Pedro lacrou a carta que escreveu com o selo imperial e a entregou ao seu secretário pessoal. Faziam dois anos que estava alojado no Palácio Imperatriz Hortênsia, em Vassouras. Fora exilado, por vontade própria e junto aos seus irmãos, pela própria mãe. Mas, agora, era hora de voltar ao Rio de Janeiro.
Era sobre isso que falava em sua carta. Não sobre sua vontade de voltar para casa. Não. Pedro anunciava a própria volta. Dentro de um ano seria coroado Imperador. Já era hora de lembrar ao Conselho de Estado, à Imperatriz Regente e ao governo quem era o verdadeiro governante do Brasil.
Nos últimos anos, o país sofrera com atentados terroristas recorrentes. Tudo porque, quando fez seu primeiro discurso após a morte do Imperado D. Luiz I, a população rompeu em apoio absoluto a ele. O próprio presidente, que era militar, se sentiu acuado.
— É pra abrir mesmo. Quem não quiser que abra, eu prendo e arrebento! — Dissera, quando foi perguntado a respeito da abertura política e do discurso de Pedro.
O governo estava com medo de perder o poder, era evidente. Somava-se a isso o fato de ser ano eleitoral. Era o momento perfeito para o retorno do Imperador. Levaria consigo Augusto. Seu irmão era a pessoa que mais confiava no mundo e precisaria dele quando completasse dezoito anos e finalmente ascendesse ao trono.
O único problema era Tereza. Não poderia deixar sua irmã mais nova sozinha em Vassouras. Tampouco queria leva-la para a Corte. Não considerava que o ambiente político faria bem a menina — ela tinha apenas seis anos. Tinha que achar uma solução.
— Ainda acho que ela deve ir conosco, Pedro — Augusto interrompeu o silêncio do irmão.
Estivera, durante todo o tempo, observando o jovem Imperador. Só agora decidira se pronunciar sobre a questão remanescente acerca da partida deles.
— Ela é muito nova para ficar exposta as influências de nossa mãe e do Conselho de Estado — o menino retrucou. — Já te disse isso milhares de vezes.
— Ela é muito nova para ficar longe das influências da própria mãe. — Augusto colocou a mão no ombro do irmão. — Ela só tem seis anos.
— Pensarei no assunto. — Pedro dispensou o irmão com um aceno de mão.
— É bom pensar logo — tornou Augusto. — As malas dela já estão prontas e partiremos na primeira hora da manhã.
Augusto saiu do gabinete deixando Pedro sozinho. Era melhor que ele pensasse em todos os movimentos que faria quando chegasse ao Rio de Janeiro. E isso incluiria decidir sobre levar ou não Tereza com ele. A Princesa do Brasil podia ter apenas seis anos agora, mas, em algum momento, ela iria crescer. Quando a hora chegasse, ela poderia ser uma aliada ou uma inimiga. Tudo dependeria das influencias que a cercassem.
No passado, as monarquias tinham o hábito de mandar seus príncipes e princesas para longe — longe da corte e longe uns dos outros. Isso garantia a proteção da família real em caso de acontecer algo com o monarca soberano e seu sucessor. Não raramente, entretanto, a atitude causava rixas entres esses irmãos. Eles não viam uns aos outros como família, mas como obstáculos para chegarem ao poder.
A França do Antigo Regime era o maior exemplo disso. D. Luiz I havia feito seus dois filhos estudarem sobre a rivalidade entre o rei Henrique III — último da linhagem dos Valois — e seu irmão mais novo, Francisco, o duque de Anjou. A briga entre os dois quase colocou a França numa guerra civil. Nem Augusto e nem Pedro gostariam que Tereza crescesse para se tornar uma rival do Imperador.
A grande questão era: como evitar isso? Levá-la para o Palácio Imperial de São Cristóvão roubaria dela o direito de ter uma infância quase normal, colocando-a no centro dos acontecimentos políticos do país. Deixá-la em Vassouras a afastaria da família. Colocá-la sobre a custódia de algum nobre seria voltar aos tempos do Antigo Regime.
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IMPERIAIS: O Herdeiro do Trono
Historical FictionEm um Brasil no qual a Monarquia nunca foi abolida, mas perdeu seu poder no fatídico golpe de 1964, o jovem Pedro ascende ao trono após a morte precoce de seu pai, o Imperador D. Luis I. Abalado, ele decide tornar realidade o último desejo de D. Lui...