Até a próxima Conde

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- Bem, - disse a moça soltando a mão do Ciel dando dois passos para trás a fim de examina-lo - pelo jeito com que você se veste presumo que seja um nobre.
- Sim - respondeu ele - faço parte da nobreza. Sou um Conde.
- Certo e o que um Conde como você veio fazer numa funerária como essa?
- Além de ser Conde presto alguns favores a Rainha Victoria. Sou seu Cão de Guarda.
- Ah que maravilha - disse a moça batendo palmas.
Ela andou em direção a mesa que estava no canto oposto da sala, se sentou sobre ela, cruzou as pernas deixando-as exposta. Isso causou um certo desconforto no jovem Conde, que tentou desviar sua atenção para o rosto da garota.
- Me diga - começou a jovem - como é trabalhar para a Rainha?
- Não vim até aqui para ficar falando sobre assuntos pessoais. - respondeu ele asperamente - Onde está o Undertaker?
- Como pode ter percebido ele não está - disse a jovem abrindo um sorriso e apoiando o queixo sobre a mão esquerda - ele teve que resolver um assunto pessoal de extrema urgência, com isso ele me pediu que eu, caridosamente, cuidasse bem da sua preciosa funerária enquanto ele estivesse fora.
- Estranho, o Undertaker nunca sai e também ele nunca mencionou que tinha parentes, muito menos que tinha uma sobrinha.
- Ele não costuma compartilhar seus assuntos pessoais. Você o compreende, não é Conde?
- Você sabe me informar quando é que ele irá retornar? - perguntou ele mudando de assunto.
- Infelizmente não - disse a jovem negando com a cabeça - o assunto que ele foi resolver é um pouco delicado, então eu não tenho a minima ideia se ele vai demorar.
- Droga - disse o Conde visivelmente inrritado.
- Eu posso te ajudar em alguma coisa?
- Penssando nisso, creio eu que você poderá me ajudar, já que está substituindo o seu tio aqui na funerária.
- E no que eu posso lhe ser útil?
- Eu gostaria de saber se você chegou a arrumar algum corpo de jovens garotas que foram mortas e colocaram-lhe fogo?
- Ah sim, - respondeu a moça ampliando o seu sorriso - as Fênix. Arrumei dois desses corpos desde que cheguei aqui.
- Fênix? - perguntou o mordomo que até o momento só tinha observado aquela conversa.
A moça voltou sua atenção para ele e respondeu:
- Sim, Fênix. Já ouviu falar nessa avé mitológica? - perguntou. Ele acenou positivamente -, pois bem, eu tenho um pequeno fetiche em dar nomes aos mortos dependendo da causa de sua morte. Fogo não foi de fato a causa de sua morte, porém eu achei apropriado dar-lhes esse nome. Vocês não concordam comigo?
- Isso soa irônico - respondeu o mordomo pensativo.
- Exatamente - disse a moça descruzando as pernas e começando a balança-las - eu particularmente gosto dessa avé, pelo fato da irônia que nela se encontra. Não é engraçado uma pessoa ressurgir daquilo que a matou? Ela renasce da sua propria desgraça.
A moça soltou uma risada que tomou conta do local.
- Hilário - disse a moça - os seres humanos são extremamente divertidos.
O Conde e o mordomo se entreolharam. Aquilo, de fato, estava começando a ficar estranho.
- Enfim - disse o rapaz - você vai nos dizer o que sabe?
- Claro - disse a moça descendo da mesa -, mas antes posso lhe oferecer um chá?
- Por que não?
- Pois bem, sentem-se por favor, eu volto em alguns minutos.
Ela desapareceu no interior da funerária. O jovem Conde se sentou sobre a tampa de um dos caixões, como de costume.
- Sebastian venha cá - chamou ele.
- O que o senhor deseja?
- Vá lá na cozinha e vê se consegue descobrir alguma coisa sobre essa moça. Ela não me parece ser muito confiável.
