Prólogo

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Brasil, Vila Rica, 1808

José Maria Cordato Mendel Rubião nunca quis pensar em casar-se. Casamento era sinônimo de perder a sua liberdade e, definitivamente, Rubião não pretendia perder as maravilhas da vida de solteiro. Sua grande dedicação era o trabalho, o qual realizava com zelo e se destacava ao ser o intendente da coroa real na colônia. Com seu trabalho, acumulou bens e propriedades, podendo viver com tranquilidade e com o luxo que a época lhe permitia.

A chegada da corte real e de boa parte da aristocracia portuguesa ao Brasil, que buscava refugiar-se do avanço de Napoleão Bonaparte em Portugal, movimentou o país nos últimos meses. Era inédita a mudança da sede do reino para a colônia nas terras quase que recém-descobertas, o que deixou a população eufórica, em especial os funcionários aliados à corte portuguesa. Junto à comitiva, voltaram ao Brasil a família Raposo, no qual a presença de Rosa se destacou para o intendente da corte. O encantamento fora instantâneo pela recém-chegada, mas em poucos dias Rubião também conheceu a frustração.

Após uma discussão em praça pública, Rubião não perdeu tempo ao declarar voz de prisão para o rapazote que ousava desafiá-lo e importunar Rosa, seu interesse amoroso. Xavier Almeida, também recém-chegado à Vila Rica, fora preso por desacato à autoridade, uma vez que quis enfrentar Rubião em um duelo e ousou pisar em seu pé para desestabilizá-lo e levá-lo ao chão, um ato demasiado covarde para o intendente.

Pensando estar livre do delinquente, Rubião foi pego de surpresa ao ser procurado pelo próprio Dom Raposo, questionando-o se sua filha, Rosa, não o havia procurado. Tamanha foi sua frustração ao chegar na cadeia de Vila Rica e encontrar a mulher conversando dentro da cela com o rapazote que a importunava e com Branca Farto, aparentemente prometida a Xavier em casamento desde criança.

– Rosa, o que você está fazendo aqui? – Dom Raposo questionou, adentrando a sela ao avistar a filha

– E o senhor? – A mulher retrucou

– Não faz pergunta! – Ralhou o mais velho – Você enlouqueceu? Veio se meter num calabouço, atrás de um desconhecido!

– E comprometido! Meu noivo. – Pontuou Branca, dirigindo um olhar mortal para Rosa

– E você, quem é? – Dom Raposo questionou, dirigindo-se a Branca

– Filha de Diogo Farto. – Rubião respondeu, após constatar, contrariado, que Rosa fora atrás do rapazote que lhe desrespeitou – Então esse é seu noivo? O tão esperado rapaz de Coimbra... – Questionou para Branca

– Vamos para casa, Rosa. Venha! – Dom Raposo interveio, puxando a mulher pelo braço

– Estimo que o senhor fique bem. Com licença! – Rosa saudou Xavier, acatando a ordem de Dom Raposo para saírem do calabouço

A raiva de Rubião por aquele rapazote audacioso crescia ainda mais. Após observar Rosa e seu pai saindo do calabouço, Rubião adentrou a sela, olhando o rosto extremamente machucado de Xavier. A surra que encomendou fora dada, Rubião constatou. Esperava que, dessa maneira, o delinquente entendesse o recado e se mantivesse longe de Rosa, muito embora começasse a perceber que a própria moça lhe tornaria difícil seus planos de desposá-la.

– Senhorita Branca, se preferir, posso deixá-la a sós com o seu noivo... que está aqui por causa da senhorita Rosa Raposo. Sabia que ele se bateu por causa dela? – Rubião comentou, olhando fixamente para o "casal" a sua frente

Branca, que possuía um sorriso genuíno em seu rosto ao pensar que receberia a oportunidade de um instante a sós com Xavier, enfureceu-se ao descobrir, pelo intendente Rubião, que o motivo da prisão de seu noivo era a mulher recém-chegada a Vila Rica.

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