03. Ampliando minha lista de compromissos

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Depois do museu, Caio me convidou para jantar, mas eu precisava voltar para casa estudar. Contei sobre o caso de Direito Ambiental — tentando justificar para nós dois o motivo de não poder alongar a noite só um pouquinho — e ele ficou muito interessado em saber mais sobre a área, não tive coragem de explicar que a minha empresa foi contratada para matar o planeta e não ajudar a salvá-lo. Assim apenas expliquei com o maior número de jargões jurídicos que conhecia, até deixá-lo um pouco confuso, fazendo com que mudássemos o nosso assunto para ele – um tópico que estava se tornando o meu preferido.

Assim que cheguei no mesmo estacionamento em que me acompanhou pela primeira vez nós nos despedimos. Caio me abraçou de novo, tinha a impressão de que era o tipo de pessoa que gostava de contato físico, dessa vez prolongamos um pouco mais, não tinha certeza se era eu quem tinha feito isso ou ele, mas me senti confortável dentro daqueles braços e assim que soltei senti falta do toque nos meus ombros.

Quando já estava dentro do carro em direção ao meu apartamento, pensei que deveria ter dado carona até sua casa, ou a menos oferecido. Mais um arrependimento para a lista.

Estudei até meia noite, queria terminar tudo no sábado para poder fazer outra coisa domingo, mas não consegui, ficando exausto mais cedo do que o normal. Sabia que no dia seguinte teria que continuar lendo doutrinas e jurisprudências para finalizar o caso. Mas, por mais cansado que estava, ainda assim não conseguia dormir. Caminhei pelo meu apartamento, tomei o resto do vinho que tinha na geladeira e peguei Heidegger para ler e nada do sono chegar. Imaginava que meu subconsciente estava com medo do que poderia ser criado a noite quando dormisse, por isso não me deixava fechar os olhos e descansar.

Ver o Caio tão feliz me contando sobre algo que amava, de verdade, fez com que algo dentro de mim ficasse incomodado — não por ele estar alegre —, mas por eu não ter nada assim na minha vida. O Direito era só para ganhar dinheiro, a namorada era parte de um entendimento social que todo mundo tinha que casar e ter filho e a academia era para ficar saudável – e era horrível.

Eu não tinha hobby, não fazia nada que me trouxesse uma felicidade real há vários anos, mas também, não tinha tempo para isso. "Tempo é dinheiro" era o que o meu pai sempre falava. E eu não tinha tempo nenhum e não fazia nada com o dinheiro.

Fui dormir às 2:00, uma hora depois despertei assustado, respirei fundo e voltei a dormir e de hora em hora acordava por causa do pesadelo. Em todos os sonhos estava me afogando e foi um atrás do outro sem nada entre eles. Neles apenas me deixava ser levado pela água, até que o ar acabava e voltava para a realidade apavorado.

Quando o sol apareceu, às 6:00, resolvi levantar e começar o dia, não tinha motivo para ficar enrolando na cama se não conseguiria dormir mesmo. Tomei um café e entrei no cômodo que tinha separado para trabalhar, como era domingo e minha namorada estava fora da cidade, pude estudar o dia inteiro, só saindo de lá quando o cansaço me derrubou. Naquela noite, pelo menos, não tive nenhum sonho.

Na segunda-feira, Caio me mandou uma mensagem perguntando o que fiz no resto do meu final de semana. Trabalhei tanto no domingo que percebi, depois, que meu cérebro tinha me dado uma pausa quanto aos pensamentos constantes sobre o mineirinho. Entretanto, assim que recebi a sua mensagem no meio da reunião e vi o que me disse, não consegui segurar a pose de advogado, o meu rosto instantaneamente iluminou e fiquei sorrindo ao ver o seu nome na tela do celular.

Com certeza a pausa tinha acabado.

Depois da reunião era necessário terminar uma petição que estava fazendo e não tive tempo de responder o Caio, mas o meu cérebro estava, claramente, querendo o colocar de volta ali dentro e não conseguia parar de pensar nele, ficava imaginando se estava sorrindo, se conversava com outros clientes e os encantava. Queria finalizar os processos o mais rápido possível para que pudesse ir à cafeteria e vê-lo, tomar um chá e comer um sonho. Mas nada disso aconteceu.

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