Capítulo 04 -Desenhos de dor

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Ângela chega à mesa e nota imediatamente a ausência de seu celular, sentindo uma pontada de preocupação se espalhar por seu peito ansioso.

- Mãe, você tirou meu celular da mesa? - Ângela pergunta, tentando conter a ansiedade em sua voz.

Suzana, com um semblante cansado e uma pitada de irritação, olha para cima da pilha de papéis em sua frente.

- Sim, Ângela, você não está dormindo por causa do celular, então eu decidi confiscá-lo por três dias. - Responde Suzana, sua voz fria e autoritária.

Ângela se sente surpresa e um pouco magoada com a resposta de sua mãe, lutando para expressar sua frustração.

- Mas, mãe, eu... - Ângela tenta argumentar, mas é interrompida abruptamente por Suzana.

- Nada de "mas", Ângela. Já está tarde, vá dormir. - Suzana corta Ângela, sua decisão final.

Com um suspiro pesado, Ângela abaixa a cabeça e vira-se para sair da sala, sentindo-se triste e impotente diante da rigidez de sua mãe. Seus passos são rápidos e pesados enquanto ela corre de volta para o quarto, uma mistura de tristeza e raiva borbulhando dentro dela.

Ângela se joga na cama, abraçando seu travesseiro com força enquanto lágrimas começam a escorrer pelo seu rosto. Ela sente um vazio dentro de si, como se uma parte dela estivesse faltando sem o conforto do seu celular. Com um suspiro, ela olha para o teto, desejando poder se perder nos mundos virtuais que seu celular oferecia, onde ela se sentia livre para ser quem quisesse, longe das restrições e do controle de sua mãe.

Enquanto tenta encontrar alguma forma de escapar dessa sensação de prisão, Ângela pega seu bloco de desenho e começa a rabiscar freneticamente. Enquanto outros adolescentes escrevem em diários como forma de desabafo, Ângela desenha várias vezes ao dia, tentando se acalmar e liberar o acumulo de emoções negativas que sentia. Ela esconde esses desenhos de sua mãe, o que é uma tarefa extremamente difícil, pois sua mãe é muito detalhista e está sempre atenta a cada canto do quarto de Ângela.

A caneta desliza sobre o papel, traçando linhas e formas que refletem a turbulência de suas emoções. Desenhar sempre foi sua forma de lidar com o desespero, uma maneira de expressar o que as palavras não conseguem capturar. Ela desenha paisagens imaginárias, personagens fictícios e criaturas mágicas, cada traço uma tentativa de escapar da realidade opressora que a cerca.

Enquanto mergulha no mundo de suas criações, Ângela sente um leve alívio, como se suas preocupações se dissipassem por um breve momento. Ela se concentra nos detalhes de cada desenho, deixando-se levar pela sensação reconfortante de liberdade que eles proporcionam. Mesmo que seja apenas temporário, é o suficiente para acalmar sua mente agitada e trazer um pouco de paz ao seu coração atribulado.

Suzana, mãe de Ângela, costumava olhar com desdém para os desenhos de sua filha. Para ela, os traços coloridos no papel não passavam de uma fraqueza, uma fuga das responsabilidades e do mundo real. Suzana acreditava firmemente na ideia de que Ângela deveria focar em coisas mais práticas e úteis, como os estudos e as atividades extracurriculares.

Quando descobria os desenhos escondidos de Ângela, Suzana não hesitava em rasgá-los sem piedade. Para ela, era uma forma de ensinar à filha que a vida não é feita de fantasia e ilusões, mas sim de trabalho árduo e responsabilidade. Mesmo que isso deixasse Ângela devastada, Suzana estava determinada a moldar sua filha de acordo com seus próprios padrões de excelência e sucesso.

Essa atitude destrutiva de sua mãe deixava Ângela ainda mais isolada e desamparada, sem um lugar seguro para expressar suas emoções e escapar das pressões que enfrentava diariamente.

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