Capítulo III

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- Estava à sua espera, senhor intendente. - Falou, o chamando com o dedo indicador

...

Rubião sentiu seu sangue ferver. O que diabos essa mulher pensava que estava fazendo? Desde quando ela pensava que tinha algum direito para agir de tal maneira, ainda mais com a presença da senhorita Flávia em sua casa? Flávia... não, ela não poderia presenciar tal cena, seria demasiado desastroso. Alarmado, Rubião saiu para fora do seu quarto e averiguou rapidamente se a porta dos aposentos de sua hóspede seguia fechada.

- O senhor não está feliz em me ver? - Questionou, estranhando a reação do patrão

Cerrando os punhos com força, Rubião retornou para o seu quarto e fechou a porta, evitando fazer barulhos que o denunciassem enquanto olhava para Anita com severidade. Buscando o vestido da mulher no chão, Rubião jogou sobre ela, sem cerimônia.

- Vista-se imediatamente e se retire daqui! - Ordenou, com a voz firme, embora usasse um tom moderado

Anita estava confusa. O que estava acontecendo com o intendente? Ele sempre foi receptivo para com ela, agora parecia irritado por estar ali... havia algo de errado com ela, talvez? Com a expressão de estranhamento, a mulher se levantou da cama e se aproximou de Rubião, tentando tocá-lo, mas o intendente segurou seu pulso com firmeza.

- Não insista, Anita. Quero que saia e que nunca mais invada os meus aposentos, está me entendendo? Vista-se e saia daqui! - Rubião ordenou outra vez

- Jamais me rejeitaste, senhor intendente. - Lamentou, atordoada

- O que eu faço ou deixo de fazer não está em discussão. Esta é a última vez que vou repetir, não me faça tirá-la daqui a força. Vista-se e retire-se! - Respondeu, em um tom ameaçador

Sentindo-se humilhada, Anita se afastou e vestiu as suas roupas, esforçando-se para segurar as lágrimas que faziam seus olhos arderem. Rubião dirigiu-se até a porta e, após conferir outra vez que Flávia não havia saído do seu quarto, fez sinal para que Anita saísse em silêncio. A preocupação por Flávia era nítida e não passou despercebida pela criada que sentiu crescer a raiva pela humilhação ao constatar que fora rejeitada por culpa da presença da ilustre hóspede do seu patrão. "Tudo por culpa dessa mulher", pensava, indignada, enquanto se dirigia para a pequena casa em que morava aos fundos do terreno.

Rubião suspirou aliviado por ter conseguido se livrar dessa situação sem que Flávia fosse envolvida. Não queria ter problemas com ela, muito menos por culpa de Anita. Ah, mas ainda teria uma conversa séria com a criada, para deixar muito claro que ela não tinha o menor direito de procurá-lo daquela forma, invadindo os seus aposentos, muito menos estando Flávia, tão distinta dama, hospedada no quarto ao lado. Massageando a têmpora, Rubião fez a toalete, preparando-se para tentar dormir, afinal, quanto mais cedo dormisse, mais rápido veria Flávia outra vez, ponderava como consolo.

No quarto ao lado, Flávia estava sentada na cama, encarando o espelho na espécie de cômoda que possuía no espaço. Um pouco mais de 24 horas haviam se passado, Flávia não sabia como voltar para o seu século e sequer podia compartilhar tudo isso com Vandinha, sua melhor amiga... "Você faz muita falta, amiga, nunca mais reclamarei dos seus puxões de orelha", pensou, fechando os olhos com força.

- Talvez você me ajudasse a descobrir o que fazer para voltar, o que fazer com ele e com tudo o que ele me faz sentir... - Flávia sussurrou, lembrando-se de Rubião - Parece ironia lembrar que conversamos sobre como eu deveria buscar uma mudança na minha vida, mas acho que essa mudança foi brusca demais. - Riu fraco

Definitivamente, tinha que haver alguma forma de voltar e Flávia daria um jeito de descobrir. Suspirando de cansaço, realizou sua higiene matinal e se recolheu, esperando que pudesse pensar com clareza no outro dia e conseguisse voltar para o seu tempo antes que a convivência com José Rubião saísse do seu controle.

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