Any

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Quando desço do palco, encontro um Krystian totalmente eufórico. Ele me abraça e me entrega uma taça de champanhe, me elogiando como se fôssemos velhos amigos e dissertando planos para futuras apresentações épicas, nas palavras dele. Eu aceito a bebida; estou com a garganta seca de tão nervosa que fiquei com a chegada de Josh.

Krystian ainda monologa sobre ideias para futuros shows quando Savannah surge com um sorriso enorme estampando o rosto sardento.

— Parabéns, Any Gabrielly! Você garantiu seu emprego! — Savannah tira a taça da minha mão esorve o último gole. — Vinnie Beauchamp aguarda por você no salão!

Eu já sabia que teria de me encontrar com os irmãos Beauchamp, só não imaginava que seria tão rápido. Steven também fica surpreso. Ele segura minhas mãos e fala:

— Seja fina, educada e gentil. Só responda quando for perguntada. A família Beauchamp é dona desse lugar e de metade de São Francisco. É seu primeiro dia aqui, e há muito mais que você precisa saber, mas terá de ficar para depois. Por enquanto, faça o que mandei.

Assinto em silêncio. Mal imagina Krystian que eu já conheço Josh Beauchamp e sei bem que sua alma é muito mais profunda do que o pequeno homem pode supor.

— Vamos. É melhor não deixá-los esperando!

Savannah começa a andar em direção à escada, e eu a sigo. Eu gostaria de ter trocado de roupa, mas ela não me deu abertura para pedir, e logo subimos os degraus que levam ao salão.

— Krystian tem razão. O "Demolidor" realmente não gosta muito de assunto. Com ele,respeito nunca é demais. Josh Beauchamp, por outro lado, é extremamente galanteador. O apelido de "príncipe" não é por acaso. Mas cuidado com ele: quando irritado, ele fica muito parecido com Vinnie e não nega o sobrenome que carrega. — Nós nos aproximamos do lugar reservado onde os dois estão.

— Boa sorte! — ela sussurra, antes de ultrapassarmos as cordas que impedem a entrada de pessoas indesejadas e pararmos em frente ao sofá onde eles estão.

De perto, Vinnie é ainda mais estonteante. Juntos, os dois são tão belos que chega a ser doloroso. Josh tem razão sobre o tal radar interno de perigo: eles exalam tanto poder que é como se meu corpo reconhecesse a energia e reagisse instintivamente, de todas as maneiras possíveis, para me mostrar que eu corro sério risco. Meu coração acelera, minhas mãos ficam suadas e geladas, minha respiração fica entrecortada. É complicado pensar racionalmente num momento como esse. Só percebo a burrada que fiz respondendo à pergunta de Vinnie com nome e sobrenome quando seus olhos cor de esmeralda brilham, captando algo fora do normal.

Nesse momento, agradeço intimamente por tudo o que aprendi com meu passado. Os ensinamentos que absorvi – ainda que de maneira forçada, lidando com situações impostas pela vida – sempre serão parte de mim. E um desses ensinamentos é que, quando se está mentindo, é preciso acreditar na mentira. É necessário fazer dela sua verdade absoluta. Só assim é possível passar alguma credibilidade.

A resposta vem espontaneamente e soa tão natural que sinto orgulho de mim mesma. Fica claro que nenhum dos dois esperava uma resposta tão cheia de convicção. Satisfeito, Vinnie Beauchamp me oferece ao irmão mais novo como um prêmio, sem se importar se eu tenho vontade própria. Josh, que tenta parecer relaxado e cujos modos grosseiros em nada lembram o príncipe da noite passada, me deixa tensa com o suspense ao responder, e parece sadicamente se regozijar com a situação que criou, com total noção de que minha vida está em suas mãos.

O alívio ao escutar a resposta de Josh me faz abstrair o modo rude como ele me trata, e entro no jogo. Quando ele levanta e começa a caminhar em direção à saída, penso no que devo fazer.

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