o inverno mais frio 2

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Todos os aldeões escutaram os gritos
dela, Kori arrastava o corpo de Kiho e implorava repetidamente.

— Ajudem-na! Ela está machucada.

Os outros estavam mortos, um por um foram devorados pela criatura da caverna. A pequena deusa até pensou em fugir, mas em sua mente se repetiam as cenas onde sua mãe comentava que a obrigação de proteger a humanidade, era dela.

O pai da garota machucada correu como nunca havia corrido na vida, arrancado Kiho das mãos congeladas da criança.

— O que aconteceu!? — Fitou a filha inconsciente em seus braços, enquanto suas roupas eram manchadas com o sangue dela.

—Ela entrou na caverna do elfo! E-

Uma multidão já estava formada em volta deles.

— Onde estão os outros!? O que você
fez? — repetia a platéia.

O tom alvo de seus cabelos e as roupas, revelaram quem ela era.

— Eu não fiz nada.. senhor..eles entraram sozinhos! — gritou, para que sua voz fosse escutada diante de tanto murmurinho e procurou entre eles quem havia a questionado.

— Meu filho! Onde está meu filho?

— Meu menino! Diga onde está!

Todos começaram a bradar e um dos homens lançou-a em uma árvore.

Solidão, alegria, raiva e frustração, ela tinha passado por todas essas emoções, mas era a primeira vez que experimentava o medo e o desprezo.

Não era nada acalentador

— Você deveria os proteger, e agora? Como estão?  — o mesmo sujeito caminhou até a deusa.

Embora amedrontador aquele homem de braços fortes era apenas um humano, carregando fúria pelas inocentes crianças que tanto amara, algumas lágrimas escorriam dos olhos dele.

Sem resposta a oferecer, ela caiu em prantos, arrependida por não ter os salvado.

— Vocês deuses nos prometem tanto...e nada fazem, de que servem? 

No silêncio caótico, o choro das mães, agora sem filhos vivos nesta terra, foi o estopim.

— Me desculpem..— implorou, tão baixo e chorosa que apenas o homen ouviu-a gaguejar.

Ele caminhou até ela, puxando bruscamente o pequeno corpo pelo pulso, começando a esbofetear a patética divindade, que tentou se desvencilhar da agressão apenas quando os outros se aproximaram para fazer o mesmo.

Escorregou na neve e correu trêmula vilarejo a dentro, o som dos aldeões a perseguindo se aproximava cada vez mais, felizmente ela encontrou um lugar para se esconder, e assim fez.

Enquanto isso, a fera devoradora de humanos, uma entidade quadrúpede possuidora duma enorme boca e longas orelhas, tinha sido atraída para aquele lugar antes de entrar na caverna, como não seria? Tão suculentos seres capazes de procurarem sedentos uma criança para espancar, emanando ódio e destruição, aquela seria a melhor refeição que já havia comido.

Todos aldeões concentrados em achar a garotinha, não repararam na grande sombra entrando pelo portões.

Aqueles na frente, prestes a esmagar a dita culpada pela morte de seus filhos, se viraram para ver suas mulheres sendo alegremente devoradas pelo risonho diabo fechando a boca e limpando os grandes dentes com a língua

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Aqueles na frente, prestes a esmagar a dita culpada pela morte de seus filhos, se viraram para ver suas mulheres sendo alegremente devoradas pelo risonho diabo fechando a boca e limpando os grandes dentes com a língua.

Imóvel e nunca tão amedrontada, Kori observou os homens sendo comidos primeiro, depois as mulheres e por fim os jovens, ele derrubava as casas e se necessário os mastigava com roupa e tudo, fechou os olhos para não os ver a fitando, encarando quem deveria os proteger, no meio dos gritos ela implorava aos outros deuses que deviam ser seus amigos.

Salvem essas pessoas, ainda sou muito pequena, me ajudem.

Nem sequer deusa Yuree a escutou, ou, se escutou, não respondeu.

Quando tudo tinha acabado, a entidade sorridente andou em suas quatro patas enormes, balançando a cabeça, de bochechas cheias, até o portão do vilarejo, olhando nos olhos dela. Após isso, foi embora vitoriosa.

Assim, antes de desmaiar na neve ensanguentada, ao lado de um dos cadáveres, ela entendeu que sua obrigação era proteger os humanos, mas os humanos nunca a amariam, entendeu que embora fosse uma deusa, nenhum deus a considerava família e embora fosse pequena, um grande fardo estava em suas costas, o fardo de ser de duas espécies e ao mesmo tempo não pertencer a nenhuma delas.

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⏰ Última atualização: Feb 27, 2023 ⏰

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