Capítulo 4 - A missão falhou, então por que estão rindo?

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      Não, não. Não pode ser. Por que ele estava vivo? A dor era dilacerante mas sua alma ainda não deixou seu corpo, então ele sobreviveu. De que isso valia? Ele falhou, ele não concluiu sua missão e deixou Lídia, aquela que ele deveria proteger com sua vida, morrer. Como ele seria capaz de proteger a vila no futuro? Ele seria aceito de volta? Mais importante, ele conseguiria voltar nesse estado, em primeiro lugar? Mono fechou os olhos e cedeu à exaustão de seu espírito.

      Mono acordou horas mais tarde quando Conan tentou levantá-lo e parou seu amigo.

— Não se incomode comigo, vá pegar Lídia – rosnou entredentes.

      Sua voz saiu mais agressiva do que queria, mas já era tarde demais. Felizmente, o outro fez o que ele pediu sem demonstrar qualquer ofensa pela forma como se dirigiu a ele. Conan carregou o corpo de Lídia nos braços e caminhou lentamente para retornar à vila, Mono o seguiu um pouco atrás, puxando o corpo desfalecido de Salom consigo. Seu corpo não doía tanto como antes e somente estava exausto, mas ele ficou de pé com determinação. Seu instinto era voltar, apenas isso foi suficiente para sustentar seu corpo esgotado no caminho de volta.

      Não se sabe ao certo quanto tempo eles levaram para caminhar, talvez um dia ou dois, mas quando chegaram na vila o dia estava amanhecendo. Eles atravessaram as fronteiras e isso seria considerado finalmente estar em "segurança". Quando os moradores da vila os viram, ficaram surpresos por um momento. Conan andou na frente segurando Lídia nos braços e sua figura era estável e firme. Mono viu os moradores sorrirem sorrateiramente ao notarem Lídia e alguns até riram discretamente.

      Por alguma razão, as crianças ostentavam faces orgulhosas e os adultos pareciam satisfeitos. Por quê? Eles falharam e Lídia estava morta, então por que estão contentes? Mono não suportou os olhares e desmaiou ali mesmo. Tudo era tão estranho, só pode ser um sonho. É óbvio, apenas um sonho. Quando ele acordar, estará deitado na sua cama e tudo voltará ao normal. Mas não era um sonho, tudo havia acontecido de verdade. Quando ele levantou horas mais tarde, sentiu um vazio tomar conta de seu ser.

      Era como se ele tivesse perdido alguma coisa? Mas o que ele perdeu? Mono não se lembra. Seus olhos cinzas opacos enxergavam o mundo como uma fantasia estúpida e sem sentido. Ele saiu de sua casa, caminhando pela vila e parando no cemitério. Era tarde da noite e ele se agachou em frente ao túmulo de Lídia. Parece que eles haviam realizado um funeral, ou dois, enquanto ele dormia, porque Salom foi enterrado perto dali também. Então, eles morreram e ele sobreviveu. O quê? Isso não parece certo. Que estranho.

      Os moradores do vilarejo que faziam ainda menos sentido. Tudo foi planejado desde o começo? Eles queriam que Lídia morresse e esperavam que eles também desaparecessem lá fora. Mas Mono e Conan voltaram e trouxeram o troféu para os jogadores. Poxa, que piada. Eles não eram inocentes, eram? Ele já ofereceu sua vida para proteger esses monstros? Sim. Mas eles se enganaram em uma coisa. Mono não é descartável como eles pensaram. Não, ele é diferente...

— Mono? Como você se sente? – Uma voz familiar soou perto de seu ouvido. Mono se virou e encarou indiferentemente seu velho amigo.

— Conan, você já sabia o que eles fizeram? Diga a verdade – mandou.

      Conan enxergou uma frieza inconcebível naqueles olhos prateados que ele nunca viu antes. Uma pressão invisível apertou sua garganta e ele espremeu uma resposta sincera antes mesmo de perceber.

— Sim.

      Mono semicerrou os olhos e soltou uma risada rouca incompatível com sua aura. Quando cansou de rir após alguns segundos, Mono passou a mão por seu cabelo castanho e voltou a olhar o túmulo de Lídia.

— Eu deixei ela morrer. Isso quer dizer que eu cumpri meu dever ou não?

      Não, é evidente. Ele cumpriu seu propósito. E se não duvidasse da vila depois disso, continuaria atuando nesse tabuleiro como só mais uma peça descartável. A Guarda de Spectral não passa de uma piada, chega a ser patético. São apenas pessoas que sofreram lavagem cerebral para voluntariamente se sacrificarem pelos moradores da vila. Mono não acredita que os moradores não saíam intencionalmente para atraí-los para fora e servirem como "alimento" para os demônios de pesadelos. Talvez eles até tenham estabelecido esse pacto com os demônios, quem sabe.

      Essa vila inteira deve ser uma fazenda de gado pronto para ser abatido pelos açougueiros.

      E ele morou aqui para morrer aqui também, quem diria. Olha como a vida é engraçada.

      Realmente foi sua culpa ser tão cego antigamente, está na hora de abrir os olhos.

      Mono tomou uma decisão silenciosamente e liberou sua pressão sob Conan. Este último nem percebeu o que realmente aconteceu e pela primeira vez mostrou uma expressão confusa no rosto. Mono não se importou com ele e foi embora. 

Floresta dos Demônios de PesadelosOnde histórias criam vida. Descubra agora