- MILO! MILO!!! - Continuava gritando o nome dele enquanto corria em sua direção - Milo, calma por favor!
Ele não corria, mas andava rápido com passos longos. Ele não aguentava mais discutir com a Bárbara, ele tinha descobrido coisas de mais.
- Olivier... Vai pra casa, tá tarde é perigoso - falou pela primeira vez tentando me fazer desistir, não olhou para mim, mesmo que tenha parado de andar.
- Milo, olha pra mim, vamos conversar...
- Olivier, eu nem sou o milo! - ele gritou, com raiva e tristeza virando de lado ainda sem olhar para mim - eu nem sei quem eu sou... - sussurrou deixando uma lagrima cair de seu rosto - você fica gritando "Milo", a Bárbara fica gritando "Miguel", eu nem sei mais.
Ele iria voltar a andar para não sei onde, mas eu pude agarrar seu braço antes, forçando ele a virar o rosto em minha direção com uma mão na nuca dele, mas ele insistia em olhar para o chão- Eu posso até não saber qual o seu nome, mas eu sei quem você é! Você foi quem ajudou a minha família riquinha e mimada a levar as nossas malas pra mansão sem receber nada, você que lutou contra um javali no meio da floresta, você quem me apresentou a ilha e fez eu odiar menos esse lugar, você deu um soco na cara de um garoto por ter roubado um gato de uma criancinha, você que ajudou a minha irmã que foi arrogante com você depois de ela quase morrer, e depois quase morreu tentando proteger a minha família de cachorros selvagens e cobras, você que se esforça pra animar essa cidade tocando banjo, você que tá fazendo isso tudo tem só dois dias.
Finalmente ele me olhou com, os olhos cheios de lágrimas.
- Mas eu sou só uma farsa, eu fiz todos da ilha mentirem pra mim por anos, só pra eu não achar que eu era louco, e eu acho que eu sou sim louco!
- Milo, você não é louco, e olha que eu já conheci gente louca. Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço, não é só porque você tem um transtorno psicológico que você não deixa de ser a... A melhor coisa dessa ilha.
Confesso que fiquei vermelho ao lembrar do que disse pra ele ontem, mas isso não importa, ele só vai ser meu amigo. Foi isso que eu pensei, até ver ele levantar a cabeça e olhar nos meus olhos.
O Miguel era corajoso, mas eu não sou como ele. - ele começava a ficar vermelho como eu, enquanto me olhava com inocência - Você acha mesmo que eu sou... Corajoso? - E ele ficava tão lindo me olhando daquele jeito.
Acho que eu posso ter travado por um minuto, acho que o mesmo pode ter acontecido com ele, acho que eu botei minha outra mão na nuca dele, e que ele jogou no chão a lamparina e colocou a mão na minha cintura, talvez eu ache que olhei pros lábios dele, talvez, mas só talvez ele esteja olhando pros meus até agora.
- Eu tenho certeza! Se eu tivesse um terço da sua coragem eu talvez eu pudesse...- repenso, voltei meu olhar aos olhos dele, ele continuava olhando a minha boca, minha pele queimava como se eu tivesse comido pimenta, a mão dele me puxou pra mais perto, consequentemente aproximando nossos rostos, por sequência, nossos lábios.
Coloquei minha mão em seu cabelo ondulado e o puxei para mais perto, o suficiente para selar nossos lábios, ele segurou mais forte a minha cintura e passou a mão pelas minhas costas. Nunca tinha beijado alguém como beijei ele naquela noite. Sentia um frio na barriga enorme, sua pele estava quente e parecia estar esperando por isso faz algum tempo. Ele me apoiou em uma árvore, nos fazendo ficar mais próximos o possível. Dava pra sentir os batimentos dele, parecia uma luta pra qual era o coração mais acelerado. Continuei o beijando por tempo o suficiente pra ficar sem folego, assim afastando as nossas bocas, porém mantendo nossas testas coladas, ainda com olhos fechados, só era possivel escutar nossa respiração ofegante e sincronizada.
- Eu gosto de você, Olivier, mas eu não sei se isso é bom pra você - Ele disse apoiando sua cabeça em meu ombro e me abraçando forte, não como se quisesse me beijar novamente, mas como se quisesse se despedir.
- Eu gosto de você, Milo. - Ele novamente olhou para mim com aqueles olhos profundos e castanhos - Mas se você quiser eu posso gostar de você, Miguel.
Ele me deu um selinho, que se tornou um beijo, dessa vez calmo e delicado. Nos separamos depois de alguns minutos e ficamos encarando um ao outro com cara de bobo e sorrisos enormes. Rimos um de nós mesmos vendo o que tinhamos acabado de fazer.
Seguimos pra mansão de mãos dadas, com troca de selinhos e carícias ao longo da caminhada, era até bem romântico se parar pra pensar. Finalmente lá vimos Amelie e Bárbara conversando no sofá, elas pareciam mais calmas também, e estranhamente alegres. Quando chegamos elas nos olharam com estranhamento.
- Querem compartilhar algo com a turma? - minha irmã riu apontando paras nossas mãos entrelaçadas, que na mesma hora soltamos olhando para direções opostas e dando respostas controvérsas para o acontecimento.
- Acho melhor a gente ir dormir lá em cima juntas e deixar os pombinhos "conversarem" - falou Bárbara também rindo e indo para o andar de cima a acompanhada de minha irmã.
Sem ao menos nos olharmos sentamos no sofá, os dois se esforçando pra não olhar um nós olhos do outro e apenas soltando ora "ehhh" e ora "então...". Tinha tensão no ar, não dava pra negar, estavamos agindo feito um casal de adolescentes que deixa todo mundo desconfortável na rua a cinco minutos atrás, agora não duvidaria se um de nós soltasse um "e o tempo, né?". Ele de repente riu, soltou uma risada melódica que me fez questionar:
- Eu fiz algo?? Desculpa!
- Não! Não é isso. É só que... Eu tô tão feliz de ter feito isso com você... - ele segurou a minha mão e se aproximou de mim - Você pode me chamar de Milo ainda, se quiser
- Você é tão fofo, que ódio - ri da cara dele - eu tô feliz de ter ido atrás de você. - E mais um selinho pra conta. - Você é perfeito, Milo - mais um selinho.
- OLIVIER???? - Uma voz aguda me chamou do andar de cima - VOCÊ TA BEIJANDO UM POBRE??
- CALA A BOCA AMELIE! EU TÔ OCUPADO! - Respirei fundo antes de voltar a olhar pro Milo - enfim, onde a gente tava?