Capítulo 1

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23 de dezembro de 1985
Califórnia

-Calma! Já estou indo!. -Grita Joyce descendo as escadas que davam acesso aos quartos de sua nova casa.

Sua porta estava aberta, Hopper já tinha colocado as malas que ela levaria para Hawkins dentro do carro.

-Anda, Joyce, vamos perder o voo!. -Diz Hopper com toda a sua impaciência.

Joyce tranca a porta de entrada da sua casa e entra no carro, batendo a porta logo em seguida.

-Desculpe, eu me enrolei um pouco mas não tem motivo para estar assim, não estamos tão atrasados. -Ela se defende.

-Eu pedi para sair mais cedo de casa. -Ele a lembra.

-Eu sei, mas como eu disse antes "eu me enrolei". -Ela diz e ele acende um cigarro logo após revirar os olhos. -Por que o carro ainda está parado? Eu pensei que estivéssemos atrasados. -Ela pergunta, pega o cigarro dos lábios dele e leva até os seus, dando uma tragada enquanto ele observa com incredulidade.

Ele não diz nada, apenas olha ela por um tempo e depois arranca com o carro. Não é tão fácil chegar ao aeroporto com a pista escorregadia causada pela garoa fraca que banha alguns pontos da cidade mas mesmo assim, eles vão.

Will e Jonathan já estavam em Hawkins, haviam ido a três dias, mas Joyce só conseguiu uma folga no trabalho agora e como os meninos não aguentavam mais esperar para rever algumas pessoas do antigo lugar em que moravam, optaram por ir mais cedo. Hopper fora quem ficou encarregado de buscar Joyce e não era das tarefas mais difíceis para ele.

Logo após tudo aparentemente se normalizar depois do portal ser definitivamente fechado, Joyce se mudou com os filhos imediatamente, poucos dias depois do ocorrido. Estava tão horrorizada com tudo que vinha acontecendo nos últimos anos que passou a pensar que a antiga cidade em que viveu por longos anos, carregava uma maldição.

Hopper obviamente ficou tão sentido com a mudança quanto as crianças que sabiam que sentiriam falta do Will, mas o que Joyce poderia fazer? Seu filho mais novo fora um dos mais afetados pelos acontecimentos e o medo que sentiu quando ele ficou preso no mundo invertido a assombrava até os ossos, mesmo com o portal aparentemente fechado.

Hopper tentou seguir a vida, tentou com todas as forças tira-la da cabeça, mas Joyce insistia em ficar em seus pensamentos, só dava uma trégua quando ele estava a serviço ou com a On, nas poucas vezes em que ela não estava com Mike, Max ou todos os outros juntos.

Depois de terem saído vivos da batalha contra os russos e o devorador de mentes, Hopper se lembrou do encontro que marcaram no Enzo's, como ele poderia se esquecer? Tinha sonhado com aquilo a tempos. Mas Joyce não falou nada, não justificou, não fez nem menção de que se lembrava e ele já imaginando que levaria um bolo outra vez, nem apareceu no dia. Ele também não a lembrou mais tarde, não tocou no assunto e deixou como estava. Então ela se mudou. Se falaram poucas vezes desde então, mas como tinha um compromisso na cidade onde ela mora atualmente e sabia que ela voltaria a Hawnkins para o Natal, se ofereceu para voltarem juntos...

-Você emagreceu. -Ela fora a primeira a quebrar o silêncio ensurdecedor naquele carro. -E seu cabelo... -Ela preferiu não continuar.

-Ah, você notou?. -Ele dissera em um tom divertido. -Tenho feito dieta e, bom, adotei o cabelo raspado da Onze. -Justificou e ela riu. -Na verdade perdi uma apsota. -Confessou.

-É mais fácil acreditar nessa versão. -Ela riu. -Os meninos estão bem?.

-Estão todos bem, estavam com saudade do Will. E parece que cresceram bastante nesses meses, os meninos até engrossaram as vozes. -Dissera Hopper.

-Ah, eu imagino. Will vive trancado no quarto com os desenhos dele, estava fazendo um que não deixava ninguém ver. Aposto que é algo relacionado aqueles jogos dele com os meninos. Ah, e o Jonathan fez um amigo, Argyle. Eles acham que eu não sei que eles fumam maconha mas aquele cheiro já impregnou no quarto todo do Jonathan.

-Nossa, eu não achei que o Jonathan gostasse dessas coisas. -Diz Hopper entre risos.

-Pois é, eu também não mas como eu poderia culpa-lo? Com tanta coisa que a gente viveu nesses anos e sem poder contar pra ninguém sem achar que somos malucos, tinha que ter uma válvula de escape.

-É mesmo? E qual é a sua?. -Pergunta ele estacionando no aeroporto com o carro alugado.

-Eu não tenho. -Ela responde depois de um tempo em silêncio. -Vamos senão perdemos o voo. -Ela diz achando graça da cara que ele fez e então salta do carro.

Há uma certa movimentação fora do comum  dentro do aeroporto então Joyce decide não esperar hopper e caminha em direção ao movimento.

Haviam muitas pessoas reclamando, algumas com crianças no colo, outras estavam estressadas e uma funcionária do aeroporto parecia tentar conter os ânimos em vão. Varias pessoas passavam apressadas para lá e para cá e quando Joyce olhou o painel onde indicavam os próximos vôos, vira que estavam todos sendo cancelados.

-Com licença. -Ela deu um jeito de adentrar naquele pequeno amontoado de pessoas. -O que está acontecendo? 

-Como eu ia dizendo.. -Continua a funcionária. -Há uma tempestade de neve se aproximando nas próximas horas, essa tempestade estava indo pro Sul mas os ventos mudaram de lado e estão trazendo ela pra cá. Por isso, todos os vôos estão sendo cancelados até segunda ordem.

-Eu preciso embarcar hoje, agora, para ser mais exato. -Diz um senhor impaciente.

-Eu lamento, senhor, gostaria de poder fazer alguma coisa em relação a isso mas por enquanto essa é a única ordem que temos: cancelar todos os voos!. -Diz a funcionária.

-Amanhã é véspera de natal, não podem deixar a gente na mão. -Reclama Joyce.

-Sinto muito, os voos estão cancelados até segunda ordem. -Repete a funcionária.

-Só pode ser brincadeira. -Reclama Joyce baixo, vira e caminha de volta para fora do aeroporto.

-Ah, achei que não ia me esperar. -Reclama Hopper ironicamente.

-Entra no carro. -Pede Joyce pensativa.

-O que? E o vôo?. -Pergunta Hopper confuso.

-Cancelado. Entra no carro. -Responde ela.

-Como cancelado?. -Ele pergunta ainda mais confuso.

-Tem uma tempestade de neve... olha, não sei só entra no carro!. -Pede ela com mais autoridade.

-Muito legal saber disso depois de me matar tirando suas malas do carro. -Ele diz voltando a soar irônico.

São longos minutos de espera que Joyce tem que suportar enquanto Hopper põe as malas de volta no carro, mas são minutos que ela passa fazendo calculos e tentando traçar um plano.

-Pronto. -Ele diz despertando ela de seus pensamentos. -Imagino que tenha um plano. -Ela nem vira em que momento ele tinha entrado de volta no carro.

-Eu não vou passar o natal longe dos meninos. -Promete ela.

...

Um Conto de Natal  - Jopper (FINALIZADA) ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora