Capítulo 06

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Lucia DeLuca é uma mulher dedicada e uma das suas paixões mais latentes sempre foi a cozinha. Se lembra claramente do dia em que fez sua primeira massa fresca com o auxílio de sua já falecida mãe e toda a alegria que aquilo a fazia sentir.

Não distante da sua paixão por culinária, estava a sua paixão por pessoas. Sempre muito extrovertida e sorridente, a mulher conquistava muitas pessoas ao seu redor, fosse como amigas ou amantes. Seu grande coração e mão cheia para cozinha, a levavam a cozinhar para os seus amores sempre que possível, primeiro para os seus filhos e depois para os maridos e namorados, sentia prazer em se sentir habilidosa o suficiente para fazê-los suspirar em cima de um prato bem feito.

— Acordou cedo hoje. — seu noivo a abordou na cozinha. Ele sempre acordava mais cedo, porém hoje Lucia decidiu que estaria de pé antes e faria um café da manhã mais digno do que uma batida de proteínas — Acha que estará pronto até eu descer com Maya.

— Na verdade eu queria falar com você. — a mulher o interrompeu. Mesmo confuso, Lane se sentou em uma das cadeiras disposta na cozinha e aguardou que ela falasse — Maya e Carina estão tendo algo.

— Algo tipo?

— Uma interação romântica ou seja lá o que eles chamam hoje em dia. — concluiu e se apoiou na pia, avaliando a expressão do rapaz.

— Uma "interação romântica"? — ele sorri sarcástico — Não há nada de romântico nisso, Maya está provavelmente só experimentando, vai passar.

— "Vai passar"? Essa é a sua resposta?

— Eu conheço a minha filha, ela não é disso. — ele dá de ombros — Só avise a Carina que não suponha coisas.

— Então quer dizer que a minha filha pode ser lésbica, já a sua não pode. — o tom de mágoa é perceptível na voz de Lucia.

— Eu não disse isso. Não tenho nada contra você ter uma filha gay, mas a minha família funciona diferente.

— Oh, Dio Mio! — para a surpresa de qualquer um que a conheça, Lucia levanta a voz — Pois eu vou falar pra você como a minha família funciona, Lane! Eu estou fora desse casamento e dessa droga de controle bizarro que você mantém com as pessoas ao seu redor!

Num movimento rápido, ela retira a aliança de noivado e a atira em direção ao homem. Lucia sai a passos largos do cômodo, mas sente a mão de Lane a segurar pelo braço antes que possa subir as escadas.

— Se você sair, saiba que eu não estou disposto a ficar correndo atrás de você, Lucia.

— Eu não poderia estar mais feliz com isso, Lane.

***
Mesmo que alguns minutos atrasada para a sua corrida matinal, Maya não pôde deixar de admirar a beleza da italiana ao seu lado antes de levantar.

Carina tinha um dos rostos mais lindos que já havia visto, tudo parecia se encaixar perfeitamente e ela era sigilosamente apaixonada pela pinta embaixo de sua boca.

— O que está olhando, stalker? — a italiana questionou finalmente abrindo os olhos, se sentia observada todas as manhãs e agora sabia exatamente o porquê.

— Só estava conferindo se estive sonhando ou fiz amor com a mulher mais linda do mundo ontem. — ela sorriu boba.

— Amor? Estamos pulando algumas fases, não?

— Eu não ligo. — a loira se inclina para capturar os lábios de Carina, mas são interrompidas por batidas insistentes na porta.

Já imaginando a grande bronca pelo atraso, Maya pragueja e se afasta da morena, se atirando sem jeito em sua própria cama, onde deveria ter dormido na noite anterior.

Após várias batidas impacientes, a porta finalmente se abre revelando a imagem de Lucia, ela parece insatisfeita com algo. É claro que não passa despercebida pela mais velha a inquietude das duas meninas por terem sido pegas surpresa, mas ela ignora a situação.

— Carina, faça suas malas, nós estamos indo.

— Como assim estamos indo? O casamento é amanhã. — a morena questiona.

Figlia, per favore.

Lucia não precisa dizer mais uma vez, Carina se levanta em seus pijamas e começa a arrumar as malas o mais rápido que pode.

Sem reação apropriada, Maya se levanta e caminha até a porta do quarto, onde consegue enxergar Lucia dando as mesmas instruções para o filho mais velho. Lane está estático em uma pose prepotente no andar de baixo, não seria o homem que corre atrás de uma mulher, não fez isso nem quando a mãe de seus filhos abandonou o casamento.

Em poucos minutos, toda a família DeLuca estava disposta na varanda, aguardando o táxi que os levaria até a balsa de volta para a cidade. Nenhum dos filhos de Lucia precisaram de uma explicação para seguir a mãe por onde quer que fosse, Carina em particular se sentia perdendo uma parte de si ao se afastar de Maya, mas não questionaria os motivos de sua mãe.

Apesar de não esclarecer os acontecimentos para os gêmeos, todos do lado de fora escutaram Lane dizer:

— Você sabe o que acontece se ultrapassar essa porta, Maya.

E foi a última vez que Lucia DeLuca escutou a voz daquele homem.

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