Capítulo 1 - A garota que chegou na vila

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      Mono é um membro da Guarda de Spectral, que protege a vila de demônios que a cercam nessa floresta antiga e infindável. Os demônios de pesadelos, como são chamados, criam maldições e lançam naqueles que ousam ultrapassar os limites da vila. Essas maldições geram pesadelos e aumentam o grau de medo e ansiedade nas pessoas para ficarem mais fortes e, enfim, serem consumidas e convertidas em energia e poder para quem as lançou. Mono é forte e aprendeu desde muito jovem que proteger os fracos disso é o dever dos mais fortes. Desse jeito, ele entrou para a Guarda.

      Na realidade, essa Guarda de Spectral serve para impedir que os moradores deixem a vila e fiquem à mercê dos infortúnios do lado de fora. Se alguém vai embora e a Guarda não consegue trazê-lo de volta em segurança, os membros devem se sacrificar pelos cidadãos. Então, percebe-se que esses guardas não passam de peças descartáveis, que se voluntariam e lutam pela paz e preservação do povo. Mas, para evitar que os grupos suspeitem e pensem mais do que deveriam nessa configuração, os moradores da vila são educados e ensinados que esse dever é natural e muito importante.

      É uma honra proteger seus irmãos e companheiros. Então todos acreditam fielmente que está tudo bem e não vêem problema em organizar as cerimônias e os funerais ocasionais para os membros da Guarda, mesmo que tentem não dar muito trabalho aos seus defensores. Pelo menos é o que dizem. Mas Mono sempre se esforçou para se tornar mais confiável e valioso como membro da Guarda, sem considerar seriamente o sistema e a escala de poder na vila. Sua opinião se baseia plenamente em sua confiança nos moradores da vila, então desacreditar seus métodos de sobrevivência está fora de questão.

      Um dia, uma surpresa surge na vila. Lídia, uma jovem vestindo roupas sujas e bagunçadas, aparência exausta e carregando informações interessantes apareceu nos arredores da vila. Ela era uma pessoa de fora que chegou ali por acaso, fisicamente desgastada, mas viva e saudável. Mais importante, ela não foi afetada pelas maldições, os demônios não haviam a atacado durante as duas semanas que ela passou perdida dentro da floresta. Pelo visto, seu estado mental era confuso; Lídia não parecia entender o que estava acontecendo, e era um pouco boba.

      Os moradores a trataram com muita curiosidade e gentileza, arrumaram um quarto para que ela descansasse por alguns dias. Então, quando ela dormiu, os anciões organizaram uma reunião com todos os moradores adultos da vila, e discutiram como resolver o assunto. O que fazer com a menina: essa era a questão. Infelizmente, Mono, um adolescente de dezessete anos, era muito jovem para participar desses desenvolvimentos sérios. Até mesmo Conan, seu amigo, estaria presente na reunião. Mas, como o membro mais jovem e menos experiente da Guarda, ele foi encarregado da tarefa de "proteger" a menina.

      Nessa noite, Mono se sentou em uma cadeira ao lado da cama em que Lídia dormia. Quando já havia passado meia hora, seus olhos nunca se fecharam exceto pela necessidade de piscar às vezes.

      Sua atitude em serviço era séria e consistente. Ele percebeu que Lídia parecia realmente cansada, mas não estava dormindo de verdade como os adultos pensavam. Então, em algum momento, ela parou de fingir e se sentou na cama, encarando Mono com seus olhos azuis claros.

— Por que me observa tanto? Eu não vou fugir daqui – falou suavemente.

      Mono ficou surpreso que ela puxasse conversa e abriu um sorriso sincero, explicando-se.

— É o meu dever. Por favor, não se incomode comigo aqui. Você pode descansar a vontade, está segura aqui, eu estou te protegendo – declarou, em tom de persuasão.

      Lídia ficou em silêncio, encolheu os ombros em um gesto de aceitação e deitou-se na cama.

— É o seu dever me vigiar, impedir que eu cometa um erro ou tente escapar – disse, fechando os olhos novamente para fingir dormir.

      "Não disseram que essa garota era boba e confusa? Ela claramente é muito lúcida na realidade." Mono divagou em pensamentos.

— Não, minha única intenção é te proteger, não te prender. Eu juro.

      Lídia não participou mais do diálogo, e falar mais tornou-se inútil. Mono desistiu de tentar justificar para uma pessoa surda, e passou a procurar diminuir sua vigilância. Ele pensou que foi isso que desagradou a menina em primeiro lugar, então tentou corrigir sua atitude. "Deixe para lá. Apenas cuidá-la é suficiente", pensou; e foi se sentar do lado de fora do quarto, encostado na porta do cômodo.

      Do lado de dentro do quarto, Lídia não reagiu nem um pouco à mudança de circunstância e se concentrou em fingir dormir.

      Menos de duas horas se passaram depois disso e os adultos pareciam ter chegado a uma conclusão: eles enviariam uma pequena equipe de escolta para mandar Lídia de volta ao lugar de onde veio. Conan lhe contou que a Guarda de Spectral selecionaria três membros de sua organização para realizar a escolta.

— Eu vou fazer parte da equipe, e você também vai – comentou, sem prolongar mais seu discurso.

      Mono engasgou, sentindo que essa especulação era muito ilógica.

— Por que acha isso? – Perguntou.

      Conan riu e respondeu.

— Chame de pressentimento.

Floresta dos Demônios de PesadelosOnde histórias criam vida. Descubra agora