Capítulo 9

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Willy girou no eixo.

- Charlie! - Assustou-se ao ver o pupilo. - Quantas vezes eu lhe disse para se anunciar quando eu estiver concentrado?

- Uma invasora? - Questionou o mais novo.

Willy Wonka desconversou:

- Você não deveria...

- Dóris.

Willy Wonka fechou os olhos por um curtíssimo momento, como se estivesse se xingando por não ter pensado que Charlie acharia uma forma de descobrir o que estava acontecendo. O maior orgulho de Willy, era justamente sua fábrica. Nada poderia acontecer sem que ele soubesse e não havia nenhum invasor capaz de sair pela porta da frente, pelo menos, não depois de tantos outros terem feito o chocolateiro se esconder no próprio mundo.

Mas ali estava Charlie, que teria muito o que aprender. O garoto que tinha lhe feito sair do casulo protetor e alçado voos mais altos do que os antigos. O garoto que tinha achado um meio de continuar a visita e descobrir o que estava acontecendo.

- Willy! - A voz de Charlie atraiu a mente mais velha, como se fosse um relâmpago despencando ao lado dele. - Até quando ia me esconder?

Charlie estava irritado. Irritado ao ponto da voz perder a rouquidão casual e ganhar uma força estrondosa.

- Está sob controle.

- Com você tendo que apelar para as câmeras? - Charlie apontou para as telas que estavam atrás do tutor.

A mente criativa de Willy formulou a mentira em poucos segundos:

- Apenas tendo a certeza...

- E ainda mente para mim! - O mais novo socou a parede ao lado.

As duas outras paredes tremeram com a força do punho ossudo que nunca tinha agredido algo. O Oompa Loompa que estava como expectador se encolheu na cadeira, puxando as perninhas para perto do corpo e se tornando uma pequena bola viva.

- Uma mulher. - Willy acreditou que Charlie lhe olharia, mas enganou-se. O mais novo enfiou os dedos livre pelos cabelos, parando em parte do caminho para puxar um chumaço com força. - Minha altura, calça 37 e pesa cerca de sessenta quilos.

- Jardim? - Charlie sussurrou.

- Exato. 

A mente de Charlie compreendeu: Willy Wonka sabia que havia algo errado quando estavam no jardim, o que significava que logo no começo daquela visita, o mundo dele tinha entrado em alerta máximo. No começo deveria ter achado que era um simples animal e que não merecia tanta atenção, porém...

- Ela demorou para sair do jardim, mas quando estávamos na ala da delicia voadora, soube que não era algo simples.

O instinto de Willy, em relação a fábrica, era tão intenso quanto o de uma mãe com seu filho. Ele sentia. Apenas isto. E sempre que sentia algo, sabia se deveria correr para resolver.

Com Charlie, era diferente. O herdeiro ainda não conseguia se sentir aceito pela fábrica e até mesmo sentia inveja de Willy.

A mão Wonka, sempre enluvada, quando corria pelas paredes limpas pareciam acariciá-las com orgulho. E em troca, a criação mais amada lhe sussurrava que tudo estava bem, fluindo em sintonia e dentro do controle dele.

Charlie não soube da invasão. Não soube que algo estava errado e nem mesmo entendia os sussurros não escutáveis do ambiente. Ele não estava irritado com Willy, nem mesmo preocupado como deveria.

Charlie Bucket, herdeiro de Willy Wonka, estava decepcionado consigo.

Com a incapacidade de atender os desejos de Willy e da Fábrica Wonka. Decepcionado por não ser colocado na lista daqueles que poderiam resolver os problemas da fantástica fábrica.

Decepção. Nada além disto.

- Vai lá. - O mais novo sussurrou enquanto abria os olhos e caminhava para a porta.

- Só isto? - Os pensamentos de Willy vazaram pelos lábios.

- Vou encerrar a visita. Não é seguro.

O pupilo escapuliu pela porta, se arrastando como quem carrega mais peso do que deveria em suas costas. Willy caminhou para a porta e olhou para o corredor, para o mesmo lado em que Charlie caminhava e tentou chamá-lo.

A voz não saiu.

Presa em algum canto da garganta enquanto o cérebro tentava achar um motivo para que o garoto não fosse embora. Ele já tinha ido uma vez. Charlie se fora quando Willy não conseguiu entender a ligação entre ele e a família, que agora só tinha um integrante. 

Ele não podia ir de novo.

O coração velho de Willy doeu, como se estivesse apertando a si mesmo.

A fábrica, o pai e o tutor eram os únicos que restavam para o menino homem e agora ele estava carregando algo que não deveria estar ali. Os olhos do chocolateiro correram para os televisores, a visitante tinha caminhado pelo corredor da ala domiciliar, provavelmente pegando o primeiro caminho que lhe veio a cabeça. Se Willy estivesse certo – ele raramente errava – ela não pode dar uma olhada e voltar, pois aumentariam as marcas no jardim. Ela teria que seguir em frente até encontrar um caminho que levasse às alas de criação.

Poderia pedir para Charlie continuar a visita, mas o pupilo poderia ficar - e Willy sabia que ficaria - mais incomodado. Poderia pedir para ele cuidar da intrusa enquanto Willy prosseguia com a visita, mas além de arriscado – já que Willy não é o melhor anfitrião existente – ele se sentiria incomodado com a expectativa.

- Charlie! - Gritou o chocolateiro.

Charlie virou. Lentamente, com os olhos sem expectativa e ânimo.

- Deixe. Dóris sabe cuidar das pessoas e você tem algo a aprender. - Charlie semicerrou os olhos. - E também – Willy não queria admitir, mas era necessário – Tenho medo de fazer alguma loucura.

O que era verdade, pensaram os donos da fábrica. Willy poderia, facilmente, destruir a mulher que tinha invadido seu mundo.

Ϣ.Ϣ.

O senhor Bucket semicerrou os olhos e deu um passo para frente. Do outro lado do corredor, a mulher deu um passo para trás e moveu os olhos para os lados, caçando uma saída. Mas ela estava, quase, em um beco. Ao lado dela estavam paredes, na frente estava ele e atrás a porta da biblioteca de Willy.

- Você não me parece uma das ganhadoras do bilhete dourado. - O senhor Bucket comentou.

Ele se orgulhava de ser bom em lembrar rostos e poderia apostar a fábrica que aquela mulher não estava no grupo.

- Ah, ela não é.

O senhor Bucket olhou para Willy. O chocolateiro rosnou a frase como se quisesse dar o bote.

- O que está acontecendo? - O senhor Bucket questionou olhando para o filho, que estava ao lado de Willy.

- Ela – Willy respondeu enquanto desviava os olhos da visitante, para encarar o senhor Bucket. - Invadiu minha fábrica!

Click!

A porta se fechou em sussurro, mas que pareceu ser um grito. Charlie e Willy, que olhavam para o senhor Bucket, e o Senhor Bucket, que olhava para Willy, deram tempo suficiente para que a mulher escorregasse para dentro da biblioteca de Willy Wonka e sumisse da vista deles.

Mas a fábrica ainda era aliada deles.

E o simples barulho da maçaneta voltando à posição de descano, fora o suficiente para que uma nova caça desse início.  

A Fantástica Fábrica é invadida.Onde histórias criam vida. Descubra agora