Capítulo 3 - Como a noite acabou nessa bagunça?

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      Salom terminou suas atividades e o grupo prosseguiu seguindo em frente sob sua liderança. No fim do dia, todos estavam cansados, principalmente o veterano do grupo. Mono se esforçou para manter a conduta séria durante o serviço e, se não fosse pela sua resiliência, seria incapaz de mantê-la até ali. Conan apenas tinha os olhos ligeiramente vermelhos e Lídia estava fingindo estar com sono de novo. Eles decidiram acampar perto de duas árvores que eram maiores e mais altas que as outras. Mono esperou que Lídia fingisse dormir para conversar com Conan porque tinha dúvidas sobre um assunto.

— Nós não fomos amaldiçoados até agora, não acha isso muito estranho? É impossível que os demônios não saibam que estamos aqui e já nos afastamos consideravelmente da vila a essa altura.

      Conan esticou os braços para cruzá-los atrás da cabeça e respondeu preguiçosamente.

— Os demônios estão nos observando desde que saímos, eles apenas não fizeram nada porque provavelmente possuem um motivo para tal. Não precisa quebrar a cabeça pensando nisso, vá dormir e deixe que eu faço a vigília com Salom até que ele acidentalmente pegue no sono em breve.

— Não, eu ficarei acordado e vou proteger Lídia também – Mono não cedeu e sentou de pernas cruzadas em frente ao fogo enquanto observava a única garota presente até se lembrar que ela poderia se sentir incomodada e mudou a linha de visão para os arredores.

      Conan encolheu os ombros e um uma pitada de divertimento transpareceu em sua expressão por alguns segundos. Estranhamente, Mono se sentiu cada vez mais fraco até cair inconsciente no chão. Aconteceu o mesmo com Salom e Lídia abriu os olhos nesse momento. Conan encarou a pessoa deitada no chão com uma aura incomum de inclemência.

— Qual é o seu objetivo? – Interrogou Lídia, com os olhos verdes apresentando uma frieza indecifrável.

— Não importa, morrerei em breve, então qualquer objetivo seria em vão de qualquer maneira.

— Você é uma exilada, está sendo perseguida? – Questionou novamente, sua pressão mais contida que antes.

      Lídia o encarou com aqueles olhos mortos sem brilho e Conan perdeu o interesse. Mono começou a tremer e o corpo de Salom a convulsionar repentinamente. Ninguém se importava com o veterano que fora amaldiçoado e estava tendo um pesadelo atormentador mas Mono recebeu um tratamento diferenciado. Conan viu esse jovem crescer e desenvolveu um raro traço de afeto por outra pessoa.

      Uma barreira densa e invisível cercou Mono e impedia a aproximação de qualquer um. Conan ficou surpreso e tentou quebrar a barreira com sua pressão espiritual, sem alcançar o sucesso. Lídia se levantou e gritou com uma voz aguda e enfurecida:

— Venham, tentem me atingir, se forem capazes. Demônios miseráveis!

      Uma mão saiu das sombras e agarrou o pescoço de Lídia em um aperto firme. Duas órbitas sangrentas fitaram a jovem fixamente, como se fosse consumi-la com o olhar. Essas "órbitas" pertenciam a uma figura borrada e escura como o breu que flutuava um pouco acima do chão, bem na frente de Lídia. Era a manifestação de um demônio de pesadelos. Não era o seu corpo e aparência reais mas já ultrapassava qualquer evidência de imagem que os moradores da vila possuíam sobre os demônios.

      Conan permaneceu parado no lugar sem se importar com nada que estava acontecendo, ele se tornou um espectador fiel da cena. O demônio de pesadelos que agarrava a Lídia pelo pescoço jogou seu corpo em uma das duas árvores maiores que estava mais longe. A garota bateu na árvore e caiu mole no chão, sangue pingando de sua boca. Ela fora lançada com muita força mas não ligava para a dor que sentia, seus olhos continuavam observando seu agressor com indiferença.

      Nessa hora, Mono despertou e, mesmo que estivesse confuso e atordoado, sua primeira reação foi correr para assumir uma posição de defesa diante de Lídia, encarando ferozmente a figura negra. Seu corpo ainda doía mas sua velocidade era absurda. Mas mais absurdo do que isso era Lídia, que estava sendo atacada e ele nem percebeu! Que merda, como isso aconteceu? Mono se concentrou no inimigo mas não pôde evitar procurar seus companheiros com os olhos.

      Salom estava se contorcendo no chão e seus olhos eram vermelhos e arregalados, ele tinha uma expressão distorcida no rosto e lágrimas escorriam por sua face. Conan mantinha sua postura de espectador, mas dessa vez observava curiosamente Mono. Por que Conan estava ali parado enquanto Lídia estava em perigo, ele ficou louco? Mono não entendia como a noite se transformou nessa bagunça. Mas, logo em seguida, Conan foi atacado por um projétil escuro lançado pelo demônio e desabou no chão. Ele agarrou seu ombro ferido que estava sangrando e cerrou os dentes, parecendo estar sentindo muita dor.

      Satisfeito, as órbitas vermelhas do demônio de pesadelos sangraram e brilharam, planejando amaldiçoar Mono. Porém, a abordagem não funcionou como o esperado. O demônio não queria perder mais tempo e simplesmente empurrou Mono para longe e usou sua pressão espiritual para prendê-lo no chão. Infelizmente, a pressão espiritual de um demônio era uma tortura para um humano, principalmente uma tão poderosa quanto essa. Mono sentia seu interior queimando e a sensação era horrível, como se os seus órgãos internos estivessem se contorcendo dentro de si e sendo arranhados. Sua pele ardia como se tivesse sido exposta a um fogo flamejante.

      O demônio perfurou o peito de Lídia, esmagando seu coração e contaminando seu corpo com poder sombrio. O intuito era destruir seu núcleo espiritual, mas ele já havia sumido. Pensando que ele concluiu seu objetivo e poderia ir embora, o demônio partiu sem mais delongas. Sua figura se esvaiu no ar, desfeita como se nunca tivesse existido. O estado de Mono era deplorável, mas seus olhos nunca abandonaram Lídia e haviam presenciado sua morte acontecer bem na sua frente. Ele não conseguiu fazer nada para impedir, ele foi inútil. 

Floresta dos Demônios de PesadelosOnde histórias criam vida. Descubra agora