Deus salve a Democracia!

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O dia de hoje ficará para sempre marcado em nossos corações e em nossas memórias. — O presidente do Brasil fazia esse discurso pela quarta vez naquele mesmo dia, mesmo assim, Pedro o assistiu até o fim, mais uma vez: — Hoje é o dia em que o luto pela perda de um grande líder acinzenta nossas vidas. Entretanto, hoje também é o dia em que a esperança de uma nova era brilha no horizonte. Perdemos nosso Imperador, mas ganhamos a renovação do ciclo da vida. Por isso, povo brasileiro, que os convido a dizer comigo as palavras que prenunciam uma nova era no Império do Brasil: Deus salve o Imperador, D. Pedro IV.

Ele desligou a televisão, por fim. Era estranho ser chamado D. Pedro IV. Era estranho ser Imperador. Impossível de aceitar, até. Seu pai dedicou os últimos quinze anos para prepará-lo para o dia em que se sentaria no trono, mas ele nunca o preparou para aquilo: a dor da perda.

Luiz nunca lhe dissera como doía ver seu mundo desmoronar e ainda carregar a responsabilidade de ser um líder para a própria nação. Ter que superar o luto para assumir o lugar do pai era o maior dos sacrifícios que fizera, até então, pela monarquia. Talvez esse fosse o preço por ser escolhido por Deus para governar. Um truque muito cruel, inclusive.

Em sua dor, o menino começou a se lembrar de todos os seus estudos sobre monarquias ao redor do mundo. O poder havia separado famílias, posto irmão contra irmão, numa guerra sem fim. Como tudo aquilo fora possível? Como Príncipe Imperial, primeiro na linha de sucessão ao Império do Brasil, seu maior desejo era jamais ser coroado Imperador. Não se isso significasse o sacrifício do norte da sua vida.

Recomeçou a chorar, sem nem perceber.

— Enxugue suas lágrimas — disse uma voz atrás dele — e se recomponha. Você tem um discurso a fazer.

— Você só pensa nisso não, é? — O menino virou-se e olhou para a mãe, parada perto da porta de seu quarto. — Você nem está triste com a morte do papai, está?

Hortênsia ficou calada, observando as lágrimas que caíam dos olhos de seu primogênito.

— Me responda! — Gritou o menino.

A Imperatriz, por fim, entrou no quarto e quebrou seu silêncio.

— A morte de seu pai me dilacerou — ela começou. — Nós estávamos juntos desde os catorze anos. Seu pai era meu melhor amigo e ninguém me conhecia melhor do que ele. Eu não faço ideia de como será minha vida sem ele, mas eu tenho obrigações como Imperatriz que eu não vou deixar de cumprir. — À medida que falava, o tom de sua voz ficava mais alto e ela ficava mais imponente. — E a minha maior obrigação, neste momento, é garantir que a transição do poder ocorra sem ameaças ao seu reinado. Minha maior obrigação é a garantir a sua consolidação como Imperador, exatamente como seu pai gostaria que acontecesse.

Hortênsia parou por um momento observando o impacto de suas palavras sobre o filho. Pedro ficava menos rebelde a cada palavra. As lágrimas já haviam parado de cair e quase não havia sinais de um menino que perdera o pai no dia anterior. Era desse jeito que Hortênsia o queria: um menino que mostrasse sua força como Imperador, como soberano em sua nação.

— Então, faça um favor a si mesmo e à Coroa e se recomponha e vá para frente das câmeras fazer seu discurso — ela disse, por fim.

Pedro entendia o que a mãe dizia, mas ainda achava absurdo o que ela queria que ele fizesse. Achava absurdo a maneira como ela se portava diante da morte do marido. Se o próprio povo brasileiro estava chorando pelo Imperador que se fora, por que ele tinha que ser forte quando perdera seu pai?

— Pedro — chamou sua mãe, quando já estava saindo do quarto —, você não é mais um garoto, agora você é um Imperador — ela disse, como se lesse os seus pensamentos.

IMPERIAIS: O Herdeiro do TronoOnde histórias criam vida. Descubra agora