Capítulo 14

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Dóris viu o Oompa Loompa responsável pelas câmeras caminhar apressadamente pelos corredores da fábrica. Pelo caminho que ele fazia e pela tensão no rosto dele, Willy Wonka o tinha chamado para alguma reunião importante e séria.

Unir Willy, reunião e a palavra séria na mesma frase era algo raro e perigoso. Raro, porque Wonka sempre se reunia com Charlie e através de conversas informais os dois conseguiam resolver os problemas da fábrica. Perigoso, porque todas as vezes que Willy Wonka ou Charlie Bucket ficaram sérios, algo ruim aconteceu ou aconteceria.

A Ommpa Loompa já tinha visto o herdeiro irritado. Uma vez, apenas uma vez. E lembrava de como ele saía remugando pela fábrica, como quebrou dois flip-charts e logo depois entrou em uma onda de depressão, que quase ninguém conseguiu tirá-lo.

Ela também já presenciou mais de uma discussão entre Charlie e Willy. E se julgava uma Loompa de sorte por ter sobrevivido.

Ignorando a curiosidade, Dóris seguiu seu caminho, indo para a tarefa que lhe era designada.

Ϣ.Ϣ.

Willy Wonka bebeu o quinto chá de camomila que o senhor Bucket tinha preparado. Ele só não lembrava mais se era a quinta garrafa ou xícara. Charlie degustava uma barra clássica de chocolate Delícia Derrete Derrete Wonka e parecia uma criança tranquila e alheia aos problemas adultos.

Deveria aprender com ele, Willy pensou. Aprender a ficar calmo e enxergar a tormenta (ou dificuldade) como um quadro complexo e que só os adultos entendem.

– E se, só se, ela estiver falando a verdade?

Se não fosse treinado, Willy não teria escutado o pupilo lançar um questionamento tão simples.

– Nada nesta fábrica é simples. - Willy encheu uma nova xícara. - A fábrica tem personalidade, só deixa entrar quem quer, só sai quem quer. Foi muita sorte ela te amar.

O pupilo desviou os olhos da janela e os depositou sobre a barra Wonka. Estava sobre a mesa branca que havia na sala de reuniões – sala que raramente usavam – e parecia relaxado. Na verdade, perdera tanto tempo pensando em tudo o que tinha acontecido, pensando nas palavras de Lane e como ela parecia falar a mais líquida verdade, que não conseguia mais se surpreender com nada daquela história.

– Ela não me fofoca nada. - Charlie sussurrou.

– É sempre assim. - Willy retrucou pacientemente, como se fosse um pai explicando ao filho que as falhas são os tijolos do sucesso – Não dá para notar o que a fábrica te conta, até ter escutado o bastante.

– Acha que ela fala comigo?

Os olhinhos de Charlie Bucket brilhavam como no dia em que ele viu os portões pela primeira vez. Brilhavam como quando experimentou o chocolate da cachoeira. Brilhavam exatamente igual ao momento em que descobriu que a fábrica seria sua. Brilhavam como brilharam no dia em criou seu primeiro doce.

Era impossível dizer não.

– É o que acho. - Willy lhe sorriu.

No dia em que conheceu seu herdeiro, viu aquelas amêndoas crispando de felicidade e não pode negar que, revelar que o garoto teria que viver sem os familiares que tanto amava, lhe quebrou um pedaço do coração. Era cruel apagar aquela genuína alegria.

Naquela época conseguiu. Sabia ser cruel e vivia sozinho a tantos anos, desacreditados nos humanos que viviam fora de sua fábrica e lhe entupia de dinheiro, que um ato simples como dizer "não" a uma criança até lhe agradou. Mas agora, anos depois, Charlie tornou-se importante demais para ser triste. Importante demais para ser quebrado. Amado demais para que a fábrica não o amasse.

A Fantástica Fábrica é invadida.Onde histórias criam vida. Descubra agora