Sohee

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Eu sabia que meu amor não era correspondido e talvez nunca viesse a ser, ainda asssim, doeu ver o professor Namjoon com outra pessoa. Uma confusão de sentimentos se alastrou por mim no momento em que vi ele e sua namorada no estacionamento.

Seokwoo e eu estávamos voltando para sala depois do intervalo quando ouvi a voz do senhor Kim ao longe. Deduzi que ele já estaria indo embora, uma vez que não tinha mais turmas para lecionar naquele dia. Eu sabia todo o cronograma de aula dele.

Continuei andando pelo que restava do corredor ignorando tudo ao meu redor e me vi diante do janelão que tinha vista para o estacionamento. Ele estava ali, e a mulher fazia tudo o que um dia eu sonhara. Primeiro, o abraçou assim que se aproximaram, acariciou-lhe o rosto e depois selaram seus lábios.

Eu não percebi que havia prendido a respiração até que minhas pernas perderam a força para me sustentar e caí ao chão, só então, notei que Seokwoo tinha me seguido. Meu peito doía muito e eu não queria que ele me visse assim. Mandei-o ir embora mas ele não foi.

Seokwoo sentou-se ao meu lado e ficou em silêncio enquanto eu soluçava timidamente. Naquela parte do corredor não havia sala alguma, mesmo assim, eu não queria chamar atenção.

Ficamos ali por mais alguns minutos quando ouvimos um assobio se aproximar, era o monitor em uma de suas rondas. Eu não tive tempo para reagir, foi Seokwoo que pegou meu pulso e me conduziu rapidamente para o estacionamento. Nos escondemos atrás do que me pareceu ser o carro da senhora Min, não tinha certeza, pois minha vista estava quase toda nublada.

Olhei Seokwoo de esguelha. Ele estava conferindo o monitor ao longe, assim que o homem se foi retornando pelo mesmo corredor de antes, o garoto voltou-se para mim.

- É melhor voltarmos para sala.

- Eu não quero - balancei a cabeça tola - Você não deveria ter me seguido - gaguejei.

Seokwoo afastou uma mecha de meu cabelo do rosto molhado e levantou meu queixo com seu indicador.

- Vai por mim, eu sei como você se sente.

Não entendi suas palavras. Mas me deixei ser guiada por ele novamente. Dessa vez, ele agarrou minha mão e me esperou lavar o rosto no banheiro feminino. Voltamos para a sala e eu não pude deixar de notar os olhares enciumados de algumas meninas da turma. O senhor Barnes, professor de Inglês perguntou sobre nossa ausência, a qual, Seokwoo respondeu que estava me acompanhando na enfermaria, pois eu havia passado mal no intervalo.

Eu estava deprimida, não consegui me concentrar no restante da aula e quando levantei o olhar para o outro lado da sala, percebi Seokwoo me olhando com uma expressão de pena. Minha tristeza deu lugar a raiva, eu não precisava da compaixão dele, nem que ele me tratasse como uma pobrezinha de coração partido. Foi por isso que nos dias que se seguiram, mal nos falamos. Devolvi o livro depois de lê-lo em uma madrugada e disse a ele para começarmos a escrever na segunda-feira depois da aula, na biblioteca.

Contudo, encontrei-o antes disso. Era sábado e eu estava tirando o lixo para fora de casa quando o vi carregando uma caixa de papelão cheia de coisas e levando-a para dentro da morada vizinha.

O carro da senhorita Chae estava estacionado bem em frente da casa,  constatei que enfim, era o dia de sua mudança. Esvaziaram rapidamente o porta malas finalizando a tarefa. Observei Seokwoo sorrir para a senhorita Chae, em seguida, deu-lhe um beijo no topo da cabeça, despendindo-se. Estranhei, afinal, não sabia que eram próximos o suficiente para um gesto como aquele. O rapaz se virou e foi aí que me avistou.

- Sohee-ssi, o que faz aqui? - caminhou em minha direção.

- Eu moro aqui - apontei para a casa atrás de mim - Legal de sua parte ajudar a professora com a mudança. Finalmente, ela se mudou oficialmente.

- Oficialmente? - ele arqueou uma das sobrancelhas.

- Sim, oficialmente porque enfim trouxe suas coisas. A senhorita Chae praticamente já mora na casa do namorado mesmo. - dei de ombros e observei a mulher guardar o carro na garagem.

- Namorado?

Olhei para seu rosto, ele estava surpreso.

- Sim, namorado. Ele trabalha no aeroporto de Incheon.

- Eu... eu não sabia que ela tinha namorado - engoliu em seco e abriu um sorriso amarelo encarando o chão.

"Vai por mim, eu sei como você se sente."
Foi aí que suas palavras finalmente fizeram sentindo para mim.

- Quer entrar? - ofereci, agora era eu quem o encarava com uma expressão de pena.

Enquanto entrávamos em casa, me perguntei qual a probabilidade daquilo. Eu e o garoto mais popular da classe termos algo em comum.

- Onde estão seus pais? - ele me perguntou e eu segui para a cozinha.

- No trabalho.

- Mas hoje é sábado, os dois estão trabalhando?

Não respondi. Peguei a chaleira do armário velho e a enchi com água. Seria bom tomar um chá. Pensei também em fazer cookies para acompanhar. Eu adorava as gotinhas de chocolate.

Seokwoo mudou de assunto depois que o silêncio pesou um pouco mais:

- Já que eu estou aqui porque a gente não finaliza logo esse trabalho?

- É uma ótima ideia. - me voltei para ele que estava com uma expressão séria que eu nunca vira.

Assim que o chá de ginseng ficou pronto, guiei Seokwoo até o meu quarto e nos sentamos no chão ao pé de minha cama.

O livro Atos Humanos estava nas mãos dele mas Seokwoo continuava encarando o nada e eu não quis interromper a linha de seus pensamentos. Porém, foi sua voz grave que soou:

- Ela era a minha babá quando eu era mais novo. Cuidava de mim e da minha irmã quando nossos pais tinham um jantar ou reunião importante.

Eu não sabia o que responder então mantive-me calada asssim como ele fizera comigo da outra vez, entretanto, ao contrário de mim, Seokwoo não estava aos prantos como eu estava.

SUBSTITUTE | RowoonOnde histórias criam vida. Descubra agora