08. Consequência de não-encontros

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Quando o filme acabou nós continuamos sentados mais alguns minutos, sem nos mover. Não sabia o que estava passando na cabeça de Caio, mas não queria que aquele momento acabasse, estava me sentindo tão bem de mão dada com ele. De novo, o sentimento de que pertencia a alguém apareceu, não queria que sumisse tão rápido, era raro demais para não me segurar nele. Então continuei lá, como se não fosse a coisa mais estranha do mundo dois homens segurando um a mão do outro sem falar nada, mesmo depois de o filme acabar.

Assim que todas as pessoas tinham saído da sala Caio deu um apertãozinho na minha mão, fazendo com que olhasse para ele.

— Vamos embora? — disse baixinho olhando para os meus olhos e apenas consegui concordar com a cabeça, soltando a mão dele sem olhar nos seus olhos, me levantei e estava descendo as escadas em direção a porta.

Caminhamos em silêncio um atrás do outro até estarmos do lado de fora do cinema, quando paramos de andar e ele me fitou.

— Talvez não tenha sido a minha melhor ideia te chamar para o cinema.

— Por quê? — respondi preocupado com algo que eu tenha feito de errado.

— Uai, porque você está estranhíssimo agora.

Dei uma risada e passei a mão na nuca tentando enrolar o bastante para o meu cérebro ter uma solução do porquê de eu estar estranho. Mas não havia uma.

— Não estou, não — sim, resolvi mentir. — Talvez seja fome. Você quer comer em algum lugar? — perguntei querendo ficar mais alguns minutos na companhia de Caio.

Ele apertou os olhos me analisando, como se estivesse tentando ver se tinha algo atrás das minhas frases.

— Tudo bem então... — falou com um pouco de hesitação. — mas aqui é tudo caro demais para mim, Rique, vamos em outro lugar? — balancei a cabeça que sim para ele e sorri. — eu conheço um restaurante bem gostoso, quer ir lá?

— Quero! — sorri.

Nós caminhamos em silêncio até o estacionamento para pegar o meu carro, as vezes nossos braços encostavam e me arrepiava de novo, mas depois da segunda vez que isso aconteceu eu não distanciava mais o meu corpo. Assim que sentamos fomos até um bairro mais longe do centro.

Fui dirigindo de acordo com os comandos de Caio e chegamos a um restaurante todo colorido com uma musiquinha de mpb tocando. Como estava relativamente cedo não tinha quase ninguém no lugar. Nós sentamos em umas das mesas do lado de fora e fiquei notando o movimento na rua.

Quando o garçom perguntou o que a gente ia beber, Caio, no mesmo instante, disse que eu não podia beber nada, porque além de o levar para casa, também não aguentava cachaça de verdade. Apenas ri dele e pedi um suco.

Nós passamos uma noite divertidíssima.

Caio sempre me fazia rir, querendo ou não. Às vezes, quando estava animado, encostava em mim para me contar algo e sentia o meu corpo arrepiando — já estava me acostumando com isso. Mas o pior acontecia nas vezes em que queria falar algum segredo, que não era segredo de verdade, e aproximava o seu nariz no meu ouvido e estava tão próximo de mim que sentia sua respiração no meu pescoço.

Nossas pernas encostavam também, debaixo da mesa, na primeira vez dei um pulo, que fez com que Caio, que estava segurando o riso, explodisse dando a gargalhada mais gostosa que já ouvi. Mas depois de ter tocado sua perna pela terceira vez, apenas deixei que elas ficassem juntas, e o mineirinho também não pareceu se importar.

As conversas foram leves, só risadas e pequenos toques.

Depois que paguei a conta, perguntei a Caio onde morava, para que pudesse levá-lo em casa. Ele riu balançando a cabeça.

A Origem do Universo (LGBT) - AMOSTRAOnde histórias criam vida. Descubra agora