- Como desejar - o mordomo fez uma reverencia a seu mestre e saiu.
Ele se aproxima da porta e antes de bater ouve antentamente o que se passa no seu interior.
- Mileyde vem aqui - diz uma voz enfurecida do outro lado da porta. Ouve-se um barulho de vidro sendo quebrado.
- Olha o que você fez! - grita - Isso é porcelana sabia? Custa caro! Ai meu tio vai me matar! Agora você me paga sua peste.
Ouvindo isso o mordomo abre a porta e se depara com a jovem Lady segurando uma gata entre os braços e uma xícara em pedaços no chão.
- Sua menina levada - diz a moça para a gata - isso não se faz.
- Meow - foi a resposta da felina.
Sebastian olhava estático para essa cena, ele não conseguia tirar os olhos de cima daquele bichinho peludo que estava nos braços da moça. Ela percebe sua presença.
- Você esta ai, precisa de alguma coisa?
- Como? - responde ele saindo do seu devaneio.
- Gosta de gatos? - diz a moça mudando a sua pergunta.
- Ah sim, eu sou fascinado por gatos - responde chegando a corar de leve.
- Quer segura-la?
- Posso?
- Claro.
Ela então vai até ele, cuidando para não pisar nos cacos e coloca a gata gentilmente nos braços do mordomo. - Ah ela tem patas tão macias - diz ele acariciando as patas da felina.
A garota solta uma risada com aquele comentário.
- Não se deixe enganar pela sua aparencia, ela é uma gatinha muito malvada. Bem, agora deixe-me terminar o chá.
Ela foi em direção aos cacos se ajoelhou e pos-se a recolher os restos de porcelana. O mordomo deixou a gata no chão dando-lhe um último carinho antes de ir ajudar a moça. Ele pode perceber que as pernas dela estavam novamente amostra, ele agora observara como a pele desta era pálida. Neste momento a moça sem querer corta o dedo indicador da mão esquerda.
- Maldição - diz se levantando e colocando os cacos na pia.
- Deixe-me ver isso - disse o mordomo pegando a mão da moça e verificando o corte - não foi nada grave.
Ele retira do fraque um paninho branco e flexiona contra o corte.
- Mantenha-o assim. Fique ai que eu prepararei o chá.
- Muito obrigada.
Quando o chá já esta pronto eles voltam para a sala principal. O mordomo serve o chá ao seu mestre e para a jovem Lady.
- Então - começou a moça após bebiricar seu chá - o que você quer saber sobre os corpos Conde?
- Do que elas morreram? Digo antes de serem queimadas.
- Olha isso é meio complicado. O primeiro corpo chegou aqui praticamente só os ossos. Já o segundo estava com lesões graves apenas nas pernas e nos braços, presumo eu que foi envenenamento.
- O que te faz chegar a essa conclusão?
A moça levou o dedo indicador da mão esquerda direção a boca e passou a lingua no seu recente corte.
- Ora - respondeu ela - não havia nenhum corte, nenhuma marca de bala, nenhum sinal de estrangulamento nem de pancadas, então só nos resta morte por envenenamento. Tem um fato relevante: o assassino não põe fogo em sua vitima assim que ela morre, pois quando o corpo chegou até mim já estava sem vida a algumas horas e fora encontrado pegando fogo recentemente.
- Então esse assassino faz algo com os corpos das vitimas após a sua morte? - Provavelmente - diz ela dando de ombros.
- Certo - diz o Conde colocando sua xicará de lado e se levantando - obrigado pelas informações Lady Undertaker. Se souber de algo relevante entre em contato. Espero que possamos nos encontrar novemente, até mais. Vamos Sebastian.
- Até a proxima Conde - respondeu a moça com um sorriso.
Eles se retiraram da funerária deixando-a sozinha. A moça andou em direção ao caixão que sairá anteriormente abriu a tampa e se acomodou lá dentro.
- Com toda certeza nos veremos novamente Conde - diz a moça com um sorriso malicioso nos labios.

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