Capítulo 32 - Pesadelo real.

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Anitta POV.

2:00 da manhã.

Meu dedo indicador direito traçava incansavelmente o contorno dos meus lábios separados, minha respiração feroz saindo pela brecha oferecida por eles. Meus olhos fechados me ajudavam pacificamente em uma contagem silenciosa, números ímpares e pares sendo repetidos por minha mente inconsolável enquanto eu balançava os joelhos de um lado para o outro. Meu corpo tenso sentado sobre uma das poltronas daquele quarto, um silêncio irritante me deixando cada vez mais inquieta. O que eu sentia? Raiva, muita raiva. Os meus motivos? A ausência de Ohana. O que mais?  O ciúmes de Ohana. Mais um ponto? A rejeição de Ohana. Mais um para finalizar? A minha falta de controle.

Eu havia perdido quaisquer vestígios do meu ego quando canalizei com amargura a rejeição. O ciúme ardia, a raiva descontrolava, mas a rejeição doía. Ser obrigada a ficar sozinha foi um golpe final na paciência que eu já quase não tinha, meu ego ferido fazendo lágrimas pesadas rolarem por todo o meu rosto, pingando sem pausa na regata vermelha que eu vestia. Se existe uma coisa que você precisa aprender sobre mim, é que nunca deve me rejeitar, nunca. Jamais me deixe de lado, jamais me troque por alguém, jamais me diga com todas as letras que "não quer, não vai" fazer qualquer coisa comigo. Jamais faça isso, não se eu amar você, com toda certeza estará pisando nos meus sentimentos de uma maneira lastimável. Eu perdi as forças das minhas pernas quando ouvi da boca de Ohana que seu desejo não era dormir ao meu lado naquela noite.

Como? Por quê? Por birra? Eu não conseguia, eu não queria entender, tudo o que eu queria e precisava era dormir... Com o corpo grudado, fundido ao dela. Eu não precisava dizer, pensar, me desculpar ou fazer qualquer coisa desde que ela estivesse ali, sentada do meu lado, debaixo dos meus olhos, seu cheiro doce entrando na minha respiração e me fazendo perceber que ela era minha e de mais ninguém. Eu estava querendo matar o Diabo e o mundo no auge da minha irritação, e quando mais precisava dela, tudo o que ela fez foi me colocar para fora. Eu queria esganá-la, ou beijá-la... Não, eu queria estapeá-la, eu queria... Ela.

3:30 da manhã.

Minha cabeça trabalhava de forma eficaz, meu coração bombeando sangue tão rápido por minhas veias que fazia a pulsação no meu pescoço tornar-se feroz. Ergui os joelhos e plantei os pés sobre a poltrona, me encolhendo. Lembranças e mais lembranças me rasgavam por dentro, notificações de erros em todos os parágrafos daquela história me deixando sem ar. Eu solucei quando fui puxada pelas pernas de volta para as recordações, meu subconsciente me castigando sem dó. Ele deveria ter dó?

Lembrar estava me deixando dormente, lembrar estava me fazendo perceber o quanto eu era horrível. As lágrimas pesadas molhavam meus joelhos, escorriam por minhas coxas. Sabe qual era o gosto daquelas lágrimas que molhavam a minha boca? O gosto amargo da culpa. A raiva pela ausência da Ohana foi embora na mesma rapidez com a qual chegou, dando lugar a culpa. Uma culpa feita de remorso, arrependimento e ódio, ódio de mim, da minha desonestidade, do meu descontrole, do meu egoísmo, da minha falta de consideração.

Você prometeu que nunca mais iria machucá-la e olha só o que você fez. Você não a merece, afaste-se, deixe que ela arrume alguém melhor que você. A voz da insegurança martelava em minha cabeça cada vez mais. Logo você vai machucá-la novamente, você sempre faz isso, você nem mesmo consegue confiar nela cem por cento.

: - Eu confio... - Corri as mãos para o cabelo, curvando ainda mais a coluna.

Você ai, por acaso já foi culpada por pela mágoa da pessoa que mais ama no mundo? Já a fez chorar? Já deixou nos olhos dela aquele brilho fosco da decepção? Se você nunca teve o desprazer de fazer isso, nunca se deixe levar pela falta de controle, porque a pressão da culpa é a pior que existe, nada no mundo pode te fazer sentir mais ódio de si mesma do que a sensação de ter errado com quem amamos.

Falling in love for the last time - Versão Ohanitta Onde histórias criam vida. Descubra agora