Na foice de um Shinigami pt.2

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Os segundos pelos quais aqueles dois jovens ficaram se encarando parecia ser uma eternidade. Várias coisas passaram pela cabeça de Ciel. Ele lembrou da primeira vez que vira um Shinigami, aquele que tinha tirado a vida da sua tia. Vermelho escarlate. Essa era a cor que predominava daquela criatura indesejável. Grell ... Ele o odiava profundamente, mesmo não demonstrando esse ódio, todas as vezes que eles se encontravam Ciel tinha vontade de pular no pescoço dele e o sufoca-lo. Esse ódio que ele alimentava por Grell não era pelo simples fato que ele matou sua tia, Ciel sentia esse ódio pelo fato que, todas as vezes que ele e o seu mordomo se esbarravam com Grell, ele dava em cima do Sebastian descaradamente. Isso irritava Ciel profundamente, fazendo-o odiar Grell com todos os osso de seu corpo.
Mesmo Ciel não tendo nada com o seu mordomo a não ser pelo fato que os dois tinham feito um contrato, Ciel se sentia no direito de sentir ciúmes de seu mordomo. Ele era seu e de mais ninguém. Ciel se sentia como dono do Sebastian. Nada e ninguém iria tirar lhe tirar o seu mordomo.
Não, mas não era só por ele que ele sentia esse ódio. Todos os Shinigamis que ele encontrou até agora só tinha lhe causado dor de cabeça. A Lady Undertaker estava fazendo a mesma coisa. Uma fúria imensa preencheu o seu ser de Ciel, ele já não aguentava mais isso, se tinha alguém pelo qual ele poderia descontar seu ódio esse alguém era ela.
Ciel saiu de seus devaneios e examinou o rosto da jovem. Ele não podia acreditar que ela o enganou por esse tempo todo.
- Como você pode? - perguntou ele exasperado ainda sem acreditar no que via.
Nesse momento escutasse a voz de um guarda.
- Eles estão ali! Vamos pega-los homens - disse o que parecia ser o capitão deles.
A jovem já que estava apática com tudo que acontecia ao seu redor, voltou para a realidade.
- Saia de cima de mim, sua criatura desprezível - disse ela empurrando Ciel para o lado e se levantando - você não é digno de me tocar.
Ela também estava transtornada pelo ódio. Como aquele belo rapaz teve coragem de fazer um pacto com um demônio?! De todas as possíveis criaturas da Terra ele tinha que se aliar justamente com a mais suja delas? Isso não fazia sentido algum. Ela não sabia explicar, mas sempre odiou os demônios, mesmo que nenhum deles fez mal nenhum para ela. Simplesmente sentia ânsia de vômito quando se falava neles. Como ela não sentiu a presença de um quando ela e Ciel se encontraram pela primeira vez? Ela não sabia ... Então se lembrou o motivo pelo qual não sentia a presença de demônios. Isso a fez ficar com um gosto amargo na boca.
A jovem se levantou com um salto.
- Francamente - disse desatando um laço que ficava na lateral do seu vestido - é por isso que eu não gosto de bailes. Eles são repletos de surpresas desagradáveis.
Quando ela se desfez laço na lateral da saia o pano se abriu em dois, ela amarrou novamente o laço atrás do seu vestido. Quando ela desfez o laço revelou uma saia bem menor, toda a sua meia calça e as armas que a jovem havia escondido. Agora ela podia se mover com mais facilidade. Isso podia ajudar e muito para o que estava prestes a acontecer.
Sua roupa e pele estavam manchadas com rastros de sangue, o chapéu com forma de cabeça de cisne havia se perdido em algum momento de sua luta, seu penteado estava bagunçado, embora o hashi ainda estava segurando o coque que se mantinha o alto. As assas que faziam parte da roupa, a jovem arrancou sem nenhum remorso, tirou a franja dos olhos e sacou suas armas.
- Nunca gostei deste vestido mesmo - disse ela dando de ombros e encarando os guardas que estavam perplexo com tamanha falta de pudor da jovem - bem, é hora do show.
Ela segurava cada arma em uma mão, seu olhos estavam semi cerrados e ela tinha uma postura de atiradora. Com certeza não estava com cara de quem estava brincando.
Durante o tempo que a Lady Undertaker vagou sem rumo pela Alemanha ela pode aprender algumas coisas úteis, como atirar com duas armas sem errar o alvo. Ele tinha aquelas armas a aproximadamente dois anos, nunca tinha as usado, eis que chegou o momento. Não eram as melhores armas do mundo, mais com certeza estava longe de serem ruins, em cada arma tinha uma ponte com seis balas, isso dava no total de doze balas. Tinham vinte guardas, ela não queria, mas teria que usar o plano "B". Sorriu com a sensação de liberdade que a preenchia.
- Então rapazes? Quem vai ser o primeiro a me tirar para dançar? - disse ela com um sorriso destravando as travas de segurança - Não temos voluntários? Ah, está faltando a música. Me deixem conduzi-los na minha dança com a minha própria música.
Ciel nem sequer se levantou, ele ficou no chão observando a mudança repentina da jovem. Os guardas saíram de seus transes e sacaram a suas armas. A jovem começou a andar lentamente em direção dos guardas, um som suave vinha dela. Ela estava cantando? Não, ainda não. Aquilo não era música, era apenas um cantarolar. A música começou quando ela disparou o primeiro tiro na cabeça do capitão.
- " Os iusti
Meditabitur sapietiam
Et lingua eius "
O tom da melodia era estilo ópera. A jovem tinha uma linda voz. Ciel ficou viciado nela. Conforme ela cantava , dava passos lentos em direção aos guardas. Mais dois tiros. Um no peito e outro no globo ocular, cada um em um guarda.
