Capítulo V

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- Eu exijo a verdade, Flávia! Não ouse continuar mentindo! - Ordenou - Fala de uma vez! - Aumentou o tom de voz

- Você quer a verdade? Tudo bem então. - Flávia gritou, enxugando outra lágrima - Eu não te contei como vim parar aqui porque eu simplesmente não sei, José. E eu não sei como eu vim parar aqui porque eu não pertenço a esse século. Eu vim do ano de 2022. Satisfeito?

...


Rubião não conseguia acreditar no que estava escutando. Ele, no fundo, não acreditava que Flávia seria capaz de tamanha traição e desejava ardentemente que a sua intuição não estivesse sendo enganada pelo seu coração apaixonado, mas a resposta que obteve não serviu de nada para acalmar a alma do intendente, muito pelo contrário. Rubião esperava qualquer tipo de explicação - até estava pronto para, dolorosamente, escutá-la falando que, de fato, era uma rebelde infiltrada -, mas ouvi-la dizendo que não pertencia àquele século fora, definitivamente, a justificativa mais ridícula que já escutou em toda a sua vida.

Por outro lado, o coração do homem falhou algumas batidas ao observar o medo estampado no olhar da mulher que tanto amava. E, por trás do medo, também via sinceridade. Em outra época poderia julgar-se louco por "cair" na armadilha que o amor poderia lhe pregar, por enxergar uma verdade onde, talvez, não existisse, por tentar resolver a situação da maneira mais pacífica que conseguia - antes da chegada de Flávia ele, certamente, apontaria uma arma sem nenhum remorso para o suspeito -, por tentar levar aquela situação da melhor maneira possível.

O problema é que não era qualquer pessoa que estava sob investigação naquele momento, era a mulher que havia quebrado o gelo do seu coração e o conquistou em poucos dias, era a mulher que pretendia se casar, era a mulher que ele amava. Pelo medo que via nos olhos daquela mulher, Rubião sentiu que precisava acalmar-se. Respirando fundo e buscando manter o autocontrole, Rubião resolveu dar outra chance para que Flávia lhe contasse a verdade.

- Você me toma por um tolo para acreditar nessa história estapafúrdia? - Perguntou, em um tom moderado, enquanto observava o comportamento da mulher

- Não e, justamente por não te achar idiota, estou te contando a verdade, ainda que você nunca vá acreditar em mim. - Respondeu, encarando-o de queixo erguido

Rubião estava acostumado a interrogar várias pessoas pelos mais diversos motivos e sabia reconhecer sinais de mentira em seus investigados. Ele enxergava diversas coisas naquele momento, exceto indícios de mentira, o que o estava deixando extremamente confuso. Flávia, apesar de erguer o queixo para olhá-lo nos olhos, possuía um terror nítido refletido nas írises castanhas, o que causou um grande incômodo no intendente - aliás, essa era a última coisa que pretendia que ela sentisse por ele -.

Ele havia gritado e mencionado o destino dos membros da conjuração, era certo, o que justificava o medo nítido na mulher e a insistência em seguir, aparentemente, mentindo, de modo que ele sabia que precisaria manter a cabeça fria e acalmar-se para conseguir convencê-la a dizer-lhe a verdade. Não pretendia assustá-la, mesmo porque, não possuía a menor intenção de fazer nada contra ela, independentemente de quem ela fosse e dos motivos que a fizeram aproximar-se dele.

Flávia sentia que as suas pernas poderiam falhar a qualquer momento. Ela sabia que o seu segredo poderia colocá-la em perigo, afinal, quem acreditaria naquela história? Mas, definitivamente, não esperava ser acusada de traição, muito menos com isso de rebeldes que ela não fazia a menor ideia do que se tratava. Ela queria ser capaz de desvendar pensamentos, assim poderia compreender o que se passava na cabeça daquele homem que a encarava e, nitidamente, tentava manter-se calmo.

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