Capítulo 02

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Os olhos de Carina se recusavam a fechar. Era a sua primeira vez dormindo em algum lugar que não fosse o seu quarto aconchegante na Itália, além do acréscimo de não confiar nem um pouco em qualquer pessoa da família Bishop. Estava deitada no colchão aos pés da cama da caçula e criava em sua cabeça a cena em que ela atiraria o corpo em cima de si com uma faca afiada apontada em seu pescoço.

— Carina, está acordada? — a voz rouca de Maya chama o mais baixo possível, a suavidade enganaria alguém que não a conhecesse — Carina?

— Oi. — diz com frieza.

— Eu devo desculpas a você, sobre o que aconteceu no jantar. — ela continua com o tom ameno e Carina consegue perceber quando a sua cabeça aponta para fora da cama, fitando a italiana — Somos uma família agora e acho que merecemos um diálogo.

Carina estende a mão e acende o abajur, deixando em evidência o rosto de Maya. Era boa em ler fisionomias e a loira parecia verdadeiramente arrependida. Bufou e se levantou do colchão, caminhando até uma de suas malas e pegando o kit de primeiros socorros.

Maya observou a movimentação da maior e se apressou em colocar um cobertor na fresta da porta, seu pai odiaria saber que está burlando a rotina de sono. Ela voltou a se sentar, mas desta vez no colchão em que Carina dormia no chão. A italiana voltou a se aproximar e se sentou ao lado de Maya, que não demorou em entregar a sua mão machucada.

— O seu pai não perguntou do sangue? — questionou, se lembrando que a loira passou o resto da noite enrolando a mão em guardanapos.

— Não. Para ele só é importante se influencia de alguma forma na minha carreira.

— Não banque o Rambo, poderia ter perdido o movimento de algum dedo. — a italiana diz com um sorriso fraco, não são ferimentos tão extensos, então ela limpa com antisséptico e aplica uma pomada cicatrizante — Então, já que só é importante o que diz respeito a corrida, você tem toda a atenção e Mason não tem nenhuma, certo?

— Mason é difícil de lidar. — ela dá de ombros — Eu sei que as garotas da nossa idade gostam de bad boys, mas não te incomoda que sejamos praticamente irmãos?

— O quê? — Carina sorri incrédula.

— Você fez questão de levá-lo no seu carro, eu vi pelo retrovisor quando você alisou o rosto dele. — insinuou — Eu errei em confrontá-la daquela maneira, mas continuo desaprovando que flerte com o meu irmão.

— Fico aliviada que não viu quando bati uma pra ele durante o trajeto. — disse séria e viu quando uma expressão de nojo rasgou o rosto de Maya, caiu na gargalhada logo em seguida — Eu não estou flertando com o seu irmão, Maya, per Dio*, não acredito que pensa isso. É normal que eu toque as pessoas, sou italiana, nós trocamos beijinhos quando somos apresentados a alguém.

— Então você não bateu uma pra ele? — se certificou — Isso serve, eu realmente te devo desculpas, entendi tudo errado.

— Desculpas aceitas. — diz acariciando o rosto de Maya, assim como a loira insinuou que havia feito com seu irmão — Para caso esteja com ciúmes.

Pensou ter visto a pupila da loira se dilatar e perguntou a si mesma quando foi a última vez que ela havia recebido afeto de alguém, já que o seu pai era mais um treinador rígido do que um criador amoroso.

Maya migrou para sua cama e apagou o abajur, murmurando um "boa noite" antes que as duas pegassem no sono.

***
Apesar de ter dormido consideravelmente tarde, Carina presava por sua rotina e acordou cedo como sempre. Enfiou-se no banheiro e lembrou de trancar a porta que dava acesso ao quarto dos rapazes, preferiu o chuveiro à banheira, nada supera a sensação de ter a água fria resvalando em toda a extensão de seu corpo.

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