beijada por Namjoon.

Nossos lábios se afastaram e nos entreolhamos.

- Desculpa, é que a sua boca me lembrou a boca de Soobin-ah - Seokwoo me soltou e olhou para o chão, receoso.

- Tudo bem - engoli em seco - Quando você me disse para fingir que era o professor Namjoon... eu o imaginei em minha mente - respondi e ele me encarou por uma pequena fração de tempo - Acho que poderíamos fazer isso, se quiser.

Seokwoo assentiu com a cabeça e sentou-se em minha cama. Segui até ele e coloquei minhas duas mãos ao redor de seu rosto. Era estranho ficar olhando para ele, então fechei os olhos e imediatamente a figura de Namjoon estava ali. Nossos lábios voltaram a se encontrar. Ele me sentou em seu colo e uma de suas mãos pousou atrás de minha nuca. Senti sua língua umedecer meus lábios uma, duas, três vezes e então ofereci passagem. Aquilo era muito, MUİTO bom. Nossas línguas dançavam em um ritmo enquanto nossas mãos acariciavam o rosto um do outro. Selamos nossas bocas mais uma vez finalizando o beijo e então nos encaramos sem saber o que dizer.

Levantei-me de seu colo um pouco envergonhada, porém, quebrei o silêncio:

- Foi o meu primeiro beijo. - disse distraída.

- E foi bom? - Seokwoo perguntou.

Afirmei com um gesto e trocamos um sorriso triste um para o outro. Não foi preciso conversar mais nada sobre aquilo, assim como eu havia imaginado Kim Namjoon me tocando, eu tinha certeza que Seokwoo também havia feito o mesmo pensando na professora Soobin no meu lugar.

Peguei o livro em cima de minha escrivaninha e voltei a folhear suas páginas. Seokwoo pegou seu caderno na mochila e começou a anotar mais alguns tópicos para a apresentação.

Depois que ele foi embora e quando eu já estava deitada, embrulhada no edredom, continuei sentindo a pressão dos lábios dele nos meus. Contudo, o frio na barriga só aparecia quando eu pensava que aquela boca pertencia ao senhor Kim.

SUBSTITUTE | RowoonOnde histórias criam vida. Descubra agora