Não demorei para me jogar na cama e me forçar a dormir, não queria vê-la chegar. Acordei no dia seguinte com a luz do dia batendo de forma violenta no meu rosto, mas sinto muito em dizer que só não era mais violenta que minha dor de cabeça. Eu mal podia abrir meus olhos.Rolei na cama e estiquei meus braços, bocejando brevemente para evitar a piora da dor. Meu corpo todo estava doendo, o que foi que eu fiquei fazendo? Era possível eu ter perdido a consciência e ter dado cambalhotas a noite toda? Capaz.
Eu não havia aberto meus olhos quando ouvi um suspiro ao meu lado, podia estar morrendo de dor, mas ainda não estava delirando para ouvir coisas. Era hora de encarar meus medos, e tinha que começar abrindo os olhos. E foi o que fiz, mirando o teto branco com dificuldade, chegando a conclusão de que nunca mais voltaria a beber. Talvez.
: - Bom dia.
Ouvi sua voz baixa e melosa, me fazendo suspirar. Bom dia? Bom dia pra quem? Ora essa!
: - Só se for pra você, porque posso afirmar que pra mim será um péssimo dia.
Eu disse sob um gemido enquanto massageava as minhas têmporas. Larissa respirou fundo ao meu lado, puxando a coberta um pouco mais pra ela. Estava me negando a virar meus olhos para encará-la.
: - Está com muita dor? Eu posso pegar um analgésico pra você.
Fechei os olhos e esfreguei a minha testa.
: - Eu faço isso depois, não se incomode.
Eu queria que ela parasse de falar por um momento, ouvir sua voz depois da noite que se passou estava sendo mais um ponto em toda aquela situação infeliz.
: - Por que não respondeu minhas mensagens e ligações? Eu fiquei preocupada.
Bufei e me sentei na cama, esfregando o rosto com as mãos para despertar.
: - Não comece, por favor. – Pedi quase em súplica, passando uma das mãos em meus cabelos. - Não quero conversar sobre.
: - Mas eu quero.
Ela quase gritou, fazendo que eu a olhasse, e se eu soubesse não teria olhado. Seus olhos estavam vermelhos, parecia que tinha passado a noite acordada. Seus cabelos estavam bagunçados de uma forma tão linda que minhas mãos coçaram para afaga-los. O batom vermelho que ela usava na noite passada ainda estava em sua boca, um pouco mais apagado, e no corpo apenas uma camisa azul e calcinha. Foi aí que me lembrei que eu estava apenas de sutiã e calcinha, o que me levou a puxar o cobertor para cima.
: - Eu quero me desculpar, Ohana. – Negando ela abaixou a cabeça, rodando o anel que mantinha em seu dedo indicador. – Eu fui uma estúpida contigo e isso era a última coisa que eu queria ser.
Deslizei meu dedo entre minhas sobrancelhas quando abaixei a cabeça, tentando anular as batidas que eu sentia lá dentro para pensar.
: - Eu sei que parece que eu não me importo, que eu estou pouco me fudendo para tudo isso, mas olha... – Senti o colchão afundar ao meu lado quando ela engatinhou por cima dele, aproximando-se. Prendi a respiração para não inalar seu cheiro, uma dose de recaída era tudo o que eu menos queria ter. – Eu me importo, acredite. Me importo muito.
: - Se importa mesmo? – A perguntei com um sorriso de canto. A pergunta saiu tão irônica que acabei sentindo nojo de mim mesma. – Engraçado, mas eu tenho quase certeza que não se importa.
Desviei nossos olhares e me levantei da cama, sentindo-me tonta. Levei uma de minhas mãos até a nuca e apertei, respirei fundo.
: - Não diga isso. – Sua voz não era mais baixa. - Depois que me deixou naquela festa e saiu sem nem ao menos me dizer onde ia, tem noção do quanto me preocupei com você? – Ela bufou sobre a cama. - Meu Deus, Ohana, você não sabe o quanto é importante pra mim. Eu preciso que me desculpe, passei a noite em claro pensando se deveria lhe acordar ou não para que eu pudesse pedir desculpas.
