A criatura no trem

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Olívia gostava de estar adiantada para tudo.

Gostava de combinar horários exatos, mas sair de casa com antecedência. Gostava de estudar as matérias antes mesmo dos professores as ensinarem. Gostava de ter listas de afazeres, e amava completá-las. Acima de tudo, ela gostava de se sentir preparada.

Por isso, quando o relógio marcava 10h30 em ponto, ela já se encontrava sentada em sua cabine, pronta para a partida. Suas duas melhores amigas, Claire e Laura, estavam sentadas no banco oposto a ela. Seu malão já estava guardado no compartimento do trem. Seus pais já deviam ter aparatado de volta para casa, com as despedidas devidamente feitas. Tudo estava correndo perfeitamente.

"Não entendo como as pessoas conseguem se atrasar para o trem", comentou Claire.

"Não é?" Laura concordou. "É o mesmo horário todo ano."

Olívia sorriu em concordância. Ela se virou para a janela a seu lado. A plataforma 9 e ¾ tinha um ar preguiçoso: algumas poucas pessoas passavam, outras tinham conversas tranquilas em pequenos grupos, e um ou outro aluno carregava uma gaiola – mas mesmo as corujas pareciam ainda estar com sono. Olívia adorava essa sensação de que o dia ainda mal havia começado. Fazia ela se sentir como se tivesse todo o tempo do mundo.

"E as suas férias, Viv?"

Olívia pulou, em um susto. "Oi?"

As duas meninas riram. "Perguntei como foram as suas férias", explicou Claire.

"Ah", Olívia riu. "Foram boas. Fui ficar na casa da minha tia na França. Só quando voltamos que percebemos a loucura que estava aqui. Por causa daquele Sirius Black, digo."

Laura balançou a cabeça. "Nem me fale! Meu pai ficou o verão inteiro me enchendo o saco por causa disso. Completamente neurótico."

"Seu pai?" repetiu Olívia, levantando uma sobrancelha. Sabia que o pai de Laura era trouxa.

"Sim", interveio Claire. "Até os meus pais estavam preocupados. Nem ligaram tanto a princípio, mas, quando descobriram que Black era do mundo bruxo – aí sim, surtaram."

"Nossa", Olívia suspirou. "Não sabia que estavam noticiando para os trouxas também."

"Pois é. Mas se ajudar a capturar o cara, vai ser bom. Quanto mais olhos, melhor."

Olívia assentiu, pensativa. Não teve tempo, entretanto, para refletir muito sobre o assunto, porque logo Laura interveio:

"Ah não, começou."

Olívia acompanhou o olhar da amiga e viu que a plataforma havia se enchido. Hordas de alunos saíam da passagem mágica e se espalhavam na estação como fogo vivo. Ela identificou alguns rostos familiares, enquanto outros nem tanto.

"Quem é aquele cara ali?" ela e Laura falaram quase que em uníssono.

"Qual?" Claire espichava o pescoço.

"O com o paletó surrado."

Claire continuou procurando, mas o homem já havia passado. Olívia refletiu. O homem parecia ter seus trinta e tantos anos, certamente não seria aluno.

"Será que ele é o novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas?" perguntou.

Laura deu os ombros. "Precisamos de um novo todo ano, não é?"

As meninas riram e continuaram a observar. Flint chegou, acompanhado dos brutamontes que compunham o time de quadribol, e, de algum jeito, ele parecia ainda maior e mais assustador. Cho Chang e Marietta Edgecombe, da Corvinal, passaram dando risadinhas como sempre. Olívia viu até Katie Bell, com quem ela conversava às vezes, mas a menina estava rodeada de outros grifinórios.

Entre Estantes | Fred Weasley (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora