Quando eu estava vivendo na tristeza

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Foram três anos tortuosos e seis meses de uma recuperação avassaladora.

Sara tem um namorado agora, um que foi aprovado por Oliver e eu, Alisson era um bom garoto e se formaria esse ano em design gráfico e isso fez com que criássemos uma ligação quase instantaneamente. Oliver continuava solteiro, justificando que a empresa deixada por nossos pais ocupava sua mente o suficiente, e que um relacionamento poderia atrapalhar.

Faz seis meses que decidi morar sozinha no antigo apartamento de Harriet Montgomery, nossa falecida tia, e mesmo que não ficasse mais de quinze minutos da casa que Anthony e eu dividíamos não tive coragem de colocar os pés lá. Alisson, o único com quem comentei sobre isso, disse que não era uma boa ideia mergulhar de cabeça no passado. Dra. Kashi disse algo parecido quando comentei sobre meu novo endereço, desejando que eu não mergulhasse em mais ataques de pânico e voltasse a ser mais ativa socialmente.

Eu cedi aos esforços de todos, me levantando novamente mesmo em que só tenha dias em que fecho os olhos abraçando a dor da saudade.

Consegui meu emprego de volta na segunda semana desse mês e no seguinte, em agosto poderei ter o mesmo cargo, o Sr. Handerson ficou agradecido quando pedi pra voltar dizendo que sentiu minha falta na empresa.

Me permitia sorrir em momentos como esse. Era como Oliver dizia a cada vez que eu parecia um pouco mais recuperada: "Cada vez em que se tenta já é uma vitória".

Hoje é dia 28 de julho, exatamente meia noite. Podia sentir o celular vibrando ao meu lado na cama com as mensagens que sabia ser de Sara e Oliver por ser uma tradição de família, mas só responderia pela manhã quando acordasse. Desliguei a televisão que iluminava o quarto com um programa de culinária que odiava e me forcei a dormir mesmo que as boas noites de sono fossem raras a muito tempo. 

Por que pela manhã eu teria uma nova luta pra levantar e, encarar uma festa surpresa que tenho completa certeza de que aconteceria em um dos apartamentos, pois eu conheço os irmãos que tenho.

— Cunhadinha! 

Deus...não seja verdade. Abri um dos olhos forçando a vista com toda a claridade que invadia o quarto de repente, passei as mãos pelo rosto desejando que seja mais uma alucinação do zolpidem. 

— Acorde minha cunhada favorita.— Alisson gritou puxando meu edredom e correu tão rápido quanto pode dos meus chutes.

Bufei tentando pensar em uma desculpa pra expulsa-lo mas não iria adiantar de nada, o loiro cabeludo era irredutível quando queria então apenas me ajeitei o suficiente pra estar apresentável e fui até a cozinha onde ele estava parado frente a um banquete de café da manhã ao lado de Sara e Oliver. Sorri para os três escondendo minha irritação de ter sido acordada, me sentia genuinamente feliz e isso os fazia ficarem calmos sobre as olheiras e atitudes antissociais.

Momentos como esses são importantes, são esperançosos, são gloriosos e bons demais pra não se aproveitar.

Eles são a porta de saída quando eu estava vivendo na tristeza.

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