- " Loquetur indicium
Beatus vir qui
Suffert tentationem
Quoniqm cum probates"
Mais quatro tiros. A jovem sempre mirava em partes vitais. Ela estava atirando para matar. Sabia muito bem o que estava fazendo. Os guardas revidam com tiros, mas a jovem era rápida e desviava de todos.
Ciel estava começando a duvidar se ela era mesmo um Shinigami.
- " Fuerit accipient coronam vitae
Kyrie, ignis divine, eleison "
A melódia era calma e melancólica. Que língua era aquela? Italiano talvez?
Dois tiros.
Ciel percebeu naquele momento que a jovem atirava apenas quando acabava cada verso. Pelas suas contas já foram nove.
- " Oh, quam sancta
Quam serena
Quam benigna "
Trés tiros. As armas fizeram um pequeno estralo avisando que estavam sem carga. Ciel prendeu o ar. Ele estava preste a sacar a sua arma, que estava escondida entre as suas roupas, mas parou quando notou que a musica não tinha acabado. A jovem guardou as armas em seus devidos lugares e se ajoelhou pegando alguma coisa dentro da sua bota e colocando no rosto. Ciel arregalou os olhos quando viu que era um óculos.
- " Quam amoena " - cantou a jovem.
Ela elevou a mão ao pauzinho que segurava o seu coque, o pegou, fazendo com que uma cascata de cabelos brancos lhe pendensem sobre os ombros.
- " Oh, castitatis lilium " - pronunciou o último verso da música, se levantando, ficando de cabeça baixa, ela não fazia nada, apenas apertava o objeto que tinha em mãos.
O fogo cruzado parou no momento que a jovem tinha se ajoelhado. Os oito homens que sobraram estavam assustados demais para reagir. Viram o que aquela jovem de cabelos prateados fez em apenas dois minutos. Eles perderam doze dos seus melhores soldados para uma mulher. Estavam aterrorizados. Encaravam a jovem avaliando qual seria a sua próxima ação. Uma pequena risada preencheu todo o ambiente. Vinha da jovem. Os homens se entreolharam e apontaram suas armas para a moça, aquilo era estranho.
- Vocês iriam morrer de qualquer jeito essa noite - disse a jovem levantando a cabeça e olhando para cada um deles - não me culpem, me agradeçam. Eu estou apenas fazendo um favor a vocês.
Ela segurou o pequeno objeto com as duas mãos. Em um piscar de olhos já não era mais um pequeno objeto de por no cabelo, mas sim uma Katana de um metro e meio feita com aço totalmente negro.
- Se sintam previlegiados - disse ela empunhando a espada - vocês morrerão pela foice de um Shinigami.
Os homens abaixaram a arma num instinto. O que acabaram de presenciar era verdade? Ou apenas ilusão? Eles fizeram menção de começar a andar em direção a saída, porém a jovem era rápida e logo chegou ao primeiro homem e o cortou ao meio. Sua espada era bem afiada. Gritos de terror agora preenchiam o ambiente.
A lâmina desceu pela segunda vez e cortou fora a cabeça de outro guarda. A jovem matava um a um sem demonstrar nenhuma reação. Cada um foi sendo morto pela espada banhada por trevas. Sobrou apenas um soldado, ele estava andando de costas enquanto observava o colega ser morto por uma espada transpassando o seu coração. Assim que a jovem retirou a sua espada do corpo do homem morto o notou.
Ele estava com as mãos como se tivesse se rendendo. A jovem dava um passo em sua direção e ele andava para trás. Acabou por tropeçar.
- Demônio ! - exclamou ele já percebendo seu fim.
- Demônio não, - disse a jovem com calma - Shinigami. E esse é o meu trabalho.
Ela enfiou a espada no coração do homem, que agonizou até morrer. Ela caminhou para o centro da sala, seu olhar estava distante, seu andar estava cambaleante. Ela parou perto do altar, deixou a espada cair e caiu sobre os seus joelhos sem forças.
Ciel conseguiu respirar quando viu que tudo tinha acabado. Se levantou rapidamente quando viu a moça caindo. Foi em sua direção.
- Eles iam morrer ... Eles iam morrer ... Eles iam morrer - ela repetia enquanto se balançava, sangue escorria do seu nariz - eles ... Eles ... Eles ...
Ciel pegou um pano de deu terno se ajoelhou e limpou o sangue que escorria do nariz da jovem.
- Lady Undertaker, você esta bem? - perguntou ele preocupado.
A jovem olhou para ele por um segundo, parecia não o reconhecer. Piscou diversas vezes até voltar ao seu estado de sanidade normal. Se lembrou de onde estava, do que fez e de que descobriu sobre o Ciel.
Ela pegou a espada, que logo se transformou num hashi novamente, tirou os óculos de armação negras e os guardou na bota.
- Já lhe disse para não me tocar. - disse a jovem se levantando e indo rumo a porta pequena. Aquilo deveria dar em alguma saída.
- Hey espere - gritou Ciel indo atrás dela. - você me deve alguma explicações.
- Não falo com demônios.
Ciel parou no pé da escada.
- Eu não sou demônio - afirmou ele.
- Mas fez pacto com um, então fique longe. - ela começou a descer as escadas mais rápido.
Ciel ficava confuso com as mudanças da jovem, mas ele queria respostas então foi atras dela. Quando enfim chegaram no final da escada havia uma porta que dava para os fundos da mansão e para uma floresta. Naquele momento uma garoa fina caia sobre Londres.
- Lady, seja compreensiva e me de dois minutos - pediu o rapaz com cautela - quero entender o que houve.
Ela avaliou e decidiu que o rapaz precisava de ao menos uma explicação.
- Certo - concordou ela - você tem dois minutos.
Assim eles começaram a andar em direção da floresta.

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