o inverno mais frio

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O mais intenso, o mais catastrófico e o mais frio inverno, não se sabe a data exata desse dia, foi a muitos anos antes dos aparelhos que conhecemos hoje, para registrar esse tipo de fenômeno, existirem.

Mas foi um dia depois da morte da primeira deusa da purificação, todo planeta sentiu a dor da deusa da neve em perder sua grande amiga, a deusa Yure estava arrasada, mas mesmo naquele frio, uma mulher foi abençoada, ou amaldiçoada, a dar a luz.

Isso se descreve em gritos, primeiro os da mulher, de desespero, ela não poderia dar a luz sozinha, mas havia sido obrigada a ir com seu marido morar no recém construído templo da pureza, para a nova deusa da purificação, que estava em seu ventre, pronta para vir ao mundo.

Depois os gritos de um homem, o marido da mulher, que mesmo naquela nevasca se esforçou para o mais rápido possível sair do templo e chegar no vilarejo, ele chegou.

— Por favor! Itami está dando a luz! Uma parteira! — anunciou o
homem usando roupas finas, se apoiando na entrada do vilarejo, com a pouca energia que havia lhe restado, acreditem, não era muita.

Na realidade, aqueles que ali viviam não eram muito religiosos, eles sabiam da existência dos deuses e prestavam orações, mas nunca foi do fundo do coração, como resultado as proteções contra demônios daquele lugar eram fracas e só foram enfraquecendo cada vez mais, com o tempo já não
existiam, assim digamos que o templo e as cerimônias em homenagem a aquela criança era o último capricho deles na esperança de que ficassem seguros, mas ninguém ali se importava com aquela família. Eles eram estranhos, tinham se mudado para lá recentemente, seus costumes e sua fé pareciam coisa de gente de mente fraca, então ficaram felizes em os mandar para longe.

— Minha filha precisa
nascer! — continuou, e andou entre as pessoas, que olhavam umas para as outras, como se esperassem algo do outro, e não de si mesmas, aquela multidão abriu lentamente uma passagem, deixando com que ele andasse para onde tivesse de andar, e aos poucos os gritos dele não pareciam ter relevância, ninguém se prestou ao ajudar.

Existia apenas uma parteira naquele vilarejo, sua casa ficava no centro dele, mas o acesso não era muito
fácil, mesmo assim, Hidetaka foi até a pequena casa, e bateu na porta, como se sua vida dependesse disso, mas não era a dele, e sim da sua esposa e filha que estavam em risco.

— Madame Himiko! — Tossiu e bateu novamente, se esforçando para que aquele ar congelado que talvez o matasse, continuasse entrando em seus pulmões, e quando nenhuma resposta foi escutada, já não se importava mais com isso — por favor!

Uma luz se acendeu, e a sombra da mais velha ficou evidente.

Esse inverno é demoníaco Hidetaka, e eu estou velha demais para aquelas escadas, sinto
muito — respondeu friamente, apagando a luz, e não importou o quanto ele gritou, ela não voltou a aparecer.

Desamparado, escorou-se na porta e tossiu como um hipotermico em fase final, com o corpo tremendo e as lágrimas que poderiam sair dos seus olhos congeladas.

Se levantou sentindo o corpo já congelado queimar, e correu para a casa das cortesãs. Não, ele não procurava um último luxo já que evidentemente morreria, ele estava a procura da única outra pessoa do vilarejo que sabia realizar um parto, a sobrinha de madame Himiko.

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