Ri tristemente e me virei para ela. Ficamos nos olhando por um tempo, minha respiração vivaz açoitando minhas narinas. Eu via suas mãos inquietas em seu colo, o peito subindo e descendo debaixo da camisa azul. Não sei dizer se estava sentindo raiva, mágoa, ódio de mim, vontade de beijá-la por tempo indeterminado, ou se era mesmo vontade de sair correndo e voltar pra casa.
: - Foi um erro termos vindo pra cá sozinhas, Larissa. – Cruzei meus braços embaixo de meus seios, piscando lentamente para controlar a vontade de fechar os olhos por conta da dor de cabeça. - Acho que não vai ser uma má ideia eu pegar minhas coisas e voltar para casa. Talvez um mês longe possa fazer bem pra gente. Vai ser melhor eu passar o resto de nossas férias com meus pais.
No fundo eu não achava aquilo, no fundo eu queria passar o resto de todos os meses na companhia dela, mas aquela opção era a mais racional. Não sei contar quanto tempo, mas não demorou muito mais de três segundos para ter Larissa de pé na minha frente, suas mãos quentes no meu cabelo, seus olhos nos meus de uma maneira tão intensa que me senti desconfortável. Ela poderia tirar as mãos de mim, por favor? Ela tocava em mim porque sabia que eu era fraca.
: - Eu não quero que você vá embora. – Seus dedos desceram para o meu pescoço, me arrepiando. - Por favor, não vá.
: - Laris...
: - Me desculpa, Ohana. Diz que me desculpa, eu já sei que sou uma babaca e blá blá blá, mas... Perdoe-me. Eu quero que você fiquei. Apenas fique. Eu vim pra cá para aproveitar com você, queria um tempo só pra gente longe de tudo. Aproveitar o tempo livre que tenho na sua companhia. – Ela sorriu manhosa, os olhos brilhando nas suas conhecidas lágrimas. Meu coração batia rápido e mole. Mole? Que maldição era aquela que ela jogava em mim? - Estamos em Paris, existe lugar melhor para fazer turismo e nos divertir?
Ah, Larissa Machado, eu queria mesmo saber quais feitiços que você usou para fazer da minha vida uma eterna bagunça. Sorri de canto negando com a cabeça.
: - Não, não existe.
O sorriso que ela abriu era bobo e apaixonado? Suspirei.
: - Então vamos aproveitar tudo isso, só eu e você. – Ela me encarou durante um tempo antes de grudar seus lábios em minha testa, mantendo suas mãos em meu pescoço. Fechei os olhos e inalei aquele cheiro gostoso que só ela tinha. Cheiro de menina mulher. Quando ela ia se dar conta de que tínhamos um mundo inteiro só para nós? E eu que pensei que gostar de mulheres fosse mais fácil. - Você me perdoa por ontem?
Depois de sentir seus lábios selando minha testa, ergui a cabeça para olhá-la, descendo minhas mãos por seus braços.
: - Desculpo.
Ela sorriu abertamente, não me dando desculpas para sorrir também.
: - Isso. – Mordeu o lábio inferior me chamando atenção. - Apenas vamos aproveitar e esquecer o resto. Quem é que sabe do amanhã, não é mesmo? Apenas tenha em mente que eu não quero machucar você.
Logo ela acabou com a pouca distância que tínhamos me abraçando, e eu deixei me levar por seus braços ao meu redor. Era tão bom e desesperador.
: - Eu te odeio, garota, odeio.
Eu disse com a boca encostada na curva de seu pescoço. Ela riu baixinho contra meu ouvido, acariciando meu cabelo.
: - É recíproco, Ohana. – Sorri. - Completamente recíproco. Vem, eu vou cuidar dessa sua dor de cabeça.
Nos afastamos e eu amaldiçoei os quatro ventos quando minha cabeça latejou.
Não era como estar sarada das minhas feridas, nem como achar que Larissa estava salva de ser covarde e um pouco egoísta. Era como nos dar um pouco de paz, mesmo que o amanhã me obrigasse a exigir mais. Talvez a magia de Paris funcionasse para nós, e eu imploraria internamente por aquilo.
Bom dia!!! Estão gostando? 🥺
Talvez eu volte mais tarde com mais um capítulo. 🫶🏾
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Falling in love for the last time - Versão Ohanitta
FanfictionAdaptação da obra da escritora @gisscabeyo.