— Oi filha, cheguei! — Diz Suzana, mãe de Ângela. Suzana se encontrava totalmente ansiosa para ouvir a primeira impressão de sua filha em um ambiente que a mesma não conhece (a escola). Suzana pousa as sacolas de compras na cadeira mais próxima que encontrou enquanto a ansiedade permeava cada poro dela por notar que em 1 minuto Ângela não mostrou sequer um mínimo sinal de vida — Filha? Ângela? — Grita a mãe preocupada dando passos firmes e rápidos enquanto marca o ambiente em seu redor com o som de seus saltos a baterem sobre o piso de madeira.
Preocupada, Suzana sobe apressadamente as escadas, desfazendo o acessório que prende seus cabelos castanhos e lisos. O solto de suas madeixas dança sobre suas costas enquanto ela sobe desesperadamente, quase escorregando e agarrando-se ao corrimão para evitar um acidente. As risadas distantes das crianças na rua permeiam o ar, proporcionando um contraste perturbador com a atmosfera carregada de tensão que paira dentro da casa. Chegando finalmente ao corredor, Suzana dá três leves toques na porta de Ângela, não dando tempo para uma resposta. O rangido da madeira ao abrir-se ecoa pelo corredor, criando um som agudo e melancólico. Movida pelo desespero, Suzana abre a porta lentamente, esticando o pescoço para dentro, deparando-se com um volume sob o cobertor, pertencente à própria filha.
—Você está bem, filha? — Pergunta Suzana, preocupada, lançando um olhar minucioso a Ângela. O silêncio na sala é interrompido pelo leve ruído do vento soprando pelas frestas da janela entreaberta, criando uma melodia suave e triste.
— ... — Ângela não responde, apenas inspira forte, deixando lágrimas caírem sobre seu rosto. Suzana, mais preocupada, abre a porta por completo, sentando-se magicamente ao lado de Ângela. O estalar do assoalho sob o peso de Suzana se mistura ao som distante de um rádio que toca uma música nostálgica. Ela passa a mão sobre o ombro da filha e, após um suspiro, oferece um sorriso fraco.
— Ângela, não precisa me esconder nada. Há algo específico que queira me contar? Quer conversar? — Suzana pergunta com preocupação, acariciando o ombro da filha com delicadeza. O relógio na parede emite um tique-taque constante, marcando o tempo tenso no quarto.
Ângela apenas abana a cabeça, indicando que não deseja falar. Suzana faz uma careta confusa, conhecendo o suficiente sua filha para perceber que ela claramente mente e que está tão mal quanto uma formiga sem seu grupo.
— Filha, eu entendo que não queira falar... mas estou aqui para te ouvir caso deseje fazer isso. — Suzana diz em tom calmo e compreensivo. O som do vento lá fora intensifica, criando uma sinfonia de suspiros que ecoam pela sala.
Sem dizer nada, Ângela tira o cobertor e abraça sua mãe, ainda com o rosto molhado. O rangido suave do sofá à medida que elas se acomodam cria uma harmonia discreta. As bochechas da garota loira contornam o peito de sua mãe, e em questão de segundos, marcas de lágrimas mancham a blusa de Suzana. Quando Ângela ergue a cabeça, Suzana nota as lágrimas.
— Ângela, tem certeza que não quer conversar? Você está chorando... — Suzana observa o rosto molhado de sua filha. - Faça como quiser. Quando quiser conversar, estarei aqui. —Ela passa o polegar sobre a pálpebra inferior de Ângela, secando as lágrimas. —Quando se sentir melhor, desça para jantar, pode ser? — Notando que sua filha sorriu como resposta, Suzana retribui com um sorriso leve e aproxima seu rosto do de Ângela, selando a testa dela com um beijo calculado e minimalista. Suzana levanta-se da cama e caminha até a porta rapidamente. — Ah, já ia me esquecendo. Não esqueça de tomar seus remédios, dois azuis e um verde.
No silêncio pós-abraço, Ângela desliza para o sofá da sala de estar, onde a penumbra ganha vida com a suavidade do carpete sob seus pés. A respiração constante de Suzana é a trilha sonora que envolve o ambiente, criando uma ligação entre a preocupação materna e a quietude da noite que se desenha lá fora. O farfalhar suave das folhas ao vento e o distante coaxar dos grilos preenchem o espaço, fundindo-se com os murmúrios distantes da cidade.
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Superficial
Misteri / ThrillerEm uma cidade pequena denominada Bogintoon, vivia Ângela juntamente com Suzana, sua mãe. Desde sempre Ângela nunca interagiu com as outras crianças, não porque não queria, mas porque não conseguia, Ângela vivia isolada em sua propia casa e todas as...