Todos os planos mudaram

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Era manhã quando o carro adentrou os grandes portões de ferro que protegiam o Palácio Imperial. O motorista diminuiu a velocidade do veículo e estacionou entre uma estátua do imperador D. Pedro II e a pequena escada que levava à entrada do palácio. Havia se passado um bom tempo desde que Pedro olhara para a imagem que lhe dera um nome. Era engraçado como todos os imperadores de nome Pedro haviam feito história de alguma forma; ele tinha um grande legado para honrar.

O menino-imperador desceu do carro tentando afastar pensamentos intrusos e segui para o palácio acompanhado de Augusto e Tereza. Seus irmãos estavam com o semblante tão sério quanto o dele — mesmo Tereza, em sua tenra idade, parecia entender o significado daquele momento para a família. Caminharam, portanto, lado a lado. Subiram as escadas, aceitaram as mesuras e foram encaminhados até a porta da sala do Conselho de Estado, onde foram anunciados:

— Sua Alteza Imperial, a Princesa do Brasil, Tereza Joaquina Alberta Isabel Leopoldina de Orleans e Bragança.

A pequena Tereza, que estava segurando as mãos dos irmãos mais velhos, soltou-se deles e adentrou na sala. Em seguida, foi a vez de anunciarem Augusto:

— Sua Alteza Imperial, o Príncipe Imperial, Augusto César Bartolomeu Maria Xavier Gonzaga de Orleans e Bragança.

Ao ouvir seu nome ser anunciado, Augusto lançou um último olhar ao irmão, pedindo silenciosamente que ele não fizesse nada inconsequente. Pedro retribuiu o gesto, enquanto esperava seu nome ser chamado.

Os pequenos segundos que sucederam o anúncio de Augusto e o seu próprio pareceram uma eternidade, deixando que sua mente vagasse pelos planos feitos pela Imperatriz. Ela ordenara a volta imediata dos três ao Rio de Janeiro, contudo, pouco havia explicado sobre o que aconteceria uma vez que estivessem novamente reunidos no palácio. Pedro nem sequer tivera a chance de conversar com ela antes de ser anunciado ao Conselho de Estado. As ordens haviam sido claras: voltar imediatamente; se encontrar com o Conselho assim que chegassem.

— Sua Majestade Imperial, o Imperador, D. Pedro IV.

Levou alguns segundos para que Pedro percebesse que estavam chamando seu nome. Era anunciado assim havia dois anos, mas não conseguira acostumar-se com o título ainda.

Entrou bem devagar na sala que outrora fora do pai. Todos estavam em pé e a cadeira atrás da mesa estava vazia. Sua mãe, a Imperatriz, acenou com a cabeça para que ele ocupasse seu lugar de direito. O menino-imperador lançou um longo olhar para a mãe e dirigiu-se para o posto de seu falecido pai. A última vez que estivera naquele mesmo gabinete, naquela mesma posição, com a Imperatriz Hortênsia e os Conselheiros de Estado a lhe observarem, ele havia ameaçado a ordem vigente tal qual um adolescente rebelde e revolucionário. Obviamente, fora exilado por isso. Agora, chamado de volta e teria que ter muito cuidado ao se movimentar naquele tabuleiro de xadrez que era a frágil política do Império do Brasil. Infelizmente, os movimentos que faria teriam que emular os de sua própria mãe naquele primeiro momento. Afinal, ela era a Rainha, a peça mais importante; a escolhida para proteger o Rei até que a vitória fosse possível.

— Boa tarde — disse tranquilamente enquanto sentava-se, ao que todos o imitaram. — Imagino que esta reunião seja para discutirmos os assuntos de minha coroação como Imperador...

— Sobre isso, Majestade... — Bueno estava hesitante, como se fosse o portador de notícias ruins — O Conselho acredita que não seria bom nos apressarmos para que vossa Majestade assuma o trono logo quando completar dezoito anos.

— E por que o Conselho pensa assim, Bueno?

Pedro olhou diretamente para o homem quase careca, com idade para ser seu pai, e que estava no Conselho de Estado desde que se entendia por gente. Por alguma razão, Bueno tremia a todos os olhares de Pedro.

IMPERIAIS: O Herdeiro do TronoOnde histórias criam vida. Descubra agora