SUBSTITUTE | Rowoon

Seokwoo

Sohee e eu nos beijamos, mas em minha cabeça eram os lábios de Soobin noona que eu havia trazido para mais perto de mim. Mesmo depois de ter ido embora de sua casa, a sensação do que tínhamos experimentado não saía da minha mente, até mesmo em meus sonhos aquele momento se repetiu.

No dia seguinte, fomos a terceira e última equipe do dia a apresentar o trabalho de Literatura. Discutimos a respeito da narrativa polifônica e brutal da obra, citando passagens do livro. O senhor Kim parecia bastante satisfeito com nossa performance, tanto que ao finalizarmos a apresentação, elogiou como nossa resenha estava sucinta e bem elaborada.

- Nos vemos na semana que vem pessoal! - o professor despediu-se de nossa turma saindo de sala logo seguido por alguns outros alunos.

- Vamos Seokwoo - Chanhee me chamou, mas minha atenção estava voltada para Sohee.

Eu sabia que ela havia percebido o anel de compromisso no dedo anelar do professor. A garota estava encarando o nada com olhar meio perdido enquanto fitava o vazio.

- Espera só um minuto. - respondi para meu amigo que ficou parado esperando-me perto da porta.

Segui até Sohee. Quando ela percebeu que eu me aproximava, seus olhos tristonhos voltaram-se para mim. Me inclinei apoiando-me sobre sua carteira antes de falar. Nossos rostos estavam bem perto e sussurrei para que Chanhee não ouvisse nada.

- Eu também notei a aliança. Podemos conversar sobre isso se quiser. - estava encarando firmemente seus olhos, a qualquer instante as bolsas de água iriam se romper com as lágrimas que embaçavam sua visão.

- Seokwoo-ssi - ela fungou e murmurou chorosa - Me beija.

Pisquei duas vezes antes de levar um dos meus dedos sob seu queixo e selar minha boca na dela rapidamente.

- Mas que porra? - ouvi Chanhee comentar perplexo e então recordei-me de que ele ainda estava ali esperando.

Dei um sorriso para Sohee que não retribuiu tão abertamente, uma vez que se o fizesse, suas lágrimas desmoronariam. Voltei até meu amigo e notei que sua expressão ainda estava chocada.

- Eu não acredito que você está ficando com essa esquisita - Chan comentou enquanto caminhávamos pelo corredor - Então os boatos são verdadeiros mesmo, vocês estão namorando sério?

Não estávamos namorando, mas havíamos nos beijado como forma de consolo. De repente a frase de Chanhee me fez pensar na relação que eu poderia construir com Sohee. Dei meia volta, deixando o outro falando sozinho e retornei para sala. Ela ainda estava sentada em sua carteira, mas agora com a cabeça baixa.

- Sohee-ssi, vamos para sua casa - disse e agarrei seu pulso.

- Para minha casa, não. Meu pai está doente e... - ela não terminou a frase.

- Para minha casa então.

Esperei ela pegar sua bolsa e saímos de mãos dadas da sala. Olhares curiosos nos acompanharam mas prosseguimos sem dar tanta atenção. Seguimos para minha casa no ônibus da escola, sentados nas últimas poltronas.

Meus pais estavam viajando e minha irmã estava na faculdade, não voltaria até à noite. Naquele momento, em casa, éramos somente eu, Sohee e Choco - minha gata de estimação que logo se aconchegou no colo da garota quando ela sentou-se ao sofá.

- Sohee-ssi estava pensando ontem e hoje sobre algo - comecei meio receoso sentando-me ao seu lado - Não sei se você vai concordar com a ideia que tive mas...

- Você pensou em algo como fingirmos sermos namorados? - ela respondeu diretamente o que me deixou por instantes sem reação.

- Bom, não exatamente. Quero dizer... Por que me pediu para te beijar hoje lá na sala?

- Eu não sei ao certo... - ela respondeu acariciando a gatinha - Mas quando nos beijamos ontem, eu me lembrei do professor Namjoon. Eu quis sentir aquilo novamente...a possibilidade de que era ele ali.

- Eu... também imaginei Soobin-ah enquanto nos beijávamos - concordei - Bom... - comecei inseguro - E se pudéssemos ser esse tipo de apoio um para o outro? - não sabia se estava me expressando bem, mas ao encarar Sohee, percebi que ela compreendia o que eu queria dizer.

- Como se fôssemos substitutos?

- Sim, isso. Afinal, você sabe como eu me sinto e vice versa. A relação que teríamos seria clara e com um objetivo de consolar um ao outro - coloquei o que havia pensado em palavras, depois fiquei com medo de que Sohee fosse rir e pensar que aquilo pareceria bobagem - O que você acha? Se não quiser, tudo bem, foi só algo que passou por minha cabeça e eu...

- Eu gosto da ideia. - ela me interrompeu e me encarou - Gosto de sermos os substitutos para os nossos amores platônicos. - ela deu um sorrisinho - İsso dá asas a minha imaginação.

Dei um sorriso e movi minha mão até ela com apenas o quinto dedo levantado. Nossos mindinhos selaram o contrato, entrelaçando-se.

- Mas acho importante colocarmos algumas regras - comentei e Sohee aquiesceu logo falando em seguida, tomando a frente.

- Primeira de todas: Não podemos nos apaixonar um pelo outro. İsso estragaria tudo. - ela estava com sua atenção em Choco que adormecera e agora ronronava baixinho - Segunda regra: Temos de estar atentos sempre que o outro precisar. Já que esse acordo serve para suprir nossas necessidades e vontades. - voltou a me fitar com o olhar decidido.

- Certo. - assenti e acrescentei - E uma vez que toda a escola já acha que estamos juntos, não vejo problema em assumirmos um namoro e fazermos isso na escola também... como aconteceu hoje.

- Você tem razão - ela balançou a cabeça.

- Por quanto tempo você acha que deveríamos fazer isso?

- Já que estamos no último ano do ensino médio, que tal até concluirmos os estudos? Depois cada um de nós dois iremos para faculdades diferentes mesmo. E provavelmente não veremos mais a srta. Choi ou o senhor Kim.

Ficamos em silêncio por um instante. Aquele silêncio habitual que surgia entre mim e Sohee e que não nos era em nada desconfortável.

Ela me encarou com seus olhos melancólicos, colocou a gata ao lado no sofá cuidadosamente e se levantou, estendendo a mão para mim.

- Me leva para conhecer seu quarto.