Acordei naquela manhã com o mesmo humor desde aquele dia. O dia em que minha vida se tornou um verdadeiro inferno. E eu vivo de migalhas do passado, já que são as únicas que me trazem um pouco de sanidade e felicidade.
Eu abria meus olhos pela manhã já sabendo que o meu dia ia ser péssimo. Minha vida perdeu todo o rumo desde que meu pai morreu. Meu pai.
Sem dúvidas, meu pai não era um homem comum, como esses que observamos diariamente, onde trabalham em lugares comuns, fazendo coisas comuns e agindo como tal. Ele era um dos maiores fabricantes de armas e tinha amizade com pessoas perigosas. Isso me preocupava bastante, já que eu só o tinha como família. Ele nunca me deixou participar de nada, nessa parte ele sempre foi muito discreto e protetor. Eu simplesmente só sabia que tinha muitas pessoas envolvidas, pessoas importantes, pessoas comuns, pessoas que querem fazer o mal e pessoas que não sabem o que querem.
Eu nunca conheci minha mãe, a não ser por fotos. Eu cresci e fui ensinada apenas por um homem. Por mais que tenha sido difícil crescer sem mãe, nunca me faltou carinho. E apesar de toda essa condição que vivemos, posso dizer que sou uma garota tão normal quanto uma que foi criada por pais casados com empregos normais. Com toda aquela fortuna, todos sabiam que o elemento mais valioso para ele, era eu. E mesmo com seus diversos defeitos, eu o amava. Era engraçado como ele fazia algumas pessoas morrerem de medo, se envolver com coisas erradas e no fim do dia, assistir algum filme comigo enquanto comíamos algum doce feito por mim. Eu o esperava todas as noites, não conseguia dormir enquanto ele não chegasse e me provasse que estava tudo bem.
Mas teve uma noite em que eu o esperei, esperei por horas...
...E ele não voltou.
Por mais que ligações fossem apenas em casos emergenciais, ele não atendeu nenhuma das minhas. E eu não sabia o que fazer, a quem decorrer, estava sentindo um nó na garganta... Eu só torcia para ele chegar e abrir aquela maldita porta. E depois de alguns minutos a mesma foi aberta, mas não era meu pai. Era o meu tio. Eu não o reconheci de primeira, fazia anos desde a ultima vez que se encontramos pessoalmente. E todas essas vezes era apenas para tirar dinheiro do meu pai.
- Lily! – Ele me chamou pelo nome e estava com um olhar assustado.
Pude ver melhor sua roupa e ela estava com... sangue? Se antes eu já estava preocupada, agora eu estava aterrorizada. Algo aconteceu e eu não estou e nem quero estar preparada para o que ele vai me dizer. Mas não me restam muitas escolhas.
- Tio Michael! – minha voz já estava falha e minha ansiedade estava gritando – O que aconteceu com você? Por que sua roupa está suja de sangue? – Eu chegava perto dele com medo de sua resposta
- Lily...seu pai... eu sinto muito – ele começou e eu senti minhas pernas fracas e um nó se formar em minha garganta – ele morreu.
- Não! – gritei- Você não está falando a verdade! Como isso aconteceu? O que fizeram com ele? POR FAVOR ME DIZ QUE ELE VAI FICAR BEM! – pedi inocentemente
- Eu fiz tudo o que pude querida! – ele dizia e estava imóvel, enquanto eu me revirava e chorava feito louca.
- NÃO! VOCE NÃO FEZ! ONDE ELE ESTÁ? – eu levantei e segurei em seu terno que estava coberto de sangue esperando alguma resposta – E-ESSE SANGUE É DELE? – eu tentava olhar em seus olhos, mas era inútil pois minha visão estava turva devido as lagrimas
- Eu estava com ele no momento... atiraram nele. Nosso médico infelizmente não chegou a tempo. – Ele respondia tudo rápido e eu não sentia nenhum tipo de sentimento em sua voz.
- Isso não pode ser real. – eu não sentia mais nada que não fosse tristeza.
Eu me encontrava no chão, enquanto meu tio tentava me acalmar e a única coisa que eu queria naquele momento era que acontecesse algum milagre.
Mas não aconteceu.
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Se passaram quatro anos desde aquele dia e hoje eu estava completando 18 anos. Muitas coisas aconteceram nesse meio tempo.
