XLV

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De todos os animais selvagens, o homem jovem é o mais dificil de domar.

Platão

Eles estavam me esperando na entrada de Howard, todas minhas malas já estavam arrumadas e lá quando eu voltei para Howard ao lado de Juliette.

- Eu... Quero me despedir de Pocah... - Juliette concordou - Ela está no tratamento, irei pedir para um enfermeiro acompanhar você até lá - então ela chamou um dos enfermeiros que me conduziu até a sala onde o tratamento da minha amiga estava sendo feito.

Se o dia de hoje estivesse acontecendo a messes atrás, eu ficaria muito mais feliz, provavelmente já estaria num barco pronta para sair daqui com um sorriso no rosto, iria me sentir ansiosa para ver meus amigos novamente, ir tomar café no Sweet sun junto com minha namorada e Gil, O.K talvez Sophia não estivesse nesses planos, eu iria estar animada para conhecer o namorado de Gil também, mas ele não estava acontecendo antes, estava acontecendo agora, quando eu já tinha passado por todas as coisas que passei... Agora tinha Juliette, minha amiga Pocah, foram as únicas coisas boas que Centralia me trouxe, e eu me sentia grata por isso, o que eu sinto por Juliette... Não consigo colocar em palavras, é algo único, não de momento como Pocah disse várias vezes que era, não era só desejo, era diferente, e me doía tanto a possibilidade de nunca mais ver ela, Juliette não estava lutando por nós, queria me esquecer, e eu não podia fazer nada além de aceitar, não se pode obrigar alguém a ficar, se fosse olhar com olhos frios como o de Pocah, sim era o melhor, mas eu não conseguia, estava olhando com os olhos do coração, talvez por isso doesse tanto, nem quando Sophia mentiu que eu havia a beijado a força eu fiquei tão destroçada como agora... E em Pocah, eu havia visto uma amiga, como eu só tinha Gil antes, ela me entendia e não me julgava por eu ser quem era, nunca imaginei que me sentiria tão mal por deixar coisas em Centralia.

Assim que o enfermeiro voltou, junto com minha amiga, eu não consegui conter lágrimas, me perguntava quando conseguiria parar elas, fui até a negra lhe abraçando, Pocah mesmo confusa retribuiu o gesto.

- O que está acontecendo? - perguntou confusa.

- Algo bom eu acho - respirei fundo me afastando - Meus dias em Centralia chegaram ao fim - ela arregalou os olhos surpresa.

- Isso é bom... Mas como?

- Estou curada - ela ergueu uma das sobrancelhas negando com a cabeça.

- Que benção! - zombou.

- Vou sentir saudades.

- Eu também vou... De falar com alguém que não baba - ri olhando para ela - Não vou pedir para vir me visitar.

- Eu já esperava isso - revirei os olhos. Ela já havia me falado algumas vezes que oque acontecía em Centralia, ficava em Centralia, eu não concordava com isso, mas ela me fez prometer que não iria a visitar.

- Tente ver Howard como uma página virada - disse olhando nos meus olhos - Uma página que aos poucos o tempo vai apagar as letras.

- Minha memória é muito boa.

- Não vejo isso como qualidade na maioria das vezes.

A conversa com ela foi curta, mas boa e completa ao mesmo tempo, algo curioso foi que mesmo depois do adeus eu senti que não era o fim, que iria ver ela novamente, então, sai com um sorriso enquanto Pocah ia novamente para seu tratamento, Juliette iria me esperar junto aos meus pais, então no corredor que levava até eles, uma ideia, uma chama, queimou. Então com um sorriso me virei para o enfermeiro alto e ruivo que estava ao meu lado.

- Você teria papel e caneta?

...

Quando cheguei até eles, papai estava sorrindo, parecia feliz, mamãe não estava diferente, Juliette era o único contraste ali, ela falava com eles mas seu olhar parecia perdido, ela não estava feliz com o adeus. Engoli em seco quando os olhares deles me encontraram, minha mãe foi a primeira a correr até mim e me abraçar, meu pai logo se juntou a nós, eu tentei retribuir, mas meus olhos estavam fixos em Juliette que tinha um sorriso nos lábios, embora não parecesse nem um pouco feliz.

- Sabíamos que isso seria o melhor para você! - mamãe disse chorando abraçada em mim.

- É, foi bom - quando eles me largaram, chorando emocionados e felizes por acharem que eu estava "curada" minha mãe voltou até Juliette.

- Não sabe como somos gratos, você salvou nossa filha! - Vi as bochechas de Juliette ficarem vermelhas e ela baixar o olhar sussurrando algo em resposta à minha mãe.

Enquanto eles conversavam eu olhei ao redor, Howard... Talvez eu tenha sido uma das únicas a sair bem daqui, e isso era bem triste, vivíamos em uma realidade onde coisas diferentes eram erradas, ser como eu sou me fez vir para Centralia, assim como outras pessoas, eu só desejava que elas conseguissem sair bem assim como eu, eu esperava que um dia as coisas fossem diferentes, que não fosse certo trancar alguém ao lado de assassinos e doentes mentais só pela pessoa gostar de pessoas do mesmo sexo, ou ter uma crença diferente da convencional. Um mundo onde tudo fosse perfeito era muito surreal, mas sonhos não precisam ser fiéis à realidade, precisavam só ser bons.

- Acho que você deveria ir até lá com eles - ouvi ela falar, olhei para ela com um sorriso de lado, Juliette continuava com aquele olhar perdido, e isso partiu meu coração.

- Sim, é o melhor né - ela concordou com a cabeça - Nunca fui muito boa em escolhas - tirei o papel do bolso da minha calça e entreguei para ela, Juliette só me olhou com uma das sobrancelhas levantadas - Essa sim vai ser a resposta definitiva. Até Juliette.

Me virei e segui meus pais que estavam indo a caminho do barco que levava as pessoas para fora de Centralia deixando Juliette para trás, mas eu tinha fé que não por muito tempo. Quando minhas malas já estavam dentro do barco, assim como meus pais, eu me arrisquei a dar uma última olhada para a figura distante de Howard, muitas coisas aconteceram aqui, e algo me dizia que isso era uma despedida definitiva de Howard, e na verdade eu estava bem por não precisar mais estar na ilha.

- Adeus Centralia - disse antes de entrar no barco e rumar para longe da ilha.
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Fim.

Madhouse (Sariette)Onde histórias criam vida. Descubra agora