Primeiro Kateghai, Segundo Katezard, Terceiro Kenmai... não havia nada, sobre nenhuma dessas línguas nos livros que Azak procurou insistentemente durante uma semana inteira, desde o aparecer da primeira lua, que acompanhava o início do fim da tarde, até quando surgia a segunda lua sinalizando o auge da noite. Quando encerraram as buscas por um livro que ajudasse na tradução, Evorich, o velho homem que ele veio a descobrir o nome somente no terceiro dia, fez um manuscrito breve, com os detalhes básicos para se aprender a dominar o Primeiro Kateghai, pois somente ele era solicitado para a tradução. Embora Evorich pudesse traduzir, de nada adiantava, Azak é quem deveria conjurar e sua pronúncia deveria ser perfeita.
Acontece que, na noite em que recebeu o texto simplificado de Evorich para aprender de uma maneira mais prática, também descobriu que o nome das três línguas pertenciam aos três deuses antigos de Telassia, e sob elas, um encantamento para que pudessem ser conjurados somente por Telassianos. Notando a feição confusa de Azak, Evorich tratou de explicar que alguns clãs descendendiam de lá e por isso haviam escrituras mágicas com as três línguas. Disso Azak não sabia. Se sentia envergonhado, tantas coisas que não sabia sobre seu próprio sangue, e era um humano quem o ajudava a desvendar.
— Você era muito jovem, não se culpe por isso, a guerra roubou suas chances de conhecer por completo as memórias antepassadas.
— Onde fica Telassia? É possível que um dia eu a visite? – Havia um outro sentimento inexplicável brotando em meio ao mar agitado de vários outros.
— Longe demais, um outro continente-
— Como faço pra chegar lá? O que eu preciso?
— Azak... – Evorich disse apenas isso, para então ele cair em si, não podia deixar Unvelchia, não sob ordens reais de curar o Rei. — Um dia quem sabe, se obter sucesso por agora.
Na manhã do dia seguinte, soube que haveria uma caçada real e que o príncipe é quem iria em nome do pai, para que se tornasse mais experiente, o que era mentira, o rei, nas condições atuais, não poderia ser visto. Evorich não estava disponível neste dia, soubera por um dos guardas que tinha retornado a sua casa por motivos particulares, teria de seguir com os estudos sozinhos. Não teve problemas nisso. Tomou a frente do texto, antes simplificado, agora mais detalhado de Evorich para fazer anotações importantes sobre as pronúncias de determinadas palavras. Em uma só semana, já sabia as pronúncias básicas e o mecanismo que fazia a língua fluir, diferente das duas outras variantes, o Primeiro Kateghai era completo e não necessitava de apoios como o segundo e também o terceiro.
No surgimento da primeira lua do dia, quando passava folha por folha do livro despretensiosamente, uma vez que ainda não conseguia traduzir perfeitamente, beirando as últimas páginas do livro, viu-se que estava incompleto e que ainda estavam o escrevendo. Curioso, resolveu reler a páginas finais, já tendo em mente o que o aguardava; o estopim da Guerra de Sangue e o decorrer dela até os dias atuais. Lendo sobre como foram dias ruins para Unvelchia inteira e afetando diretamente os governantes de todo o continente, uma guerra desnecessária, ele leu em alguma passagem. Suspirou, pensando em tudo que seus antepassados e até os mais recentes membros de seu clã passaram até que se chegassem os dias atuais. Lamentar não era o bastante, mas também nunca quis vingança, nem se quisesse, não havia o que fazer, estava de mãos atadas e as correntes pertenciam aos inimigos. Deixando de lado as guerras, Azak se levantou do chão onde o amontoado de livros que ele fazia suas pesquisas diariamente estava e resolveu caminhar um pouco além, tinha duas opções, os livros dos quais ele nem sequer podia chegar perto ou a mesa que Evorich trabalhava, a mesa que ele também havia sido proibido de se aproximar dois dias antes da partida.
Caminhou em círculo pela sala uma vez, repensando sobre a decisão, e enfim decidiu seguir até a mesa de Evorich. Tivera passos lentos, sentia que havia algo importante lá, então o medo de ser pego era potencializado ao máximo. Quando esteve frente a frente, notou que haviam algumas gavetas e, esparramado sobre a mesa, um grande mapa, mas este não era o mapa de Unvelchia, pois já tinha visto em algum lugar ou outro para escapar das buscas reais que aconteciam com certa frequência. Não haviam nomes, apenas pontos aqui e ali, um grande rio e mais pontos. Sua mente tratou de trabalhar e uma ideia surgiu mais que depressa, ele devia saber de algo.
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Crônicas Tempestuosas
FantasíaArrastado pelos confins do continente para servir. Azak, o último da linhagem de um já esquecido clã, agora era obrigado a exercer os dons que um dia abandonara, apenas para sobreviver. Fantasia/Romance [+18]