the beginning of a nightmare

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Desempacotando suas caixas de mudança, Han Jisung sentia o peso da solidão enquanto observava a casa estranha e desgastada que ele agora chamaria de lar.

Aos onze anos, Jisung havia perdido tudo o que mais amava. Os dias se passavam, mas ele ainda estava preso na dolorosa memória daquela manhã:

Há uma semana, seus pais saíram de casa felizes e empolgados com a viagem que tanto queriam fazer.

Era para ser um dia alegre, pois eles voltariam daqui algumas horas. Então, Jisung estava ansioso para acordar naquela manhã e abraçar seus pais com toda a saudade acumulada, dizendo o quanto sentiu falta deles e, é claro, ansioso para abrir os presentes que eles prometeram trazer.

No entanto, antes que pudesse abraçá-los novamente, uma notícia devastadora ecoou através da voz de um jornalista na televisão:

"Duas pessoas morreram em um acidente de carro esta manhã."

O mundo de Jisung desabou naquele momento. A notícia atingiu como uma flecha em seu coração, e a realidade tornou-se ainda mais sombria quando ele se deu conta que seus pais não voltaram no horário que haviam prometido.

Ele tentou acreditar que era apenas uma coincidência, que não podia ser o que estava pensando.

Jisung... me ligaram do hospital... — Sua irmã falou assim que notou sua presença na sala.

O que era para ser um dia feliz tornou-se um pesadelo em segundos.

Porém, o dia do funeral de seus pais foi ainda pior. Sua irmã não conseguia parar de chorar, colocando para fora toda a sua indignação enquanto gritava e batia no próprio peito. Jisung até tentou ajudar sua irmã, se aproximar dela, mas ela o empurrou e disse que era tudo culpa dele. Seu coração doeu como se tivesse sido esfaqueado.

Mas Jisung sabia que ela não era uma má pessoa. Sua irmã, mesmo abalada pela dor, nunca o deixou desamparado.

Ela abraçou o papel de cuidadora, sacrificando seus próprios sonhos e abandonando sua faculdade para garantir que Jisung não ficasse sozinho.

Assim, eles chegaram a essa pequena cidade que agora tornaria-se o recomeço dos dois irmãos. E apesar de desconhecidos, eles foram acolhidos pela Sra. Kang, uma senhora de aparência rude, mas de coração bondoso, que ofereceu um lugar para os dois morarem por um ótimo preço.

O local não estava nas melhores condições, eles tinham um quarto, um banheiro e uma pequena sala.

— Eu sei que aqui é péssimo, me desculpe. Prometo que será apenas até eu encontrar um emprego bom — disse sua irmã.

Ele odiava ver sua irmã triste, e desde o acidente, tudo o que ela mais fazia era mentir. Sorrindo, brincando, tudo para tentar deixá-lo melhor enquanto escondia a dor em seu coração.

— Eu vou ficar bem enquanto estiver com você, Noona — respondeu Jisung.

A tarde foi divertida enquanto ajudava sua irmã a desempacotar as caixas. Ela continuou contando piadas para tentar melhorar o clima, e Jisung não pôde deixar de sorrir com as palhaçadas dela. As risadas eram um alívio em meio a toda a tristeza que haviam vivido.

A cumplicidade entre eles crescia a cada momento, e Jisung se sentiu grato por ter sua irmã ao seu lado, compartilhando o fardo da perda e enfrentando juntos o peso da saudade.

A Sra. Kang, observando a dedicação dos dois, trouxe doces e um lanche para que pudessem descansar um pouco. Enquanto comiam, ela contou histórias sobre a cidade, seus moradores e as pequenas alegrias que poderiam encontrar ali, como um pequeno parquinho que ficava no outro quarteirão.

E então, anoiteceu. Sua irmã lhe disse para ir para a cama, avisando-o que ele poderia ficar com o único quarto da casa.

Enquanto se deitava naquela cama desconhecida, Jisung ouviu o choro silencioso de sua irmã ecoando pelas paredes finas do pequeno cômodo.

Seu bom humor desapareceu naquela noite escura. A cidade que agora o acolhia era estranha, assim como a casa velha que se tornaria o seu novo lar. Além da sensação de abandono e saudade que o envolvia como uma névoa densa, tornando tudo ainda mais difícil de suportar.

Jisung tentou não fazer barulho ao sair do quarto, observando o rosto inchado de sua irmã enquanto ela finalmente conseguia dormir. Ela estava deitada no chão da sala, coberta com alguns edredons que trouxeram de sua antiga casa.

Naquele momento, Jisung percebeu que tudo que ele tinha era ela, e tudo que sua irmã tinha era ele.

Então, Jisung decidiu deixar para trás todas as palavras ruins que ela havia dito no velório de seus pais. E se ela era uma boa mentirosa para esconder sua dor, então Jisung aprenderia a ser também. Agora, ele só pensava em ajudar sua irmã, que estava com o rosto cansado e inchado enquanto dormia.

Voltando para o seu novo quarto, Jisung estava determinado a protegê-la ao decorrer dos dias.

E assim, aquela noite tornou-se apenas mais uma em que ele se deitou com o coração doendo. Não havia mais beijos de boa noite ou histórias para aquecê-lo antes de dormir, era apenas ele e o vento frio batendo em seu rosto.

Ele se sentiu sozinho.

𝘀𝘁𝗮𝗿 𝗹𝗼𝘀𝘁, minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora