Nathan
O último ano do ensino fundamental foi, relativamente, o melhor ano que passei com Kenji. Estávamos no auge da juventude, descobrindo quem éramos e como nos encaixávamos na vida um do outro. Tiveram muitas noites em claro, muitos beijos apaixonados em locais escondidos e muitas aulas que matamos para ficar juntos. Muitos olhares esquisitos também— eventualmente, as pessoas começaram a questionar se éramos um casal ou não. Tecnicamente, nunca nos assumimos, mas, quando você é jovem e apaixonado, esse não é o tipo de coisa que se é fácil de esconder. Éramos tudo que se esperava de um primeiro amor: intenso, cheios de descobertas, como se tudo fosse feito de magia. Claro, tinham os dias ruins. As brigas bobas, os desentendimentos. De vez em quando, Kenji chegava na escola e falava, baixo:
— Não quero conversar hoje.
Na primeira vez, eu insisti em perguntar o motivo.
— O quê? — respondi, assustado. — Aconteceu alguma coisa?
Ele negou com a cabeça e continuou olhando para baixo, evitando meu olhar. Olhei para Hiro, em busca de alguma resposta, mas ele negou com a cabeça e deu de ombros.
Estiquei a mão para segurar a mão de Kenji, mas mudei de ideia, sem saber qual seria sua reação.
— Você tá bem? — perguntei, mais uma vez.
— Me deixa em paz, eu já disse que não quero conversar! — falou, perdendo a paciência e se levantando. Pensei que ele fosse apenas sair de perto de mim, mas Kenji saiu da sala em passos apressados.
Pensei: não vou seguir ele. Ele falou claramente para o deixar em paz. Não vou. Vou ficar aqui, sentado na cadeira.
Me controlei por uns dois minutos até que chamei Hiro.
— Você acha que eu deveria ir atrás dele?
Hiro negou.
— Não. Definitivamente não. Ele quase me matou essa manhã porque eu entrei no banheiro antes dele. Quando Kenji tá assim, ou você se afasta ou ele vai explodir com você sem motivo. É manual básico de Kenji.
— É. — me remexi na cadeira. — Eu sei. Eu sei — repeti, tentando me convencer. Balancei a cabeça em um tique, desses que eu tinha quando estava nervoso. — Eu vou atrás dele.
Hiro revirou os olhos.
—Não diz que eu não avisei.
Encontrei Kenji na quadra, que estava vazia, sentado na arquibancada com os braços ao redor dos joelhos dobrados, a cabeça abaixada e os ombros balançando. Chorando. Fiquei aliviado de ter ido atrás dele-Kenji poderia tentar me afastar o quanto quisesse, mas o mundo acabaria antes do dia que eu deixasse meu namorado chorando sozinho.
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Epifania
Romance[ROMANCE LGBT] Nathan era agressivo - ou pelo menos era isso que diziam. Sua impulsividade e seu tdah, que o tornavam um péssimo aluno, também o tornavam imbatível nas quadras- a ferocidade e a paixão quase obsessiva de Nathan era o que havia tornad...