Perfeito não significa que está funcionando

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18:12

Aaron não apareceu no escritório por três dias seguidos, uma fofoca se espalhou no nosso andar sobre uma mudança de planos em uma filial mas ninguém afirmou nada .Não disse uma única palavra pra ninguém que perguntou sobre, mas eu tinha as respostas.

Segundo as suas últimas dez mensagens ele tinha voltado para Itália, algo sobre uma reunião que precisava ser presencial e também aproveitou pra pegar algumas coisas que ficou na casa há algum tempo.

Era esquisito como era tão fácil lidar com ele, não preciso explicar nada, sem forçar a barra, a conversa flui naturalmente e a maneira como tudo parece nos empurrar um para o outro começou a ficar mais claro há pelo menos dois meses atrás quando eu tentava me afastar.

Mesmo que muitas vezes seu olhar, sua paixão pela profissão, até mesmo o modo como ele come a droga de um hambúrguer ( Abrindo o pão e colocando maionese, ketchup e barbecue com uma pitada de sal antes de morder), fosse extremamente parecidas com tudo do meu Anthony..Eu tenho sempre que dar um auto-chacoalhão pra me lembrar de que ninguém no mundo poderá substituir o grande amor da minha vida.

Mas segundo minha psicóloga Dr.Kashi, alguns filmes de romance e livros de autoajuda sempre diziam algo como: Nunca mais será o mesmo mas sempre haverá um outro; Você nunca ama uma vez só; ou algo como "O amor da sua vida e o amor pra sua vida".

Eu não disse a ela, mas eu ainda penso que é baboseira amar mais de uma pessoa da forma como amei meu..falecido noivo. Todos os dias são uma luta constante entre a saudade, a dor da perda e a aceitação de que não o terei de volta nunca mais.

Inacreditavelmente ao mesmo tempo que Aaron me distraia disso, ele também me deixava pontadas que me deixam maluca nesses dois meses. Eles são parecidos, eles tem aquela mesma energia mas ele não é Anthony.

— Alex, esta tudo bem? — Dana me encarava com preocupação da porta do meu escritório, as mãos apoiadas no batente com insegurança como se não soubesse se entra ou dá meia volta.

Levei dois segundos pra perceber o por quê. Eu estava chorando e nem tinha percebido. Limpei o rosto rapidamente me ajeitando atrás do computador.

— Desculpe, tem algo pra mim?

— Na verdade o Sr. Handerson pediu que eu te chamasse, mas se quiser posso inventar que você está ocupada. — Ofereceu ainda incerta.

— Não, estou indo, sabe sobre o que é?

Levantei ajeitando a camisa social pra dentro da saia lápis preta, estou no trabalho e não posso me dar ao luxo de fingir que o luto não me mata também.
Dana saiu pra que eu passasse e sorriu indo até seu espaço. Segui o caminho do corredor ouvindo alguns falando ao telefone enquanto meus saltos fazem o barulho característico de batida. Respirei fundo antes de bater e o Sr. Handerson liberar.

— Alex!

Arregalei os olhos vendo sua expressão exasperada, encostei contra a porta tentando me lembrar de algo errado que eu tenha cometido na última entrega de design.

— O que eu fiz?

— Oh não, relaxe querida. Aaron acabou de me ligar, está no aeroporto e pediu que você fosse até ele. — Deu de ombros parecendo segurar um sorriso.

Desconfiada cerrei os olhos em sua direção. — Vocês tem um motorista particular..

— Bom, ele pediu que fosse você. — Respondeu não me deixando terminar, tirou uma chave da mesa e jogou pra mim que quase deixei cair se não fosse o malabarismo pra pegar. — Mustang preto, esta no estacionamento.

— Isso vai me garantir um extra? — Tentei brincar e ele riu negando.

— Tente arrancar um bom jantar do meu filho, aposto que não vai ser difícil já que eu o criei bem. — Piscou fazendo sinal pra eu sair.

Ainda confusa voltei para a minha sala pegando minha bolsa e o celular, por sorte Alisson veio me trazer ao trabalho hoje e isso me renderia uma carona gratuita, já que eu pensei em pegar um uber quando saísse.

— Aconteceu alguma coisa? —Dana me parou quando estava saindo, sua cara típica de quem parece sedenta atrás de uma fofoca.

— Ganhei um carro de presente. — Menti descaradamente e ela suspirou sonhadora e sorridente. — Estou brincando, te vejo amanhã.

— Um pouco malvado da sua parte. — Se despediu virando as costas e sai rindo.

Eu não fazia a mínima ideia do que fazer quando cheguei ao aeroporto, depois de uma ligação com ele da qual apenas disse "Vou encontrar você de qualquer maneira". Suspirei descendo do carro e dando a volta pra parar no lado passageiro, a chave em mãos e olhos perdidos no mar de gente.

Aaron Handerson surgiu pela porta, um carrinho grande com duas malas, as roupas sociais amassadas e parecia segurar algo nas costas enquanto caminhava na minha direção com seu sorriso largo demais.

— Antes de ganhar um grande abraço apertado, quero que feche os olhos. — Disse empolgado, segurei minha vontade de bufar apenas pra obedecer. — Pode abrir. — Um buquê de tulipas amarelas e uma barra de chocolate gigante na sua mão me fizeram piscar desacreditada.

— Você.. Não precisava ter comprado isso, Aaron. — Falei baixo aceitando os presentes com um sorriso. — Algum motivo especial para um buquê das minhas flores favoritas?

— Esse sorriso é um ótimo e especial motivo. — Deu de ombros e eu quis rir alto mas me contive em negar com a cabeça. — Saia pra jantar comigo.

Não foi uma pergunta e mesmo sentindo uma pequena centelha diferente quis recusar. Mas seus lindos olhos refletido pelas luzes de fora do aeroporto parecem sempre ver através da minha alma. Olhos que um dia, alguns anos atrás eu via todos os dias, então apenas acenei.

Ele é perfeito.

Mas não significa que está funcionando.

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⏰ Última atualização: Mar 28 ⏰

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