Eu moro com o meu tio Michael e toda aquela mordomia que eu tinha antes, hoje não tenho mais. Estranhamente, um mês depois da morte de meu pai, ele assumiu o controle de tudo. Inclusive comprou uma boate onde rolava coisas bizarras, incluindo prostituição. E no primeiro dia que abriu, ele me colocou para trabalhar como barista. Ele dizia que não ia bancar ninguém. Mas eu não entendo, já que ele ficou como meu responsável e provavelmente recebeu (e muito) por isso. E eu não vi um real do dinheiro do meu pai, desde que ele morreu. Tudo que eu tenho desde então, foi fruto do meu trabalho.
Demorou algumas semanas para eu pegar o jeito, mas já me acostumei com o fato. Eu até gostava de passar as horas lá. Pois quando eu estava na casa do meu tio...casa não, mansão! Era tudo tão sem graça, vazio. Ele me tratava como desdém e eu já estava cansada e enojada de ver ele chegando todas as noites com mulheres diferentes.
Ele simplesmente saiu do lixo para o luxo depois do ocorrido. E eu sabia que todo aquele investimento era o meu dinheiro. Mas de alguma forma, eu não relutei muito. Na época eu era apenas uma criança e não saberia como cuidar de mim e da fortuna... Eu só esperava que ele cuidasse melhor de mim. E não queria ser mal agradecida, aliás, ele era o meu tio.
Eu não tinha mais ninguém.
- Você não vai levantar? Já são onze horas e eu pretendo começar mais cedo hoje! É sábado e vão vir alguns clientes do México. – A voz do meu tio ecoou no meu quarto, ele nem sequer bateu na porta.
- Eu já estou acordada. Ainda é cedo, sua boate só abre as oito! – falei levantando da cama e procurei minha garrafa de água.
- Eu sei que horas ela abre. Mas eu quero você lá mais cedo para limpar toda a bagunça de ontem na adega.
- O que? – engasguei com a água – Já não bastasse ficar servindo bêbados a noite inteira, tenho que limpar também? O que aconteceu com a Katie? – perguntei sobre a faxineira que normalmente faz isso.
- Ela está de folga hoje. Chega de perguntas e se arrume logo. Eu estou saindo daqui a pouco e já te deixo lá – ele saiu do meu quarto, me deixando sozinha com meus pensamentos nada amigáveis.
Fui ao banheiro, tomei uma ducha e coloquei o uniforme que eu vestia normalmente. Uma saia preta curta e uma regata com o logotipo da boate. Michael's Party. Além de ele ter vários defeitos, ele não era nem um pouco criativo também.
Amarrei meus cabelos, deixando alguns fios rebeldes a solta e fiz uma maquiagem leve. Desci as escadas e me surpreendi de não encontrar nenhuma mulher nua dormindo no sofá. Encontrei Michael conversando com alguém no telefone e ele apontou a cabeça para a porta, ele só estava me esperando para irmos.
No carro não teve nenhuma troca de palavras, como sempre. Mas eu preferia assim. Fiquei olhando as ruas enquanto elas passavam em fração de segundos pela janela que nem me toquei quando chegamos.
- Bom, você já sabe o que fazer! A Julie chega mais cedo hoje também, qualquer coisa peça para ela te ajudar. – Ele disse e eu apenas assenti, procurando as chaves da porta. Ele deu partida e foi embora, para onde? Eu não sei.
Assim que entrei dentro do salão, senti paz pela primeira vez. Não havia barulho, música alta, murmúrios, não havia nada, apenas eu. Ele era bem grande e não estava tão bagunçado quanto pensei. Mas de qualquer forma, o dia ia ser longo, então para distrair um pouco a cabeça, liguei a TV e comecei a limpar.
- Ontem de madrugada o banco central de Bradford foi assaltado. Os assaltantes levaram tudo e ainda deixaram 15 pessoas feridas e 5 mortas. – A repórter falava de frente para a câmera.
Eu senti um arrepio nas minhas costas, eu sempre lembrava dele. Desde aquele dia, eu não consigo encarar a morte. Nem sequer falar sobre algum assunto relacionado. Londres está ficando cada vez mais perigosa, ainda mais com as gangues que andam circulando pelas redondezas, tive a infelicidade de conhecer algumas, pois eles sempre frequentam aqui e eu posso dizer com toda certeza que são pessoas que você não iria gostar de conhecer. Desliguei a TV e coloquei músicas para o tempo passar mais rápido.
Eu estava torcendo para o dia terminar e eu poder ir embora.
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Criminal Minds - Fanfic Zayn Malik
FanfictionEu estava assustada, cada batimento do meu coração estava excessivamente acelerado e por fim, sentia meu rosto molhado devido a quantidade de lágrimas que saiam dos meus olhos. Olhava para aquele homem na minha frente e eu realmente não sabia quan...