Escuto conversas paralelas no quarto 186.
-Desliguem os aparelhos.
Por um momento eu penso ''nossa, tomar uma decisao dessas deve ser muito doloroso''.
Mas eu lembro...
Lembro que minha mãe esta internada...
Lembro da sua dor...
Lembro dos momentos antes do acidente...
Lembro que ela está no quarto 186.
Automaticamente entro em desespero, procurando o meu pai por todo o hospital pra tentar controlar essa situação, me lembro de ser carregada para fora do hospital gritando, possivelmente uma crise de pânico, a minha primeira crise de pânico.
Minha mãe era uma viciada, ela bebia todos os tipos de bebida alcoólica, fumava os cigarros ''tradicionais'', maconha e usava outros tipos de droga, ela sim tinha problemas, e esses problemas causaram sua morte.
CAUSA DA MORTE: decepção amorosa, dentro de um casamento.
Nunca entendi o luto, se era algo passageiro, duradouro, duvidoso ou permanente, mas agora eu sei, o luto é algo que pra alguns dói todos os dias, pra mim doeu uma semana. Nunca considerei minha mãe, nunca cogitei em levantar um dedo se quer para ajudar ela enquanto estava de ressaca, ou quando passava mal por conta de tanta coisa que ela ingeria, ou quando ela dava a louca procurando moedas pela casa para comprar drogas, ela nunca vendeu nada nosso, ou melhor, meu, ela era uma viciada, mas entendia o peso da vida.
A primeira semana foi um caos, em um lado estava meus parentes brigando pelos bens q nem os pertencia, do outro estava meu pai, se afogando na bebida, e no meio estava eu, segurando todo esse peso, tentando controlar todas as emoções, seja elas minhas ou dos meus tios, tias, primos ou de qualquer pessoa que achava que tinha o meu sangue. Pela manhã, eu consolava meu pai, tentando afastar ele de todas as maneiras possíveis do álcool e de qualquer substancia que o faria dependente. Pela tarde, eu ajudava qualquer pessoa que estava em minha casa, e pela noite, eu me desmanchava em lágrimas, a única forma que eu tinha para me sentir mais leve, e ao mesmo tempo, mais pressionada.
Eu não aguentava mais tudo isso, e decidi que eu tinha duas semanas para sair daquele inferno, então contratei uma pessoa para ajudar o meu pai, peguei o dinheiro que ele provavelmente gastaria em bebidas e comprei tudo que ele precisava em 6 meses, e me mudei para Solvang para morar com as minhas avós, e sim, avós, um casal lésbico.
E lá foi onde eu passei o resto dos dias que eu estimava ter, comecei a fazer terapia, ter um acompanhamento psiquiátrico, mas mesmo assim não impediu as merdas que estavam por vir, não impediu a depressão.
Depois de dois anos da morte da minha mãe, veio a do meu pai que já não aguentava mais tudo isso.
CAUSA DA MORTE: overdose.
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As cinco fases do amor
RomanceLetícia sempre sofreu, em casa, na escola e em todos os ambientes que frequenta, o que fez sua infância ser extremamente caótica e traumática. Com uma mãe viciada e um pai super conservador, nunca teve local de fala, e nem local para ação, mas desde...