Capítulo VII

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Rubião lembrava-se perfeitamente de alguns raros casos que ocorreram em Vila Rica. Não era comum e nem apropriado, mas alguns raros casais contraíram matrimônio no tempo mínimo de três semanas. Claro, necessitava considerar o fato de que tais casais o fizeram porque, muito provavelmente, a moça fora desonrada antes de receberem o sacramento, mas o ponto é que era perfeitamente possível realizar um matrimônio em um período tão curto. "Seria de bom tom casar-me com Flávia em três semanas?" questionava-se, temendo não resistir à pequena diaba que, certamente, fora enviada para enlouquecê-lo.

— Solicitarei urgência na vinda de um novo vigário para Vila Rica. — Sussurrou, decidido a apressar o matrimônio

... 

O dia ainda não havia amanhecido quando Ascensão e Virgínia saíram do casebre em que a curandeira morava e tratava das pessoas que a procuravam. Por mais que fosse perigoso as duas sozinhas naquela mata e até mesmo na cidade — uma bruxa e uma prostituta, prato cheio para pessoas sem coração e desmioladas —, ainda assim ela sabia que aquele era o melhor horário para deslocar Virgínia e passar a cuidar dela no conforto da casa em que a bordelenga vivia.

Quando os primeiros raios de sol surgiram no céu, a curandeira parou a carroça em frente ao bordel, descendo Virgínia com dificuldade devido à fraqueza da mulher. Virgínia ainda gemia de dor devido às pancadas que levara e caminhar ainda era uma tarefa custosa, de modo que Ascensão necessitou apoiar todo o peso da mulher em si e caminhar devagar, um passo de cada vez, até que estivessem — finalmente — dentro do bordel. Assim que adentraram, notaram o caos entre as mulheres que conversavam nervosamente enquanto andavam de um lado para o outro. 

— Tudo está estranho nessa cidade. Primeiro o sumiço da madrinha e agora até o intendente parece que enlouqueceu. — Vidinha comentou, perturbada

— Como assim enlouqueceu? O que aquele demônio fez? — Gironda perguntou, estranhando a informação

— Você não soube? Ele enviou comida pra Cidade Baixa. — Mimi respondeu

— Ele está estranho desde a chegada dessa tal noiva. — Vidinha acrescentou

— O demônio deixou de ser demônio? — Gironda sussurrou, incrédula

Os ouvidos de Virgínia, que se acostumaram a captar qualquer ruído que pudesse servir de alerta e qualquer informação preciosa, não deixaram passar a breve conversa das mulheres. Entretanto, não teve tempo suficiente para raciocinar sobre o que havia escutado. Assim que pisou na sala do bordel, a conversa se encerrou e as mulheres olharam em sua direção, espantadas com o seu estado.

— Misericórdia! O que que foi isso, madrinha? — Vidinha gritou, correndo em direção das duas para auxiliar Ascensão a carregar Virgínia

— Coitada, madrinha! — As mulheres exclamaram, assustadas

— Está tudo bem com a senhora? — Mimi questionou, correndo também para ajudá-las

— Eu estou... eu estou bem. — Virgínia respondeu, ofegante pelas pontadas de dor que sentia

— Ela está muito fraca. — Ascensão informou — Precisa repousar. E precisa de silêncio, meninas.

— Fechem a boca, suas matracas! — Vidinha repreendeu às mulheres, apoiando o peso de Virgínia em seus braços enquanto a ajudava a caminhar

— Vamos levar ela pro quarto. — Ascensão orientou

Com cuidado, as prostitutas ajudaram Virgínia a subir as escadas e arrumaram a cama da mulher, deitando-a sobre o colchão em seguida. Enquanto Ascensão a ajeitava sobre a cama, deixando os travesseiros de modo a elevar o tronco da mulher, as mulheres se colocaram ao redor da cama, olhando para Virgínia com preocupação.

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