6-Parte 1: Meu amigo

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A minha mãe alterna o olhar entre mim e o Lucas, enquanto que o meu pai permanecia com o seu olhar apenas em Lucas.

-Vocês conhecem-se?- o meu pai pergunta sem tirar o olhar de Lucas.

O Lucas não parecia saber bem o que dizer, então eu decido intervir:

-Sim....- respondo murmurando captando a atenção deles. O meu pai olha para mim com a testa franzida.- Era na casa dele que fui buscar os auriculares esta tarde.- o meu pai continua com a testa franzida olhando para o Lucas.- Não sabia que eras amiga de alguém que trabalhava aqui.- Eu tentava pensar em algo para dizer, porque nem eu sabia que ele trabalhava aqui.

-Não tens de conhecer todos os amigos da tua filha.- disse a minha mãe puxando a mão do meu pai.- E nem onde eles trabalham.- o meu pai suspirou. Boa mãe.

-Tens razão.- ele finalmente sorriu e olhou para o Lucas.—Peço desculpas pelo constrangimento, rapaz.- O Lucas assentiu parecendo agora mais relaxado.

O Lucas continua a fazer os pedidos, e os meus pais pareciam já ter uma esquecido o ocorrido, mas eu não. Não conseguia deixar de olhar para o Lucas sempre que ele vinha para a nossa mesa ou quando atendia uma mesa perto da nossa.

Poucas horas depois já tínhamos acabado de comer e os meus pais já tinham pagado a conta, não via o Lucas a um bom tempo, então desisto de continuar a procurar. Suspiro e digo aos meus pais que vou ao banheiro, e para irem à frente sem mim. Durante o caminho, percebo que um rapaz sai pela porta dos fundos com um saco do lixo, era o Lucas! Eu me apresso, tentando passar despercebida pelos outros empregados para tentar alcançar Lucas, quando finalmente chego na porta, eu saio e vejo ele distraído a colocar o saco no contentor.

-Ei.- eu pigarreio tentando chamar a sua atenção .- ele olha para o lado um pouco confuso, mas logo depois abre um sorriso largo para mim.

-Ei.- diz ele também.- Que surpresa ver você aqui.- respondeu coçando a nuca meio sem jeito. Ninguém parecia saber o que dizer até que ele quebra gelo.- O seu pai não pareceu gostar muito de mim.- eu começo a gargalhar e o clima parece finalmente a suavizar.

-Não é nada contra ti.- digo ainda entre risos.- Ele é um pouco protetor, principalmente com rapazes. O único que ele ainda "aceita" é o Ricardo, porque já somos amigos a um bom tempo.

-Ele parecia querer comer a minha alma, quase deixei cair o cardápio.- ele tentou parecer sério no início, mas caiu na gargalhada junto comigo.

-Eu fiquei muito surpresa ao descobrir que trabalhas aqui, não foste o único ao ficar nervoso.

-Eu comecei a poucos dias, mais ou menos na altura em que nos conhecemos.- Me pergunto se foi por isso que ele não apareceu nos outros dias na praia..

De repente, lembro que já estava lá a um bom tempo e que os meus pais ainda estavam a minha espera.

-Tenho de ir! Os meus pais já devem estar a achar estranho a minha demora.- quando me viro para começar a ir, ele pega no meu braço.

-Espera, ainda não tenho o teu número.- ele mantinha um sorriso de lado, enquanto pegava no meu braço.

-Tens algum sítio para apontar?.- ele negou com a cabeça.- Então, ficas tu com o meu?- faço que sim com a cabeça e anoto o seu número, me despeço rápido e vou ter com os meus pais, que com sorte não notaram a minha demora.

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Chego em casa e deito na cama, sem deixar de notar que o destino insiste que continue a cruzar-me com o Lucas, sorrio ao pensar nisso.

Olho para o lado e pergunto-me se seria muito cedo para mandar uma mensagem ao Lucas, decido não pensar muito nisso e mando logo uma mensagem.

"Olá, rapaz das estrelas :)"
Penso se devia escrever mais alguma coisa, mas suspiro e desisto. Continuo a olhar para o telefone a espera de uma resposta, mas acabo por adormecer.

No dia seguinte, acordo e vejo que ele respondeu a minha mensagem. Pego apressada o telefone para ir ver a mensagem.

"Ei miúda astronómica, fiquei preocupado se fosses chegar a mandar a mensagem ou não, fico feliz por fazeres a escolha certa ;)"

Por um momento, o meu coração erra uma batida, não conseguia deixar de ter um sorriso no rosto.

...................................

-Que fuleiro.- disse o Ricardo revirando os olhos enquanto via a mensagem.- Não acredito que mandaste mesmo mensagem para este....desconhecido.

Eu suspiro, o Ricardo não parece aceitar muito bem a minha nova amizade com o Lucas, e eu não entendia bem o porquê.

-Já disse, ele não é mais nenhum desconhecido.- Somos amigos agora.- ele ainda não parecia bem convencido. Eu estava sentada na cadeira ao lado de Ricardo, com as costas encostadas na parede e as pernas esticadas em cima das pernas dele. Ajeito a minha postura, voltando a colocar as pernas no chão e puxando a cadeira para mais perto do Ricardo.

-Estás com ciúmes.- ele olha para mim surpresa com a minha afirmação.- Mas, não precisas te preocupar com nada, nunca vamos deixar de ser amigos, mesmo eu tendo arranjado um novo.- dessa vez, foi a minha vez de abraçar ele de lado e depositar um beijo no topo de sua cabeça.- Não te esqueças disso.

-Não estou com ciúmes, estou preocupada com o fato de estares a te apaixonar tão rápido por alguém que não conheces.- percebo que ele torce o nariz com desgosto quando diz "apaixonar".- É a primeira vez que acontece isso, e não quero que acabes magoada.- disse brincando com os meus dedos que repousavam em sua mão.

Em nenhum momento, ele olhou para mim, enquanto ele explicava o que sentia. Afinal, ele estava preocupado? Quando tento dizer algum coisa, ele levanta olhando para o relógio.

-Daqui a pouco começa o meu treino de basket e já sabes que o Kizua fica chateado quando não chego a horas.- ele pega a mochila, enquanto olha para o relógio, em nenhum momento voltou a olhar para mim, e isso de alguma forma incomodava-me.- Como ainda estás a tratar do teu trabalho de física, encontramo-nos depois do treino?- ele continuava a falar, mas olhava para todo o canto, menos para mim, fingia estar a atar os atacadores e deixar a mesa arrumada, quando parecia estar tudo em ordem.

Eu murmuro ainda sem entender o comportamento dele. Ele logo depois da minha confirmação, começa a ir em direção da porta com pressa, mas para quando digo:

-Prometes que vais esperar por mim?.- pergunto torcendo para ele voltar a olhar para mim.- Eu ainda quero continuar a nossa conversa, e combinamos de comer juntos hoje à tarde .

-Claro, sabes que não costumo mentir para ti.- ele dessa vez, finalmente vira-se para mim e dá um pequeno sorriso, sorrio também de volta sem muita confiança.

Suspiro, e decido esquecer por agora o comportamento estranho do meu amigo, e começar a preparar-me para tratar do trabalho de física.

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Para quem está a reler o livro, percebeu que estou a editar algumas coisas.
Decidi mudar algumas coisas na história, mas não mudei nada de importante dos capítulos já escritos até agora.

O Rapaz das EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora